Motivação do crime está relacionada à sua atuação política contra o latifúndio na região, assegura a Comissão Pastoral da Terra (CPT). A filha pequena de Ivanildo Francisco, que estava em sua companhia, presenciou o pai ser morto em casa. Confira também a Nota da CPT Paraíba:
(Por CPT Regional NE II, com informações da assessoria de comunicação do frei Anastácio)
O trabalhador rural Ivanildo Francisco da Silva, de 46 anos, foi assassinato na noite desta quarta-feira (6), na casa onde morava no Assentamento Padre João Maria, no município de Mogeiro, Paraíba. O trabalhador, que também era presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) no município, foi abordado em sua casa por volta das 22 horas, enquanto estava na companhia de sua filha de um ano e meio de idade. Ivanildo foi assassinado com um tiro de espingarda calibre 12, na cabeça.
Para a Comissão Pastoral da Terra (CPT), todas as possíveis motivações do crime são políticas. Ivanildo foi mais uma vítima do latifúndio. De acordo com a CPT, o trabalhador era uma liderança atuante na área, contribuía e denunciava os contextos de violência na luta pela terra na região e já havia sido vítima de pistolagem.
“Em outubro do ano passado, ele e outros cinco agricultores da fazenda Salgadinho, no município de Mogeiro, foram feridos a tiros de espingardas 12 e revólveres 38 por capangas pagos pelos proprietários da terra, quando realizavam um mutirão. Ivanildo era um homem da luta dos trabalhadores do campo e sempre estava dando apoio às ações realizadas pela Comissão Pastoral da Terra (CPT)”, destacou Frei Anastácio, parlamentar e colaborador da CPT na Paraíba.
Os sete capangas que feririam os trabalhadores, naquela ocasião, foram presos pela polícia, mas pagaram fiança e atualmente respondem os processos em liberdade. “Essa é a principal suspeita que temos em relação ao assassinato de Ivanildo, que durante a investida dos capangas foi atingido por dois tiros a queima-roupa, mas escapou”, informou o Frei.
As famílias do assentamento ouviram o tiro, mas durante toda noite não saíram de suas casas com receio do serem vítimas de violência. Segundo informações locais, os assentados e assentadas decidiram ligar entre si para averiguarem se estavam todos/as bem. Ivanildo não atendeu o telefone, mas por causa do horário, as famílias pensaram que ele já estaria dormindo.
O corpo foi somente encontrado na manhã de hoje, dia 7, por sua companheira que retornava da casa de familiares. A mulher encontrou seu marido morto na entrada da casa e sua filha suja de sangue chorando ao redor do corpo. Também para as famílias do Assentamento Padre João Maria, não resta dúvidas de que o crime foi planejado e que se relaciona com sua atuação na luta pela terra.
NOTA: A CPT na Paraíba sente as dores de mais um assassinato no campo
“Mataram mais um irmão...”
Para nós, o que significa o mandamento “não matarás”?
Na Laudato Si, o Papa Francisco nos chama atenção para “o destino comum dos bens”:
“O meio ambiente é um bem coletivo, patrimônio de toda a humanidade e responsabilidade de todos. Quem possuir uma parte é apenas para administrar em benefício de todos. Se não o fizemos, carregamos na consciência o peso de negar a existência aos outros. Por isso, os bispos da Nova Zelândia perguntavam-se que s significado possa ter o mandamento “não matarás”, quando “uns 20 por cento da população mundial consomem recursos numa medida tal que roubam às populações pobres, e às gerações futuras, aquilo que necessitam para sobreviver.”
Este texto nos faz pensar, especialmente hoje ao saber do assassinato do nosso irmão e companheiro de lutas, Ivanildo Francisco da silva, 46 anos, que morava no Assentamento Padre João Maria no Município de Mogeiro. Encontrado no terreiro de casa, com um tiro (de espingarda calibre 12) na cabeça, e a filha de um ano e meio, ensanguentada ao seu lado, hoje 07 de abril de 2016, às 8 horas da manhã. A casa estava com a porta arrombada, e foram escutados tiros por volta das 22 horas da noite anterior, ainda era dia 06.
Ivanildo está na luta pelo acesso à terra desde 1994, foi acusado injustamente de tentativa de homicídio do policial Sergio Azevedo, ficou um ano e sete meses preso injustamente junto com mais seis companheiros, que foram julgados e absolvidos oito anos depois, em 27 de agosto de 2015.
Há três anos vivendo no Assentamento Padre João no município de Mogeiro, estava solidário à luta dos posseiros das fazendas Paraíso de Pilar, Paraíso de Mogeiro, fazenda Fazendinha e Salgadinho. Esta última, palco de tiroteio em 26 de outubro de 2015, onde Ivanildo foi um dos seis camponeses baleados.
Feliz estava ele nos últimos dias por ter recuperado parte da força no braço baleado, era feliz também pela sua terra e por estar “ajudando outros a conseguir a sua”. É assim que o povo caminhante rumo a terra prometida se fortalece, na luta, no abraço, e também na dor, no companheirismo, sonhando com o Novo que há de vir.
"A força do demónio não vai nos vencer. Com a força de Deus venceremos", nos disse um camponês quando no primeiro despejo no conflito de Paraíso Mogeiro, ele falava desta humanidade que esta desfazendo os caminhos do amor e faz "gente boa" sofrer. Ele fala sobre “não matarás”; ele fala de ter acesso “aquilo que necessitam para sobreviver”.
Que “o amor seja amado”, como nos pedia São Francisco. O nosso Irmão Ivanildo estará sempre presente, na memória das lutas e na nossa indignação. Que o sangue derramado não seja em vão, mais sirva para alimentar nossa força de luta e a nossa fé no caminho de construção do Reino, que mantenha em nós viva a chama da missão de ser presença solidária na luta dos povos da terra, sendo fiel ao Deus dos pobres.
Comissão Pastoral da Terra Paraíba (CPT-PB)