A Comissão Pastoral da Terra (CPT) divulga Nota de Pesar pelo falecimento de François Houtart, sociólogo conhecido por sua atuação junto aos movimentos populares, principalmente da América Latina, e que nos deixou na terça-feira. No documento, a Pastoral destaca que "sua passagem pela vida deixa rastros profundos que a história não poderá apagar. Diante da sua morte, nenhum minuto de silêncio, mas uma vida de luta". Confira na íntegra:
A CPT se une a todos e todas que pranteiam a morte do grande pensador, sociólogo e teólogo François Houtart, que no dia 06 de junho nos deixou.
François, em fidelidade ao seu compromisso com o Evangelho, sempre esteve ligado às causas dos povos explorados e marginalizados pelo sistema dominante. Emprestou aos movimentos populares sua erudição, suas reflexões e sua palavra, para que os mesmos tivessem mais fundamentos e base em suas lutas e reivindicassem com firmeza seus direitos negados e sua dignidade não reconhecida pelas classes dominantes.
Belga de nascimento, François se tornou cidadão do mundo, pois se insurgia contra o ataque, o esbulho dos direitos dos mais fracos onde quer que acontecessem. Estabeleceu-se na América Latina por mais tempo, adotando-a como sua segunda pátria.
Em abril de 2016 esteve conosco por dois dias em Luziânia - GO, durante o Conselho Nacional da CPT, e nos embebeu de sua experiência, espiritualidade e compromisso com o continente latino americano. Duas reflexões foram alimento importante neste momento desafiante que estamos atravessando. Afirmou que "para a construção de um socialismo não ilusório, de um novo paradigma, deve-se pensar a transição, definindo metas e os passos a serem dados, não como visionários e acadêmicos, mas como resultado do trabalho de base, acompanhado de reflexão teórica."
Em relação à missão da igreja neste momento, nos sentimos estimulados quando afirmou que “ela deve denunciar os efeitos do sistema e anunciar os valores do Reino, de modo concreto. A igreja tem papel importante nisso; não gritando a verdade de cima, mas vivendo com o povo, para a construção mais adequada dos valores do reino”.
Mantendo vitalidade e lucidez impressionantes aos 92 anos de idade, ele nos deixa um legado de coerência e de firmeza na luta contra todas as agressões aos direitos dos mais fracos e vulneráveis.
Sua passagem pela vida deixa rastros profundos que a história não poderá apagar. Diante da sua morte, nenhum minuto de silêncio, mas uma vida de luta.
Goiânia, 8 de junho de 2017.
Comissão Pastoral da Terra