COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Em busca de um tempo novo, com água em abundância para todos, cerca de duas mil pessoas marcharam em romaria da cidade de Delmiro Gouveia, município de Alagoas, até às margens do Canal do Sertão, em Água Branca. A 7ª Romaria das Águas e da Terra, realizada na noite do sábado (26) até o amanhecer do domingo (27), e afirmou a água como bem grandioso e defendeu seu acesso aos mais carentes.

 

(Fonte: CPT Alagoas/Imagens: Ésio Melo)

“A água é um bem necessário e divino, ela precisa ser preservada para que todos tenham acesso a ela. E muito mais do que isso, nós não podemos ficar passivos às situações de morte que surgem aqui no alto sertão, trazida pela inacessibilidade da água. Nós, o povo de Deus movido pela fé, temos a obrigação de fazer com que os nossos governantes viabilizem políticas públicas que distribuam a água, levando vida em abundância para todos”, afirmou o padre José Aparecido, pároco da Igreja Nossa Senhora do Rosário.

A atividade foi organizada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), em parceria com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e a Paróquia Nossa Senhora do Rosário, e contou com a animação do Grupo de Jovens de Joaquim Gomes, durante as 4 horas de caminhada.

“Eu sou romeiro e vou em Romaria” (Zé Vicente)

A 7ª Romaria das Águas e da Terra reuniu crianças, jovens, adultos e idosos para uma caminhada de fé, alegria e esperança.  O jovem João Paulo, do assentamento Dom Helder, em Murici, foi um dos que não desaminaram um só minuto. Além se apresentar com o grupo de capoeira no início, o jovem pulou, cantou e rezou durante todos os 8 km de percurso. 

João Paulo conta que desde pequeno participa das romarias. “Tenho 21 anos e desde os 9 não perco uma romaria. É uma forma da gente se conscientizar mais e entender que é importante estar engajado na mudança do mundo. Os jovens têm que estar nas romarias, aprender com os mais velhos e se motivar. Se ficarmos de braços cruzados, nada muda”, afirmou João Paulo.

Outro grupo que se organizou para participar foi o Movimento de Cursilhos de Cristandade. Fátima Ermínia, vice-presidente do Cursilho de Delmiro Gouveia, esteve presente com mais de 50 pessoas, reafirmando o compromisso do cursilho com a questão social e política. “É uma forma da gente gritar para ter vez e voz os menos favorecidos. A água é uma questão que se não nos preocuparmos agora vai faltar para todos no futuro. A água é uma riqueza que nós temos e estamos vendo ela ir embora, não podemos ficar de braços cruzados, temos que lutar”, disse Fátima.

“Se é para ir à luta, eu vou!” (Zé Vicente)

A Romaria ficou ainda mais bonita com as importantes presenças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, dos Quilombolas de Delmiro Gouveia e dos Indígenas da tribo Pankararu, que, carregando suas faixas e bandeiras, encontraram na caminhada um espaço de reivindicação.

A comunidade da UFAL e o grupo de pesquisa Grupo de Estudos Agrários e Socioterritoriais (GEAST) também se fizeram presentes, demonstrando que na UFAL do Sertão o conhecimento acadêmico pode servir ao povo.

Para a professora Francisca Maria Teixeira, do curso de Geografia da UFAL, o debate sobre as obras do canal do sertão, além de hídrico e geográfico, é político e ideológico. “O Estado só chega onde o capital apresenta condições de se reproduzir. Essas águas represadas servem ao agro-hidro-negócio. Nós temos que lutar para que as águas do sertão cheguem ao povo e sirvam para a vida e não sirvam para a morte”, afirmou Francisca, encima do trio elétrico, em frente ao Campus da UFAL.

O Diretor Acadêmico do campus Sertão, professor Ivan Barbalho, utilizou o momento para defender o amor ao próximo. “Estamos aqui para fazer cumprir o maior mandamento que Jesus nos deixou: amar ao próximo como a si mesmo. Precisamos superar o egoísmo, estender nossas preces aos companheiros que estão sendo perseguidos e ameaçados. Temos um companheiro aqui da UFAL que está sendo ameaçado de morte. Rezemos em razão deste amigo, assim como todos que sofrem perseguições”, afirmou o professor Ivan, lembrando do caso do professor Magno Francisco que sofreu ameaças por defender a apuração do assassinato de seu primo Davi Silva.

Celebrações e Místicas

Desde a concentração com a missa campal em frente à Igreja Nossa Senhora do Rosário até a benção final do Padre José Aparecido com as águas do Rio São Francisco, às margens do canal do sertão, a Romaria se fez cheia de místicas e significados.

Na Santa Missa, durante o ato penitencial foram denunciadas as injustiças sociais e a concentração das águas e da terra. A cada pedido de perdão os oradores lavavam às mãos ante ao altar, simbolizando uma limpeza do mal.  

O padre Aparecido, na homilia, completou a mensagem com a passagem bíblica de Isaías, que afirma que o fruto da justiça será a paz. “Enquanto não houver justiça não há paz, e a água que Deus batizou pertence a todos, aos ricos e aos pobres. Temos que lutar para ser feita a justiça”, disse o padre.

Diante do momento de comunhão, a irmã Cícera Menezes convocou os romeiros e romeiras para se alimentarem com o corpo e o sangue de Cristo, dizendo: “Temos que comungar com o povo sofrido, se não comungar com os oprimidos não comungamos com Deus”.

Durante as paradas, as reflexões continuaram seja com o recital do cordel da romaria seja com o toré indígena. Na parada do povoado Maria Bode, a tribo Pankararu e o Cimi lembraram que a terra foi o símbolo da criação humana e marcou todos os romeiros e as romeiras com a argila, reafirmando a terra como elemento fundamental e de liberdade.

No momento final, às margens do Canal, o padre e todo o povo ergueram as mãos para abençoar a água do São Francisco. De cima do trio elétrico, o padre Aparecido batizou os romeiros e romeiras na despedida da 7ª Romaria do Sertão.

 

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