COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

A Carta Pastoral “Uma Igreja da Amazônia em conflito com o latifúndio e a marginalização social” que Pedro publicou por ocasião de sua ordenação episcopal em outubro de 1971, colocava a nova prelazia de São Félix do Araguaia no contexto da Amazônia, pois a região não era parte da região geográfica considerada região amazônica, mas fazia parte da Amazônia Legal. Um conceito político para o governo planejar e promover o desenvolvimento da região.

(Antônio Canuto – membro fundador da CPT, amigo de Pedro)

A Carta Pastoral denunciou como a política de desenvolvimento da Amazônia com fartos incentivos fiscais afetava diretamente as comunidades camponesas formadas por famílias de posseiros e os povos indígenas. E mostrava como essa política favorecia a contratação de mão de obra de outras partes do país e que era submetida a condições análogas ao trabalho escravo.

A Carta Pastoral expressava a visão ampla da realidade amazônica que Pedro tinha.

A preocupação com a Amazônia, o bispo Pedro já a demonstrara alguns meses antes de sua ordenação. Em maio de 1971, quando era Administrador Apostólico da Prelazia, visitou, em Goiânia, o arcebispo Dom Fernando Gomes. A ele expôs, segundo escreveu em seu diário, suas “preocupações: Transamazônica, Latifúndio, Deportação, Atendimento pastoral precário e provisório aos grupos humanos envolvidos”. Na ocasião ele propôs que Dom Fernando sugerisse à CNBB nacional um estudo sobre o latifúndio no país e a realização de um encontro de bispos e prelados da região afetada pelo fenômeno Amazônia.

Pouco tempo depois, de 14 a 16 de julho, realizou-se no Rio de Janeiro um seminário sobre Pastoral da Amazônia, do qual ele participou. Sobre este seminário, ele escreveu: “foi uma boa constatação da problemática sócio pastoral da Amazônia. Agora a Comissão Representativa da CNBB, que vai reunir-se em agosto, terá que se pronunciar com detalhes concretos e eficazes”. E acrescentava: “Durante o Seminário, insisti no perigo de se valorizar mais a Transamazônica do que a própria Amazônia. Comprovamos todos que há um certo medo da Igreja ‘oficial’ na hora de se manifestar em relação aos problemas sociais agudos. Há muita ‘politica’ chamada prudência, talvez sincera, talvez ingênua, talvez covarde e demasiadamente comprometida”. Sua Carta Pastoral praticamente era uma resposta que ele dava às atitudes assumidas pela Igreja e que ele criticava.

Depois de ordenado bispo, em maio de 1972, ele, juntamente com Dom Tomás Balduino e o padre Francisco Jentel, participou em Santarém do Encontro de Pastoral dos Regionais Norte |I e Norte 2 da CNBB, com alguns representantes do resto da Amazônia Legal. Foi um encontro de sete dias na última semana de maio. Ele escreveu no seu diário no dia 3 de junho de 1972, que foi um bom encontro ainda que discreto quanto à visão, como motor de arranque para uma nova caminhada (“discreto de visão e de arrancada”, registrou). “Foi uma ótima oportunidade para conhecer de perto a natureza e a hierarquia da Amazônia pura”, disse.

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Pedro continuava pensando que os problemas da Amazônia deveriam ser enfrentados pela igreja como um todo. Assim, Dom Tomás Balduino escreveu para uma revista italiana quando Pedro completou 80 anos.

“Em 1974, por ocasião da Assembleia da CNBB em Itaici, dom Pedro propôs a um grupo de bispos um encontro sobre a Amazônia, prioridade da política governamental. Já desde então Pedro via a Amazônia como símbolo de uma realidade muito grande, complexa e conflitiva, de caráter sócio-político-cultural-econômico e religioso, de dimensão nacional e latino-americana. Hoje ela conquistou ainda mais peso, atingindo uma dimensão planetária”.

A insistência de Pedro encontrou resposta. No ano de 1975, era convocada uma reunião de Bispos e Prelados da Amazônia para debater os problemas que a região enfrentava. A reunião se realizou em junho de 1975, em Goiânia, e deu origem à Comissão Pastoral da Terra.

Os problemas da Amazônia, de lá para cá, cresceram e mereceram a realização de um Sínodo específico convocado pelo papa Francisco e que se realizou no ano passado no Vaticano. As condições de saúde não lhe permitiram participar, mas de certa forma foi a concretização dos seus sonhos.

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