Neste ano a celebração destacou a importância da agricultura familiar e da agroecologia para o cuidado com a Mãe Terra. Em formato reduzido, evento, realizado na terça de Carnaval (1º), reuniu cerca de 1,6 mil pessoas em Ilópolis (RS), cidade da erva mate.
Com o tema “Agricultura Familiar e Agroecologia: Sinais de Esperança. Irmãs e Irmãos, Cuidemos da Mãe Terra”, a 44ª Romaria da Terra do RS reuniu romeiras e romeiros, pastorais e movimentos populares nesta terça-feira de Carnaval (1), no município gaúcho de Ilópolis, no Vale do Taquari. A primeira edição presencial do evento após o início da pandemia ocorreu em formato reduzido, reunindo cerca de 1,6 mil pessoas, ao invés das cerca de 30 mil que costumam participar da tradicional celebração que reforça os laços de resistência dos que lutam por uma terra sem males.
Ilópolis foi escolhida a sede desta edição por sua tradição no cultivo de erva-mate pela agricultura familiar. A origem do chimarrão é herança dos povos indígenas que remonta há milhares de anos. Da mesma forma, a Romaria da Terra é realizada desde 1978 por movimentos populares e pastorais religiosas que se inspiram na resistência de Sepé Tiarajú, assassinado junto de 1.500 indígenas por invasores espanhóis e portugueses na Guerra Guaranítica, em 7 de fevereiro de 1756, uma terça-feira de Carnaval.
Devido à chuva, a caminhada e a celebração foram transferidas do centro da cidade e do Parque do Ibama (Parque da Erva Mate) para a Paróquia Santuário São Paulo Apóstolo. Marcada por místicas que lembraram os problemas do atual modelo de agricultura, que envenena a terra e traz fome, apontou para a esperança de um mundo mais saudável a partir da agricultura familiar e da agroecologia. Também recordou de mártires que perderam a vida na luta pela terra e por uma sociedade mais justa.
O evento teve transmissão online através das páginas do Brasil de Fato RS, Rede Soberania, junto das entidades organizadoras: Romaria da Terra do RS, Paróquia Santuário São Paulo Apóstolo, CNBB SUL 3 e Diocese de Santa Cruz do Sul. Estiveram presentes no evento lideranças políticas e religiosas de todo o estado, que também contou com a participação do músico Antônio Gringo.
Bispo anglicano, Humberto Maiztegui Gonçalves também foi prestar seu apoio às causas populares e ambientais sob o viés da espiritualidade. “Estamos celebrando mais do que ecumenicamente, celebrando a mãe terra de todas as pessoas, da nossa casa comum, e na luta com os movimentos sociais e populares pela agricultura familiar e contra o agroveneno e o agronegócio”, disse.
Da região de Hulha Negra, no Sul do estado, frei Sérgio Görgen foi até Ilópolis com um grupo reduzido, devido à pandemia. “Não podemos deixar de participar da Romaria da Terra, ela é um patrimônio espiritual do nosso Rio Grande do Sul, pede as bençãos sobre a terra, pede as bençãos sobre a alimentação saudável, pede as bençãos sobre a saúde do povo. A gente sente o evangelho de Jesus Cristo muito presente dentro de nós quando participa”, afirmou.
Selvino Heck, membro da Coordenação Nacional do Movimento Fé e Política, destacou a importância da romaria para abraçar companheiras e companheiros, rezar junto e puxar forças para a resistência. “As romarias têm muito a ver com os temas da atualidade. Esta fala do cuidado com a mãe terra, nós estamos num tempo de seca cruel, em um tempo de enchentes que implicam em mortes, pobreza, dificuldade para muita gente, volta do país ao mapa da fome. O cuidado com a mãe terra é fundamental. Assim como o da agroecologia, precisamos de alimentos saudáveis”, defendeu.
O deputado estadual Edegar Pretto (PT) contou que recordava com Olívio Dutra, também presente na celebração, que desde 1982 participa da Romaria da Terra. “É um momento de celebração, renovação da fé, mas também para renovar o compromisso com a natureza, com o meio ambiente e com a agricultura agroecológica, familiar, homens e mulheres que tiram da terra o essencial pra nossa vida que é o alimento de cada dia”, comentou.
“A Agroecologia nos lembra dos direitos do alimento saudável num ano em que tivemos graves mudanças na legislação dos agrotóxicos, alterando inclusive o nome dos agrotóxicos para pesticidas, fazendo passar a boiada”, avaliou Juliano Sá, presidente estadual do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea/RS). “Que esse sinal de esperança da Romaria da Terra nos chame para esse ano tão importante, para que nas eleições a gente possa escolher representantes que defendam a vida”, completou.
Após a celebração, os romeiros receberam mudas de erva mate como símbolo desta edição da Romaria da Terra, representando o compromisso que cada uma e cada um têm de levar para sua terra os compromissos renovados. Também foi realizada uma exposição de produtos como artesanato indígena, alimentos agroecológicos, mudas e plantas medicinais.
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