Com o tema “Direitos humanos não se pede de joelhos, exige-se de pé!” cerca de 500 pessoas de 30 cidades do Mato Grosso estiveram reunidas, em Cuiabá, entre os dias 1º e 2 de maio para primeira Romaria da Terra e das Águas e 29ª Romaria dos Trabalhadores e Trabalhadoras.
(Texto e Fotos: Caio Mota)
A ação organizada pela Comissão Pastoral da Terra do Mato Grosso (CPT-MT) uniu trabalhadores do campo e da cidade para realizar uma série de atividades de formação e mobilizações, que terminaram com uma grande marcha de mais de cinco quilômetros pelas ruas de Cuiabá.
“Essa romaria é um grito por justiça e pela vida. Formando aquilo que o evangelho de João versículo 10 fala: ´eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância`. Essa que é a ideia, abundância pra esse povo que tanto sofre, que é o trabalhador super explorado e que está lutando para conseguir sua terra, que é despejado, humilhado e assassinado também, no campo e na cidade. Esse homem, essa mulher, esse negro, essa negra, esse quilombola, esse indígena, camponês e camponesa, ribeirinho, esse trabalhador que dá o suor de todo dia pra trazer comida pra sua família. A romaria significa aqui uma denúncia e um clamor a esse Deus, que tal qual libertou o povo do Egito e o Deus que quer libertar esse povo que tanto sofre no Brasil, hoje, principalmente pós esse golpe.”, ressaltou o coordenador da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Cristiano Cabral.
Confira a carta aberta da Romaria produzida pelos participantes durante os dois dias de atividades:
CARTA ABERTA AO POVO MATOGROSSENSE
Os romeiros e romeiras, participantes da 1.ª Romaria da Terra e das Águas e da 29.ª Romaria dos Trabalhadores e Trabalhadoras, realizadas nos dias 01 e 02 de maio de 2018, em Cuiabá-MT, que traz sob lema a firme palavra de Dom Tomás Balduino que nos diz “Direitos (...) não se pede de joelhos, exige-se de pé”, saúda a todos os irmãos e irmãs de fé e caminhada do estado de Mato Grosso. Em caminhada com o Deus da vida acreditamos que seremos um povo vitorioso.
Somos lutadores e lutadoras do povo de Deus, em busca de justiça social, num estado tão diverso de culturas e riquezas naturais, mas que sofre a depredação e destruição pelo agro e hidronegócio, ferindo de morte nossa Irmã Terra e Irmã Água. No espírito de Romaria e de comunhão com a vida e com o planeta, queremos manifestar:
1. A situação vivida pela maioria da população após o golpe parlamentar, midiático e judiciário em conluio com as elites do atraso no Brasil em 2016, piora a cada dia. O projeto político e econômico imposto ao Brasil, submetido aos interesses do empresariado nacional e internacional estão privatizando e vendendo o patrimônio do povo: as terras agricultáveis, principalmente na Amazônia e Cerrado, os campos petroleiros, os recursos minerais e mananciais de água.
2. O Congresso Nacional, na sua pior condição de corrupção e ante democracia, gera consequências danosas para a maioria da população, particularmente às mulheres, ao povo negro, às juventudes e a população LGBT’s, com a aprovação da Emendo Constitucional 95, que congela gastos sociais por 20 anos, das reformas como a do Ensino Médio, trabalhista, desmonte das universidades, institutos federais e a qualquer momento a aprovação da Reforma da Previdência.
3. Também programas importantes para o povo do campo, como PRONERA, ATER, PNAE e PAA, que asseguravam a educação, a produção e a compra de alimentos da agricultura familiar para a alimentação escolar tiveram cortes graves no orçamento deixando, praticamente, de existirem e levando ao desalento milhares de famílias.
4. O povo do campo está sendo perseguido e assassinado. Comunidades tradicionais, quilombolas, indígenas, acampamentos e assentamentos são atacadas no seu direito a demarcação e regularização de sua terra e território. Crescem os conflitos e os assassinatos, fruto da ação de fazendeiros e grandes empresários do agronegócio, com medidas que ampliam a legalização da grilagem de terras.
5. Da mesma forma, na cidade milhares de pessoas sofrem a incerteza do amanhã, com um Estado omisso, que não emite títulos de regularização, favorecendo a especulação imobiliária e a todo tipo de violência, como expulsão e despejos relâmpagos.
6. As pulverizações aéreas dos agrotóxicos estão sendo usadas como armas químicas para expulsarem as comunidades de suas terras, matando suas plantações e animais, degradando rios e nascentes e expondo a população do campo e da cidade às doenças e à morte. Repudiamos a tramitação de projetos de lei no congresso nacional que pretendem flexibilizar a legislação dos agrotóxicos, em especial o Projeto de Lei 6299/2002, que busca alterar a denominação de “agrotóxico” para “defensivos fitossanitários”, uma estratégia para enganar a população e esconder o alto consumo de veneno no país e suas graves consequências.
7. Em Mato Grosso, o atual governo de Pedro Taques, adepto do golpismo e submisso ao agronegócio, agrava as precárias condições do Estado quando assegura altos volumes de isenção e renúncia fiscal em favor do agro e hidronegócio, sucateando a saúde, a educação e a assistência social. Da mesma forma a Segurança Pública é desviada de sua função social, sendo colocada a serviço dos interesses privados. Em vez de políticas públicas sérias, vergonhosamente o governo engana a população com um falso e perigoso assistencialismo, através da “Caravana da transformação”. O pleno desenvolvimento das pessoas e sua assistência básica é prerrogativa constitucional e subjetiva. Afinal, TERRA, TRABALHO, EDUCAÇÃO, MORADIA, ÁGUA, TRANSPORTE, SAÚDE E SEGURANÇA PÚBLICAS, SÃO DIREITOS E NÃO MERCADORIA.
Os romeiros e romeiras em caminhada, fiel ao Deus da vida e da justiça, celebram os proféticos 90 anos de Dom Pedro Casaldáliga e afirmam junto com ele que “nossas causas valem mais do que nossas vidas”. CONVOCAMOS A CLASSE TRABALHADORA, POVOS DA CIDADE, DOS CAMPOS, DAS ÁGUAS E DAS FLORESTAS para continuarmos em luta, exigindo nossos direitos de pé. Somente organizados e em luta é que conquistaremos nossos direitos.
Cuiabá-MT, 02 de maio de 2018.