O encontro, que acontece anualmente na terça-feira de Carnaval, reuniu 12 mil romeiros em David Canabarro, onde também aconteceu o 10º Acampamento da Juventude. Confira em anexo a Carta Final dos dois eventos.
(Arquidiocese de Passo Fundo - RS - texto e fotos)
Se ao povo de Abraão a terra tão esperada foi oferecida na promessa de Deus “Eu darei esta terra à sua descendência”, aos romeiros e romeiras de hoje, o compromisso se renova a cada ano. Marcada pela luta contra as injustiças e em busca da vida abundante aos pequenos da terra, a 38ª Romaria da Terra do Rio Grande do Sul reuniu milhares de pessoas nesta terça-feira, 17, em David Canabarro.
Solo sagrado, terra mãe de resistência, a cidade é marcada essencialmente pela agricultura familiar, realidade também de muitos locais da Arquidiocese de Passo Fundo, que conta com muitas iniciativas semelhantes e foi ventre e berço de diversos movimentos sociais e políticos ligados à luta pela terra.
Refletindo o tema Sucessão rural familiar, políticas públicas e sustentabilidade social, a romaria reuniu certa de 12 mil romeiros e romeiras engajados no compromisso de transformação social. Caminhando cerca de 2 km da paróquia Sagrada Família ao Módulo Esportivo Municipal, os romeiros denunciavam as diversas situações de morte dos povos da terra e anunciavam experiências promotoras de vida.
Durante o percurso, três paradas chamaram a atenção dos participantes. A primeira, organizada pela Emater, refletiu a sucessão rural. Em seguida, o tema sustentabilidade foi traduzido pela Cáritas Arquidiocesana em um espaço que destacava o pedido do papa: “Por favor, continuem na luta pela dignidade da família rural, pela água, pela vida e para que todos possam se beneficiar dos frutos da terra”. Por fim, a temática das políticas públicas foi reforçada no terceiro espaço, preparado pelo MST.
A celebração eucarística contou com a presença de 10 bispos do Rio Grande do Sul e foi presidida pelo arcebispo metropolitano, dom Antonio Carlos Altieri. Na ocasião, ele acolheu os presentes afirmando: “hoje a arquidiocese se torna casa comum onde se reúnem os filhos e filhas com a maternal bênção da Mãe Aparecida”.
O arcebispo lembrou o papa Francisco quando em outubro passado apresentou as necessidades da terra, casa e trabalho. Dom Altieri ressaltou ainda que “poderíamos dizer que a primeira Romaria da Terra aconteceu na criação. Quando todos os animais criados, as plantas e o ser humano pisaram, tocaram e se alimentaram no jardim do Éden, no espaço do bem comum”.
“Bendito fruto da terra e do trabalho humano. Bendito o suor de quem o produz. Benditas famílias do mundo inteiro que acreditam e não deixam morrer a fé, a história, as lutas, a utopia e o júbilo da esperança que se concretiza do bem de todos”, assegurou o arcebispo. Para concluir, dom Altieri rogou: “Que a fé no Deus de toda Terra, que o testemunho dos mártires de nossas Américas, que o grito de nossos lábios e do nosso coração convertido ao Amor e a força de nossa união despertem as autoridades responsáveis pelo cuidado de nosso povo, pelo bem viver de todos”.
Realizada pela primeira vez em 1978, a Romaria da Terra do Rio Grande do Sul passa por todo o Estado e ocorreu pela quarta vez na região de Passo Fundo. A Arquidiocese já acolheu o encontro em 1982, na Encruzilhada Natalino; em 1986, na Fazenda Annoni; e no ano de 2000, em Casca.
Para 2016, a diocese de Bagé assumiu o compromisso de realizar a 39ª Romaria da Terra e o 11º Acampamento da Juventude, na cidade de São Gabriel.
10º Acampamento da Juventude
O Acampamento da Juventude já é tradicional na Romaria da Terra do Rio Grande do Sul e em 2015 chegou a sua 10ª edição. O encontro reuniu mais de 450 jovens de todo o estado nos dias 15 e 16, que refletiram especialmente o aspecto da sucessão rural familiar.
Durante o primeiro dia do encontro, a reflexão girou em torno dos painéis Gênero, Modelo de produção, Sustentabilidade e Direitos Humanos. Já o segundo dia foi de trabalhos em grupos que debateram os temas do domingo, provocando uma maior reflexão, especialmente sobre a sucessão rural e as questões de gênero.
Ainda na segunda-feira, 16, os jovens vivenciaram oficinas reflexivas e práticas, como mística e espiritualidade das causas sociais, abelhas nativas, teatro e juventude rural, filtro dos sonhos, agitação e propaganda, sucessão rural familiar e autonomia, sistemas agroecológicos e frutas nativas, necessidades e desejos da juventude rural, cooperativismo e sindicalismo, juventudes e protagonismo por culturas de paz, juventude e reforma política, produção de insumos alternativos e economia popular solidária.
Para dom Altieri, o 10º Acampamento da Juventude foi “uma oportunidade a mais de ajudar a juventude a assumir e se sentir parte integrante e responsável na luta pela justiça e pela paz entre os povos. A força da juventude é fundamental nesta empreitada da vida”.
O encontro ficou marcado pela fé, celebração e mística dessa juventude que luta por participação social, políticas públicas, inclusão e direitos. Foi espaço também de fortalecimento das manifestações e dos grupos juvenis.
Os jovens do 10º Acampamento da Juventude tiveram participação intensa também na Romaria da Terra, acolhendo os romeiros e romeiras e auxiliando nos momentos de celebração, mística e animação.
Mostra de Ações Sociais Solidárias
A iniciativa, que foi realizada pela primeira vez na Romaria de Nossa Senhora Aparecida na Arquidiocese teve como principal objetivo divulgar e fortalecer a ação social desenvolvida na arquidiocese.
A mostra foi coordenada pela Cáritas Arquidiocesana e contou com a participação de cerca de 62 grupos, entre eles empreendimentos da Economia Popular Solidária e agroindústrias da região. Entre os produtos comercializados estavam artesanatos, panificação, lanches, sucos, hortigranjeiros e orgânicos.
O espaço proporcionou também a oportunidade de os romeiros e romeiras conhecerem melhor o trabalho e os objetivos de diversas entidades e movimentos sociais ligados a questão da terra.
Luiz Costella, membro da coordenação colegiada da Cáritas e um dos organizadores da Mostra avaliou a iniciativa de forma muito positiva, apontando que “depois da experiência da Romaria de Nossa Senhora Aparecida e desta Romaria da Terra, se consolida de uma vez por todas a importância de que se tenha um espaço de divulgação dos grupos de economia solidária”. Costella lembra que estes grupos também ajudam a garantir a infra estrutura de alimentação das romarias.
O coordenador reforçou que o espaço é uma oportunidade única de mostrar ao povo a atuação da Igreja na sociedade, que vem se abrindo cada vez mais para estas iniciativas solidárias e sustentáveis.