Vindos em mais de setenta ônibus e centenas de carros de todos os cantos de Rondônia, a 10ª Romaria da Terra e das Águas de Rondônia fez mais de quatro mil e quatrocentos romeiros e romeiras se reunirem em Machadinho do Oeste. A Romaria aconteceu no dia 23 de agosto.
(Fonte: CPT Rondônia)
Para a Comissão Pastoral da Terra em Rondônia (CPT-RO), a 10ª Romaria foi com certeza mais um momento histórico, com a principal missão de replantar em cada coração um jeito de ser Igreja, comprometida com a caminhada do povo pobre.
Romeiros e romeiras, muitos deles membros das comunidades de bases, começaram a chegar de madrugada no pátio da Igreja Matriz de Nossa Senhora Aparecida, onde as comunidades de Machadinho ofereceram café, leite e pão a todos os participantes. Enquanto o povo ia chegando, no interior da Igreja um vídeo lembrava o aniversário dos 30 anos da morte do Padre Ezequiel Ramin e apresentava o pedido de ser oficialmente beatificado pela Igreja. Panfletos foram distribuídos, sobre os problemas com as usinas hidrelétricas, a realidade do Trabalho Escravo e o Tráfico de Pessoas.
Um grupo de jovens do "Assentamento 14 de Agosto" fez uma apresentação sobre o tema da Criação, antes do início da caminhada. Logo, uma multidão percorreu a cidade e mais dois quilômetros em estrada de chão, rezando e cantando até a cachoeira do Rio Machadinho, um ambiente abençoado pela natureza, que também está ameaçada.
Sob um sol intenso e num ambiente de poeira, cinzas, fumaça das queimadas que perduram na época seca da Amazônia, no percurso da caminhada da Romaria em meio a informações e reflexões, o povo romeiro cantou e rezou, meditando sobre a situação das florestas, das águas e das terras de Rondônia. Pontos de abastecimento de água ajudavam os romeiros a retomar as forças. Diversos banners com palavras da Encíclica do Papa Francisco, "Louvado sejas", com diversas fotografias da realidade do estado serviam para ambientar a caminhada.
Um grupo de animadores, liderados por José Aparecido (autor do Hino da Romaria), e com um livro de cantos preparado especialmente para a Romaria, mantinha alto o ânimo, as forças e a espiritualidade dos romeiros.
Até a chegada ao Rio Machadinho, onde duas canoas ocupadas por seringueiros e indígenas carregando a imagem de Nossa Senhora Aparecida, atravessou o rio e toda a Romaria subiu até à cachoeira. Num ambiente gostoso, embaixo da mata estava o palco e diversas barraquinhas: De pequenos agricultores sem terra e da Via Campesina; uma casinha de palha construída pelos seringueiros das comunidades extrativistas da região; um tapiri dos grupos de indígenas.
A maioria dos indígenas participantes eram dos povos Araras e Gavião, da Terra Indígena Igarapé Lourdes, que tinham se reunido dois dias antes em seminário para debater a construção da Usina de Tabajara, que pode atingir as terras tradicionais deles e grupo de indígenas isolados na região.
Enquanto os romeiros refaziam as forças, o palco e os microfones estiveram abertos a apresentações culturais, danças dos indígenas, canções espontâneas e também de nosso companheiro de longa jornada, Zé Pinto. Assim como as falas da fila do povo e as manifestações e testemunhos de diversos grupos. Como os seringueiros de Machadinho, que expuseram as dificuldades com os madeireiros, as mortes de companheiros e ameaças que continuam sofrendo.
Representantes dos atingidos do Madeira apresentaram seus sofrimentos por culpa das usinas e das alagações dos últimos anos, e membros do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) descreveram a situação das diversas hidrelétricas construídas no país. Também houve falas do MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores); e representantes das EFAS (Escolas Família Agrícola do Estado), que cobraram recursos atrasados do Governo de Rondônia, e outros.
A Celebração, rezada com o cenário das matas e o murmúrio das águas da cachoeira no fundo, foi presidida pelo Bispo de Guajará Mirim, Dom Benedito Araújo, atual Administrador Apostólico da Arquidiocese de Porto Velho, e por um Pastor do Sínodo da Amazônia, representante da Igreja de Confissão Luterana no Brasil (ICLB); assim como o Padre Dionísio Kuduavicz, pároco de Machadinho e numerosos padres de Ji-Paraná e das outras dioceses de Rondônia.
Dentro de uma sacolinha foi colocado terra e água e sementes abençoadas, entregues como lembrancinha aos participantes, simbolizando o nosso compromisso cristão pela Casa Comum, pelo cuidado com meio ambiente da Amazônia, pela conservação das águas e da terra de todo o Planeta.
Assim culminou a Romaria inspirada ao tema: "Terra, floresta e água dádivas de Deus para viver e conviver" e como lema: "Somos testemunhas (At.3) de um novo céu e uma nova terra (Ap. 21)", em resposta aos apelos de maior justiça pelo campo dos Bispos do Brasil e do Papa Francisco para um maior diálogo dos cristãos e todas as pessoas de boa vontade sobre a maneira como estamos construindo o futuro de nosso Planeta com toda a família humana. (Louvado sejas)