Entusiasmo, orações, cantos, literatura de cordel, depoimentos e cartazes denunciando as ameaças e agressões causadas ao meio ambiente, especialmente pela mineração, marcaram a 5ª Romaria em Defesa da Vida, que aconteceu no último domingo (21), em Campo Alegre de Lourdes, na Bahia.
(Por Marina Rocha – CPT Centro-Norte/BA - Juazeiro)
O sol intenso não arrefece o entusiasmo dos/as 700 e tantos caminhantes que percorreram os dois quilômetros da comunidade de Velame até o sopé do morro Tuiuiú, em Campo Alegre de Lourdes – BA. Era a 5ª Romaria em Defesa da Vida, acontecida no domingo, 21 de junho. Acompanhados das imagens dos santos padroeiros/as das comunidades, orações, cantos, faixas, versos de cordel, cartazes e depoimentos diziam os motivos do ato: a vida é mais importante do que a mineração e todas as crescentes agressões ao meio-ambiente, e Deus estava com os romeiros/as. Com 82% do município sob interesse minerário, com uma mina de fosfato em funcionamento e concessões de pesquisa concedidas, manifestava-se atento e contrário a esta exploração o povo organizado em comunidades de base, sindicato e associações, com apoio da paróquia, da CPT e de ONGs técnico-ambientais, todos articulados no Fórum de Entidades Populares.
Na partida, após a oração inicial, Ruben Siqueira, da CPT, sugeriu o sentido da caminhada. Disse ele: “originalmente, romaria era ir a Roma, onde estava o túmulo de São Pedro, para reencontrar-se com Jesus, reviver sua experiência e sua mensagem de vida centrada no amor, comprometida com a vida de tudo e todos”. Ali – propôs Siqueira – romaria era “ir ao Tuiuiú”, o cobiçado morro dos ricos minérios, para reafirmá-lo como símbolo de luta em defesa da vida, contra a exploração indiscriminada dos bens do solo e do subsolo. A encíclica do Papa Francisco, “Laudato Sii” (Louvado seja), lançada dias antes, foi lembrada como um estímulo revolucionário, de uma “ecologia integral”, centrada da vida, não só no ser humano. Espera-se que seja impulso para mudar o modelo de sociedade consumista que está causando os desastres climáticos e socioambientais cada vez mais graves.
Numa parada, o sr. Waldemar Silva, da Comunidade de Carolino e integrante do Fórum das Entidades Populares, ressaltou as diversas formas de degradação da vida no município, os impactos que a mineração e o desmatamento vêm causando à saúde das pessoas e de todas as formas de vida. Encerrou com um apelo: ”não queremos mineração, pois para nós bastam a saúde e a paz. Não à poluição. Não queremos perguntar um dia: ‘cadê o nosso morro?’ e alguém responder: ‘a mineração comeu!’. Os campo-alegrenses dizem não à destruição!“.
Cerca de uma hora depois, a caminhada chegou a uma clareira, enfeitada de bandeirinhas juninas, como o morro Tuiuiú ao fundo, dominando a bela paisagem da caatinga em tons já mais amarelo e cinza do que verde. A celebração eucarística foi o ponto alto. Na homilia, inspirado nas leituras bíblicas, o pároco Pe. Bernardo Hanke destacou os diversos aspectos daquela manifestação de fé e esperança. E exortou a todos/as ao compromisso em defesa da vida contra a sanha devoradora e cega de quem quer se apoderar do solo, das águas, dos territórios das comunidades e da vida, em nome de um progresso, que na verdade é só lucro de uns poucos, à custa da destruição dos bens da terra e da vida.
Ao final, o padre mencionou e agradeceu uma extensa lista de pessoas e comunidades e grupos que colaboraram para o êxito da romaria. Seguiram-se apresentações dos padroeiros/as das comunidades presentes. Muito aplaudidos vários poetas declamaram cordéis sobre o tema da romaria. Foram lidas as faixas e cartazes que as comunidades trouxeram com denúncias, compromissos e esperanças. Cada vez mais animada e rica de significados, a “Romaria do Tuiuiú” vai fazendo história – um grito consistente em defesa da vida, a questionar o avanço das minedoras!