Teia dos Povos divulga Carta, reafirmando a necessidade de reconexão com a mãe terra, de unir forças na luta pela terra e território e chamando à união dos povos e movimentos sociais e representativos, na luta contra o imperialismo, nefasto à natureza e aos saberes populares. "É preciso enfrentar o capitalismo e o imperialismo; compreender que é necessária uma luta árdua de todos os Povos para enfrentar essa crise civilizatória imposta pelo capitalismo. Porque além de se apropriar de tudo, o capitalismo transformou tudo em mercadoria, individualismo, egoísmo e consumismo. Construiu no seio da humanidade uma luta de classe feroz e destruiu a função do trabalho, que outrora aqui e em África era para construir a vida e a vida em abundância para todos e todas. O capital se apropriou do trabalho e deu a ele a função da escravidão e da acumulação de todo o trabalho desenvolvido pela humanidade. Então estamos numa sociedade capitalista de classe que impôs para toda humanidade a força e o seu modo de vida escravocrata e destroi todos os seres da natureza. Impôs a guerra para que todos que não concordam com esse modo de vida sejam destruídos". Confira a Carta na íntegra:
(Foto: Ramon Rafaello)
Companheiras e companheiros da Teia dos Povos,
Apoiadores e apoiadoras das lutas dos povos no Brasil e no Mundo,
Com a licença de nossos encantados,
Nosso profundo respeito àqueles que tem a missão de cuidar e guardar as sementes. A essas mulheres e homens todo nosso respeito, pois estão guardando consigo a força da vida!
Nós da Teia dos Povos estamos reafirmando todo tempo que é preciso voltar ao princípio e às coisas simples para reconectar com a mãe terra. Dentre os princípios está lutar e guerrear para que a terra volte a mão dos que verdadeiramente cuidam e a amam. A terra tem que retornar para os Povos originários, para os Povos da diáspora africana que foram trazidos de sua terra natal. A questão preta/negra não será resolvida simplesmente com a palavra “liberdade”, ela é utópica/idealista. É muito bom sonhar com a liberdade, mas a liberdade sem a terra não existe, por isso a importância da aliança negra, indígena e popular.
Para esses Povos a primeira palavra de ordem é Terra e Território. Com a terra e o território construímos nossa existência, nossa autonomia que é o princípio básico de um povo livre. A tarefa a seguir é discutir como vamos fazer a reprodução de nossas vidas e de todos os seres da natureza? Veja, nenhum de nós somos separados. Como seres da terra estamos intrínsecos com a natureza e espiritualidade, somos um ser completo com os elementos da natureza. Nada está separado. Essa harmonia só é possível se prosseguirmos com a vida humana na terra. Nosso trabalho não é para dar continuidade à escravidão nem tão pouco para produzir mercadoria para o capital. Nossa função com a Terra e o Território é a responsabilidade com a grandiosidade da vida. Todo nosso esforço é para cuidar e um bom cuidador sempre será um bom semeador. Por isso precisamos semear a semente da vida.
Os Maxacalis vivem intensamente a força da espiritualidade – as sementes, os animais, os bichos, as árvores, todos são espíritos. Eles entendem que os espíritos têm a função de cuidar e de proteger a terra e todos que nela habitam. Sendo assim, cada vida doa sua própria força para os demais seres, conforme as necessidades de cada um. Com esse renascimento constante, o espírito continua vivo. Não há morte. Encanta-se. Como diz o poeta “se alguém tem que morrer tem que ser pra melhorar”. É o que pode ser observado na floresta: quando uma grande e frondosa árvore completa seu ciclo, ela sai de cena, permitindo que o sol e sua matéria fortaleçam as árvores mais novas. Então esse é o princípio das vidas harmoniosas com a natureza.
Nesse período de pandemia, tod@s estão perguntando “o que fazer”. Todos querem respostas imediatas. No capitalismo, comandado pelo imperialismo, eles cortaram toda relação harmoniosa com a natureza. Na América se exterminou quase todo povo originário, escravizou boa parte do Povo africano, com sua ganância e sua acumulação aprofundou o apartheid e as relações de mulheres e homens sábios que viviam intrinsecamente ligada a terra, ao território e a natureza.
Por isso, para o momento que vivemos é preciso enfrentar o capitalismo e o imperialismo; compreender que é necessária uma luta árdua de todos os Povos para enfrentar essa crise civilizatória imposta pelo capitalismo. Porque além de se apropriar de tudo, o capitalismo transformou tudo em mercadoria, individualismo, egoísmo e consumismo. Construiu no seio da humanidade uma luta de classe feroz e destruiu a função do trabalho, que outrora aqui e em África era para construir a vida e a vida em abundância para todos e todas. O capital se apropriou do trabalho e deu a ele a função da escravidão e da acumulação de todo o trabalho desenvolvido pela humanidade. Então estamos numa sociedade capitalista de classe que impôs para toda humanidade a força e o seu modo de vida escravocrata e destroi todos os seres da natureza. Impôs a guerra para que todos que não concordam com esse modo de vida sejam destruídos.
Para enfrentar esse inimigo não será fácil, será necessário a unidade dos Povos Originários e Pretos e as organizações das classes trabalhadoras para que assumam a responsabilidade de ressignificar a vida no planeta terra. Agora mais do que nunca, as mulheres e a juventude têm o papel fundante nessa história para o comando dessa luta – derrotar o capitalismo e imperialismo e no seu escombro construir outra perspectiva de civilidade. As mulheres já estão no comando, tomando a frente na organização e no cuidado de suas comunidades e a juventude tem a força necessária para estar na linha de frente. Sendo assim, precisamos semear a semente da esperança, a semente da vitória do Povo! Que possamos carregar as sementes para construir a nova sociedade tão sonhada para as velhas e novas gerações. Ao comando, mulheres, jovens e crianças!