COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Mais de 2 mil romeiros caminham em defesa da Casa Comum e da regeneração da Bacia do Rio Doce, em Conceição do Mato Dentro.

(Cáritas Minas Gerais)

O sol ainda estava raiando quando as romeiras e os romeiros começaram a chegar em Conceição do Mato Dentro para participar da 5ª Romaria das Águas e da Terra da Bacia do Rio Doce. Realizada na manhã de 4 de setembro, a Romaria reuniu mais 2 mil pessoas vindas das paróquias da diocese de Guanhães e de toda a Província Eclesiástica de Mariana, composta pelas Dioceses de Caratinga, Gov. Valadares, Itabira e Cel. Fabriciano e pela Arquidiocese de Mariana.

Com o tema "Bacia do Rio Doce, nossa Casa Comum" e o lema "Aos pés do Bom Jesus, cuidar da Mãe Terra, das Águas e da Vida", a Romaria ecoou o clamor das comunidades de fé, que vivem ao longo da bacia do Rio Doce, em defesa da Casa Comum e da regeneração Rio. Os peregrinos caminharam pelas ruas da cidade em direção ao Santuário do Senhor Bom Jesus do Matosinhos, onde a 5ª Romaria da Bacia do Rio Doce foi encerrada como uma celebração eucarística celebrada por dom Otacílio Ferreira de Lacerda, bispo da Diocese de Guanhães e referencial da Comissão para Ação Social Transformadora da CNBB Leste 2.

Dom Otacílio explica que a Romaria é um momento de fortalecimento das virtudes divinas da fé, da esperança e da caridade, sendo um grito em defesa da vida de cada pessoa e da Casa Comum. "A 5ª Romaria está em perfeita sintonia com a Igreja do Brasil, com o nosso querido papa Francisco, com a pauta de uma Ecologia Integral, uma ecologia em que tudo está interligado e nada, absolutamente nada que façamos, é neutro", afirma. 

Segundo o bispo, se as pessoas tratarem bem a Casa Comum terão uma sociedade do bem viver, mas se a tratarem mal, explorando as águas e as riquezas naturais em nome do lucro, terão a destruição da vida: "a 5ª Romaria é, sem dúvida, um momento expressivo de profecia em favor da vida".

A 5ª Romaria das Águas e da Terra da Bacia do Rio Doce é organizada pela diocese de Guanhães e pela Província Eclesiástica de Mariana com apoio da Adveniat.

Para a terra prometida o povo de Deus marchou

A Romaria das Águas e da Terra da Bacia do Rio Doce surgiu após o rompimento da barragem de rejeitos da mineração da empresa Samarco (Vale BHP), em 2015, em Mariana. A sua primeira edição aconteceu em junho de 2016, no município de Resplendor, e a cada ano é realizada em um local diferente da Província Eclesiástica de Mariana.

A agente da Cáritas Diocesana de Itabira e Cel. Fabriciano, Lucimere Leão, destaca que a Romaria da Bacia do Rio Doce busca manter vivo o debate sobre a defesa das águas, dos rios e dos povos, principalmente das comunidades ribeirinhas, que, em sua maioria, não teve seus direitos garantidos desde o rompimento da barragem da mineração em Mariana. "Sabemos que, infelizmente, nossa região, principalmente a Bacia do Rio Doce, está refém de outros possíveis crimes dessas grandes empresas", denuncia.

Em sua quinta edição, a Romaria é realizada na Diocese de Guanhães, onde se encontram as bacias do Rio Doce, São Francisco e Jequitinhonha, bem como dos biomas da Mata Atlântica e do Cerrado. Na região, é crescente a atividade minerária e prevalece a monocultura do eucalipto, causando a extinção e a degradação de inúmeras nascentes, a devastação de matas e a violação de direitos das comunidades. 

Segundo Patrícia Generoso, atingida pela mineração de Conceição do Mato Dentro, ter a Igreja e tantas vozes reunidas em resistência à mineração no município é importante para fortalecer os atingidos, tanto espiritualmente quanto para ecoar suas vozes tantas vezes criminalizadas e invisibilizadas. "Estar participando desse momento aqui é de gratidão, pois esta é a Igreja em saída que eu sempre almejei", conta.

Bendito o povo que marcha

As romeiras e os romeiros se reuniram, ainda no início do dia, próximo do Ginásio São Francisco, onde foram acolhidos com músicas e um café da manhã servido pela Pastoral da Acolhida do Santuário Bom Jesus do Matosinhos, a partir de doações de comunidades que participaram da Romaria. Após a abertura, realizada por Dom Otacílio e por padre Marcelo Moreira, da arquidiocese de Mariana, as imagens de São Francisco e de Nossa Senhora da Conceição foram acolhidas, bem como diversas bandeiras em homenagem aos mártires que se sacrificaram pelas águas, pela terra e pela vida. Entre os mártires, padre Nelito Dornellas foi lembrado por toda sua contribuição nas Romarias da Bacia do Rio Doce e sua incansável atuação junto aos povos oprimidos e aos atingidos pela mineração da diocese de Governador Valadares.

A caminhada foi conduzida pela missionária da Romaria, Selma Damasceno, e pelo pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, em João Monlevade, padre Marco José de Almeida. Na primeira parada, os romeiros ouviram o clamor dos povos originários, por meio do depoimento de um representante do povo Pataxó, que vive no município de Carmésia. O genocídio dos povos indígenas e os impactos ambientais causados pelas mineradoras e pelos grandes empreendimentos foram os principais pontos denunciados pelos Pataxós que estavam presentes na caminhada.

A segunda parada da Romaria foi marcada pela cerimônia do lava-pés, fazendo memória aos romeiros que vinham das comunidades rurais para o Santuário do Senhor Bom Jesus do Matosinhos e paravam na ponte sob o córrego que leva justamente o nome de Lava Pés. As romeiras e os romeiros lavaram seus pés contra as mineradoras e a sentença de morte decretada contra os rios, denunciando o sofrimento e a morte generalizada causada pelos grandes empreendimentos, que visam o lucro em detrimento da vida. 

A terceira e última parada foi marcada pelo levantamento da cruz da Romaria da Bacia do Rio Doce, momento em que se fez memória à Santa Cruz de Jesus, do povo oprimido, dos atingidos pela mineração e dos mártires que tombaram em defesa da vida. Nessa parada, romeiras e romeiros receberam a benção do cruzeiro.

Os peregrinos seguiram para o Santuário do Senhor Bom Jesus do Matosinhos e, em comunhão eucarística, participaram da missa celebrada por dom Otacílio Ferreira de Lacerda e co-celebrada pelo clero presente. Ao final da missa, foi realizada a leitura da Carta da 5ª Romaria das Águas e da Terra da Bacia do Rio Doce.

 

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