COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Carlos Henrique Silva, com informações da equipe da CPT Regional Paraná

Em meio às limitações ocasionadas pela pandemia da Covid-19 e por um desgoverno que negou seus impactos e promoveu a perda de direitos básicos, diversas famílias da cidade de Curitiba (PR), incluindo migrantes, pessoas refugiadas e povos em situação de retomada de territórios, passaram por dificuldades de emprego e renda. 

Por outro lado, a pouco mais de 40 quilômetros de distância da capital do Paraná, pequenos agricultores e agricultoras da zona rural do município de Mandirituba sentiam o impacto da falta de incentivo e de políticas públicas para a produção agroecológica e a dificuldade para o escoamento da sua produção.

Foi quando um grupo de jovens de Curitiba iniciou uma campanha para levantar recursos, por meio de uma vaquinha virtual, e para arrecadar alimentos a serem destinados àquelas pessoas mais vulneráveis e em situação de fome no município. E assim se formou uma rede de apoio que uniu o campo e a cidade e que, com o passar do tempo, só fez crescer e se fortalecer. 

A partir da rede, cerca de 40 pessoas, entre jovens, adultos(as) e crianças do campo e da cidade construíram o Mutirão contra Fome e pela Soberania Alimentar. Por meio do trabalho coletivo, o grupo cultiva a terra na perspectiva agroecológica e reflete sobre temas fundamentais para a vida dos povos da cidade, do campo, das águas e das florestas. A ação conta com o apoio de diversas organizações sociais, como a Comissão Pastoral da Terra no Paraná, a Associação Brasileira de Amparo à Infância (ABAI) de Mandirituba, a fundadora e alguns funcionários da instituição Vida para Todos, a Coopervida, o Grupo de Mulheres do Comitê Contra a Fome de Mandirituba  e outros coletivos de mulheres que trabalham com reciclagem, além de estudantes universitários.

 

 

Como o Mutirão se organiza - Com a experiência, as pessoas saem do seu lugar de apenas receber doações e se encontram para, juntas, plantar alimentos, partilhar e refletir sobre a realidade em que vivem. Por meio de um grupo criado num aplicativo de mensagem instantânea, as pessoas combinam o Dia do Mutirão” na casa de uma família agricultora específica. E aí cada pessoa se compromete com uma função: quem tem carro, oferece carona; algumas pessoas organizam a logística do transporte e dos alimentos; outras, assumem o preparo do almoço; outras, contribuem para fazer os canteiros, plantar e colher; há quem cuide das ferramentas, da limpeza dos banheiros e há quem organize a cozinha. 

Assim, a juventude urbana, que também estava sendo impactada pela pandemia, encontrou uma saída para transformar a realidade no contato com a terra, na perspectiva da agroecologia, do cooperativismo e da solidariedade junto com as famílias agricultoras. O Mutirão sempre é encerrado com uma roda de conversa sobre temas como a fome, a destruição da natureza, a desigualdade social, o racismo, o preconceito e o que o grupo unido pode fazer para transformar ainda mais a realidade danificada pelo sistema econômico de mercado.

O diálogo entre campo e cidade não é só de aprendizado das técnicas de plantio e colheita. “Ali, vamos percebendo o que temos em comum, o que o sistema faz com cada sujeito, e que precisamos dar passos coletivos para transformar a realidade, pois somente plantar e distribuir alimentos não muda a realidade. Precisamos entender porque cada dia tem mais gente empobrecida, doentes e dependentes, e juntos encontrar caminhos. Por isso, a Roda de Conversa dos Saberes, que acontece em todos os encontros, é fundamental", ressaltam os membros da equipe da CPT no Paraná.

 

Desafios que permanecem - Mesmo com o fortalecimento da integração na direção do combate à fome e na construção do bem comum, os desafios ainda são grandes e demandam união para fazer valer o processo já consolidado. Algumas necessidades ainda precisam ser superadas, como a aquisição de recursos para manter o transporte dos(as) participantes, principalmente das comunidades vulneráveis; e a ampliação do cultivo de mudas, do acesso a insumos naturais, de ferramentas e de outros implementos. 

“Os desafios são grandes porque é necessário pensar e construir um outro jeito de existir, em que todos e todas tenham lugar e vida digna, com suas diferenças respeitadas e valorizadas. Precisamos compreender e sentir que somos parte da natureza e não exploradores dominadores. A natureza é nosso bem comum e devemos cuidar para que ela cuide de nós”, complementa a equipe.

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