Evento realizado em Colinas deu seu grito em favor dos povos da terra e da água. A 14º Romaria ocorreu nos dias 8 e 9 desse mês. Confira a matéria:
(Rafael Oliveira, da CPT Tocantins)
“Se os profetas se calarem, as pedras falarão!”: sob este lema, romeiras e romeiros celebraram a 14ª Romaria da Terra e da Água Padre Josimo, nos dias 8 e 9 de maio, em Colinas, no Norte do Tocantins.
A tradicional Romaria Padre Josimo reuniu diferentes culturas e costumes. Com o objetivo de fazer memória aos que doaram suas vidas em favor dos oprimidos dos povos do campo e da água, indígenas, quilombolas e camponeses confraternizaram lado a lado nos dois dias de evento.
Organizações e movimentos sociais também caminharam em conjunto, dentre eles a Comissão Pastoral da Terra (CPT), Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Alternativa para Pequena Agricultura no Tocantins (APA-TO), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), entre outros.
Na sexta-feira (8), o dia foi marcado por diversas oficinas, que trataram sobre reforma agrária, segurança alimentar, conflitos pela água, ameaça dos grandes projetos, trabalho escravo, drogas e violência e povos indígenas e quilombolas. As palestras serviram como momentos de conversa e trocas de experiências entre os participantes.
“Eu achei esse momento muito importante, pois vi diversas realidades que eu ainda não conhecia. Isso é muito bom porque assim eu tenho a oportunidade de levar conhecimento até a minha comunidade”, afirma Francisco da Silva, assentado no PA Santo Antônio, na região de Palmeirante (TO).
Pela primeira vez, foi realizado o Acampamento da Juventude Romeira. Um terreno foi preparado e destinado especialmente aos jovens, para que pudessem acampar com suas barracas. Um seminário discutiu os diversos problemas enfrentados pela juventude nos dias de hoje, como a redução da maioridade penal.
Na praça em frente à Paróquia Nossa Senhora Aparecida, a noite cultural – ou noite da memória – abriu espaço para os talentos aparecerem. O povo subiu ao palco para contar histórias, recitar poemas e, principalmente, cantar muita música boa até a madrugada se aproximar. Os indígenas Apinajé e Xerente prenderam as atenções ao apresentarem seus cantos e suas danças tradicionais.
Já no sábado (9), fogos de artifício estouraram pelos bairros da cidade às 5h, despertando os cerca de mil romeiros e romeiras para o café da manhã na Paróquia São Sebastião, onde também foi inaugurado um memorial com o poema “Mártir da terra e da justiça”, de Pedro Tierra, que homenageia a luta de Padre Josimo.
A procissão pela cidade foi marcada por diversos momentos de muita emoção, como no depoimento da indígena Elza Xerente. “Eu estou aqui para representar todos os povos indígenas do Brasil. Nós não podemos deixar que ninguém mate nossa mãe terra. Nós temos que lutar para defender nossa mãe. Eu sou uma mulher e luto para defender nosso povo, eu considero todos como nossos irmãos, seja sem terra, assentado, quilombola. Nós não temos juiz, não temos promotor para defender nossos direitos, mas Deus é o mais poderoso”, exclamou Elza Xerente.
Raimunda Pereira dos Santos, conhecida posseira da Gleba Tauá, no município de Barra do Ouro (TO), também teve a oportunidade de dar o seu grito de indignação frente aos diversos episódios de violência sofridos por ela a mando do fazendeiro Emilio Binotto. “Eu tenho 20 anos de sofrimento, 20 anos que vivo massacrada, ameaçada, com abuso de polícia e destruição. Até hoje eu vivo firme na minha terra, mas graças à força de Deus. A Justiça de cima de terra está protegendo só os fazendeiros que vivem de destruir todo o que temos”, denunciou Dona Raimunda.
Por fim, a celebração eucarística contou com a presença de Dom Giovane Pereira, bispo de Tocantinópolis, Dom Philip Dickmans, bispo da Diocese de Miracema, e Dom Pedro Brito, Arcebispo de Palmas, entre outros representantes do Regional Norte 3 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), responsável pela organização do encontro. A participação de Dona Olinda, mãe de Josimo, carregando a imagem de Nossa Senhora Aparecida durante a celebração, coroou o encerramento da 14ª Romaria da Terra e da Água Padre Josimo.
Veja mais imagens da Romaria:
Na sexta-feira (8), o dia foi marcado por diversas oficinas.
Durante procissão pela cidade, Elza Xerente fala
sobre a luta os povos indígenas.
Raimunda Pereira dos Santos, da Gleba Tauá, falou
sobre os conflitos que sua comunidade tem sofrido.
Dona Olinda, mãe de Josimo, carregando a imagem
de Nossa Senhora Aparecida durante a celebração.