Um ano depois do desastre provocado pela barragem da Samarco, comunidades da região temem rompimento de outro reservatório e consequências do período chuvoso.
Por Thomas Bauer e Joka Madruga
A ameaça de um novo desastre ronda a população de Mariana (MG). Não bastasse a calamidade provocada pelo rompimento da barragem do Fundão, da Samarco (pertencente à Vale e à BHP Billiton), as comunidades da cidade e do entorno convivem com a iminência de uma nova tragédia. Um tremor de terra confirmado pela empresa no início do novembro aumentou a tensão sobre as condições estruturais da barragem de Germano, três vezes maior e que já apresenta sinais de rachadura. Não é só. Diante do período chuvoso que se iniciou nestes dias, o temor de muitos está aumentando. Ao longo de toda extensão do Rio Doce, os moradores convivem com a expectativa de que uma grande quantidade de lama, que continua acumulada entre a região de Mariana e a usina Candonga, possa se espalhar pelo leito.
Durante três semanas refizemos o caminho da lama para ouvir dezenas de relatos de pescadores(as), agricultores(as), moradores das cidades, ribeirinhos, bem como das autoridades responsáveis ao longo do Rio Doce. E pudemos conferir como o sentimento de temor e desconfiança está instalado na população local. Um ano depois do maior crime socioambiental da história do Brasil, as consequências do vazamento de 62 milhões de metros cúbicos de lama permanecem bastante vívidas e presentes. Comunidades inteiras foram cobertas pelo dejeto contaminado e dezenove pessoas foram mortas. O rastro de destruição que se espalha ao longo do Rio Doce e deságua no Oceano Atlântico expõe as feridas abertas da irresponsabilidade pública e do descaso.
O que encontramos causou dor, angústia e revolta porque depois de um ano praticamente nada foi feito. As pessoas atingidas ainda continuam sem saber maiores detalhes sobre a qualidade da água e do solo, que foi coberto pela lama. Além disso, perderam sua fonte de renda ao longo de todo percurso. Pior, numa total inversão de papéis, as pessoas que sofreram danos irreparáveis até hoje estão lutando para serem reconhecidos como atingidos, cobrando seus direitos negados pela empresa.
Os moradores relatam ainda que funcionários da Samarco estão visitando as famílias de porta em porta para alertar sobre as possíveis enchentes deste ano. Fala-se em volumes de água como ocorreu na última maior enchente em 1979. Isso significa que a água misturada com o rejeito poderia subir ao mesmo nível da lama do ano passado, atingindo novamente as casas e toda região.
Veja a seguir alguns dos vídeos que retratam a situação que encontramos ao longo do vale do Rio Doce. Os depoimentos colhidos fazem parte da produção do projeto “Lama que mata” cuja primeira etapa se encerrou com a realização de uma exposição de fotografias na cidade de Mariana, em 5 de novembro. Em 2017, está previsto o retorno aos locais percorridos, com um documentário e uma exposição fotográfica. A iniciativa conta com o apoio da Fundação Rosa Luxemburgo, da DKA Austria e de dioceses locais.
Confira mais informações na página do Projeto “Lama que mata”.