Fernando era sobrevivente e testemunha do Massacre de Pau D’Arco, ocorrido em 24 de maio de 2017, no mesmo local onde foi assassinado. As investigações, que duraram onze meses, foram encerradas sem as respostas esperadas, como a identificação da causa e dos mandantes.
Foto: Cauê Angeli/Repórter Brasil
Leia a nota na íntegra:
Dois anos sem Fernando
Fernando dos Santos Araújo, era um dos sobreviventes do Massacre de Pau D’arco ocorrido em 24 de maio de 2017, no qual 10 trabalhadores (nove homens e uma mulher), de forma covarde, cruel e sem nenhuma chance de defesa, foram assassinados por policiais civis e militares no interior da Fazenda Santa Lúcia, localizada no município de Pau D’arco no Estado do Pará.
Por duas vezes sobrevivente, já que em 20 de setembro de 2020 foi vítima de uma tentativa de assassinato, Fernando teve de lidar com as consequências da violência e impunidade presentes na região, assombrado pelo medo, sendo vítima de constantes ameaças.
As lembranças daquele 24 de maio sempre estiveram presentes na memória de Fernando, não apenas por saber que era uma das principais testemunhas, mas, sobretudo, pela dor de ter visto seus amigos e seu companheiro sendo torturados e brutalmente assassinados pela polícia.
Na noite do dia 26 de janeiro de 2021, Fernando foi morto com um tiro na nuca, dentro de sua casa, localizada no Acampamento Jane Júlia, enquanto se preparava para deixar o lote que havia sido vendido. Após 11 meses, as investigações foram encerradas, porém, sem as respostas esperadas - a causa e os mandantes não foram identificados pela polícia.
O executor do crime, segundo apontaram as as investigações é Oziel Ferreira dos Santos. Oziel, conhecido como “Negão da Lôra”, foi denunciado pelo Ministério Público do Estado do Pará pelo homicídio de Fernando e aguarda julgamento pelo Tribunal do Juri, já tendo sido pronunciado pelo Juiz Criminal da Comarca de Redenção (PA) no início de dezembro de 2022.
Após um pedido da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH), um novo procedimento para tentar identificar as causas e os mandantes do crime foi reaberto pelo Ministério Público Estadual e corre em sigilo.
Infelizmente hoje fazemos memória a mais um caso, que está alocado sob o manto da impunidade no Sul do Pará, mais um caso em que famílias aguardam por justiça, mais uma voz calada e mais dois anos sem Fernando.
Fernando dos Santos Araújo, Presente!
Pará, 26 de janeiro de 2023.
Comissão Pastoral da Terra – Regional Pará