Abertura do Encontro dos Povos do Cerrado aconteceu na noite desta última quarta-feira. Evento segue até amanhã, quando, no início da noite, começa a preparação para a 1ª Romaria Nacional do Cerrado.
(Por Coletivo de Comunicação do Cerrado | Imagens: Mídia Ninja)
Era noite, por volta das 19 horas, quando teve início a celebração de abertura do grande Encontro dos Povos e Comunidades do Cerrado. O local escolhido para esse momento especial foi o campo de futebol do Colégio Pio X, no Centro de Balsas, Maranhão. Ao som da canção “entra na roda com a gente, você também é muito importante”, as pessoas formaram uma grande roda, que logo extrapolou os limites do campo. São cerca de 700 participantes oriundos de comunidades do Cerrado de nove estados brasileiros: Bahia, Goiás, Tocantins, Piauí, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rondônia, e daqui do Maranhão.
As canções populares embalaram esse encontro de pessoas e de culturas. Uma celebração, sobretudo, da vida que resiste aos conflitos e impactos que atingem diariamente o Cerrado e as pessoas que ali vivem. Padre Nadir Zanchet, vigário geral da Diocese de Balsas, ao dar as boas-vindas aos participantes do Encontro, fez memória a Dom Helder Câmara, “bispo do Nordeste” – momento em que foi muito aplaudido pelo povo. “Bem-vindos lutadores e lutadoras, profetas de um novo Brasil. Povos do Cerrado, construtores de uma nova história”, disse. “Para o ilegítimo governo [Temer], vocês são invisíveis, mas para nós, organizações e igreja, vocês são o povo de Deus”, afirmou o religioso. Zanchet, ao fim de sua fala, ressaltou a todos e todas que “nestes abençoados dias, nós construiremos, juntos, uma aliança que não pode morrer. Uma aliança pela vida do Cerrado e pelo avivamento das fontes de água que brotam desse bioma”.
E no campo de futebol, para representar uma cachoeira, foi instalada uma grande estrutura com água corrente. Ao som da música “Planeta Água”, cinco jovens carregavam faixas com nomes de rios do Cerrado escolhidos para representar espaços de discussão no Encontro [Rios Parnaíba, Balsas, Tocantins, Araguaia, Paraguai, e São Francisco]. Todos e todas foram convidados/as a repetirem o lema do Encontro e da 1ª Romaria Nacional do Cerrado: “Bendita és tu, ó Mãe Água, que nasces e corres no coração do Cerrado, alimentando a vida”.
Mesa de abertura
Animadas e animados pelos cânticos populares que falam dos povos, suas lutas e histórias, teve início a mesa de abertura do Encontro dos Povos e Comunidades do Cerrado. A fala de abertura foi de uma mulher, Lourdes Francisco, lutadora das comunidades atingidas por barragens no Norte de Minas Gerais. Ela falou sobre o processo de expulsão de famílias promovido pela Vale, que, segundo ela, é responsável por grilar terras em sua comunidade. A partir de 2009, conforme Lourdes, com o trabalho da Comissão Pastoral da Terra (CPT), a comunidade passou a ter consciência de seus diretos, passando a se organizar para lutar por suas terras. Depois disso, a comunidade se integrou ao Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), apoiando a organização da comunidade, fortalecendo assim suas lutas. A comunidade tem lutado pela regularização do seu território quanto à proteção do Cerrado, que é destruído na região tanto pelo agronegócio quanto pela mineração e, por último, por uma termoelétrica que está sendo construída na região.
Equipe de animação durante a abertura do Encontro dos Povos e Comunidades do Cerrado. Foto: Mídia Ninja
Altamiran Ribeiro, da CPT no Piauí, iniciou sua fala conclamando o povo para repetir o lema da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado: “Sem Cerrado, Sem Água, Sem Vida”. A partir disso, ele então passa a relatar os diversos processos que promovem a devastação do Cerrado e da água, e, assim, a expulsão das comunidades tradicionais de seus territórios, seja pelo agronegócio e/ou a mineração. Ele ressaltou ainda que manter o “Cerrado vivo é necessariamente manter os povos que defendem com suas vidas a manutenção da vida no bioma. Ao contrário das empresas do agro e hidronegócio, que exploram as riquezas dos solos e do subsolo, as comunidades mantêm o Cerrado preservado, pois dele que depende sua existência e a sua relação com as terras envolve muito além da dimensão econômica”, contextualiza. Ao finalizar, o agente da CPT conclama as/os participantes do Encontro do Cerrado para que apoiem e se somem à Campanha Nacional em Defesa do Cerrado, cantando coletivamente “Tire a tua sandália, tire a tua sandália, o chão que tu pisas é Cerrado, Terra Sagrada”.
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Para finalizar a mesa de abertura, Dom José Valdeci, bispo da Diocese de Brejo, no Maranhão, convidou o povo para cantar “Ordem e Progresso”. Após isso, relembrou a sua vinda para o Encontro, passando por várias regiões onde a destruição provocada pelo agronegócio transformou o Cerrado em pastagens para o gado e em monoculturas, como a soja e o eucalipto. Ele também abordou os impactos causados pelas usinas de energia eólica e a mineração, “que atingem de maneira muito cruel as comunidades tradicionais”. Ainda conforme o bispo, em algumas regiões do estado, a aplicação de agrotóxicos sobre as casas e cultivos das comunidades.
Ainda segundo Dom Valdeci, refletir sobre o Cerrado é também analisar e entender os riscos para as comunidades tradicionais e para o bioma – impactos que partem, por exemplo, do projeto do MATOPIBA [Plano de Desenvolvimento Agropecuário do MATOPIBA, que atinge os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia]. O bispo de Brejo concluiu sua fala ressaltando a importância das organizações pastorais e organismos, que têm o papel de apoiar a luta das comunidades tradicionais por seus territórios e pelo Cerrado, “estando junto com estes irmãos e irmãs, nas lutas em defesa da vida, em defesa da criação, como nos fala o Papa Francisco, sobre uma ecologia integral, que respeita a vida, onde os seres humanos têm a maior responsabilidade, de zelar pela vida humana, de zelar pela criação”.
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