Milhares de pessoas de várias partes do estado de Santa Catarina encontraram-se no dia 10 de setembro, em Pescaria Brava, na paróquia de Capivari de Baixo, para a 24ª Romaria da Terra e das Águas. Várias pastorais e movimentos da diocese acolheram os romeiros e romeiras, às margens da BR 101, na localidade de Taquaruçu (SC).
No palco principal muitas atividades foram realizadas ao longo do dia, como apresentações culturais, música e várias mensagens a partir do tema desta Romaria: “Mata Atlântica, Nossa Casa Comum”. No final da manhã a celebração da Santa Missa, presidida por Dom João Francisco Salm, bispo de Tubarão e co-celebrada por bispos de seis dioceses do Regional sul 4 e por mais de cinquenta sacerdotes e diáconos. Destaque para a presença do pastor da Igreja Luterana, Inácio Lemke.
À tarde aconteceu a caminhada, uma característica de todas as Romarias, com o plantio de mudas e da cruz de cedro, um sinal visível e permanente da realização da Romaria da Terra.
Carta da 24ª Romaria da Terra e das Águas
Os participantes da 24ª Romaria da Terra e das Águas do estado de Santa Catarina emitiram uma carta fruto de experiências vividas durante a preparação do evento e, ao mesmo tempo, se comprometeram com ações concretas na defesa da Criação. Na carta, a partir de reflexões profundas provocadas por Papa Francisco na encíclica Laudato Si e pela temática trabalhada na Campanha da Fraternidade 2017, os romeiros assumiram um compromisso maior no cuidado com a Casa Comum e com o Bioma Mata Atlântica, levando em conta o papel do povo e do poder político e econômico neste processo. Leia a carta na íntegra:
“Não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo” (Rm 13,8).
Antes de voltarmos às nossas casas, já no encerramento da 24ª Romaria da Terra e das Águas, no dia 10 de setembro de 2017, em Pescaria Brava, Diocese de Tubarão, dirigimo-nos a todos os homens e mulheres de boa vontade, em especial aos nossos irmãos e irmãs do Estado de Santa Catarina.
A fé nos faz reconhecer que o Bioma Mata Atlântica foi criado qual um jardim, visitado e regado pelo Divino Jardineiro, que o encheu de suas riquezas. Viu que “era bom” (cf. Gn 1,1-31) e o colocou em nossas mãos, como dom e tarefa. É nossa Casa Comum, onde convivemos e da qual devemos cuidar.
Unimo-nos ao Papa Francisco e afirmamos com ele, que “o cuidado da natureza faz parte de um estilo de vida que implica capacidade de viver juntos e em comunhão. […] Temos Deus como nosso Pai comum e isto nos torna irmãos” (cf. LS, n. 228). “É necessário voltar a sentir que precisamos uns dos outros, que temos uma responsabilidade para com os outros e o mundo, que vale a pena sermos bons e honestos. Vivemos há muito tempo na degradação moral, descartando a ética, a bondade, a fé, a honestidade; chegou o momento de reconhecer que esta superficialidade de pouco nos serviu. Tal destruição de todo o fundamento da vida social acaba por colocar-nos uns contra os outros na defesa dos próprios interesses, provoca o despertar de novas formas de violência e crueldade e impede o desenvolvimento de uma verdadeira cultura do cuidado do meio ambiente” (cf. LS, n. 229).
“O amor, cheio de pequenos gestos de cuidado mútuo, é também civil e político, manifestando-se em todas as ações que procuram construir um mundo melhor […]. O amor social é chave para um desenvolvimento autêntico” (cf. LS, n. 231). “Para tornar a sociedade mais humana, mais digna da pessoa, é necessário revalorizar o amor na vida social – nos planos político, econômico, cultural – fazendo dele a norma constante e suprema do agir” (Pontifício Conselho Justiça e Paz). “[…] Juntamente com os pequenos gestos diários, o amor social impele-nos a pensar em grandes estratégias que detenham eficazmente a degradação ambiental e incentivem uma cultura do cuidado que permeie toda a sociedade” (cf. LS, n. 231).
O Papa faz um apelo a todos os homens e mulheres da terra para que mudemos nosso estilo de vida (cf. LS, n. 203); chama também os líderes dos Estados a uma profunda transformação das atuais políticas locais, nacionais e internacionais (cf. LS, nn. 164-181).
Segundo o Santo Padre, três “R” nos ajudam a atuar de forma conjunta em vista da convivência social e do cuidado com a criação: respeito, responsabilidade e relação: o respeito é a atitude fundamental que o homem há de ter para com a criação, e é inseparável do respeito pela pessoa humana se quisermos promover o bem comum em vista do desenvolvimento integral; a responsabilidade é o modo como devemos atuar, não ficando de braços cruzados diante de qualquer agressão ao meio ambiente; a relação tira do isolamento, estabelece vínculos de pertença e laços de amizade com os semelhantes; evita guetos, violência e injustiça (cf. Mensagem do Papa Francisco aos participantes do II Congresso Internacional “Laudato Si e Grandes Cidades”, Rio de Janeiro, 2017).
Nós, que aqui viemos, queremos responder a esse apelo comprometendo-nos com a adoção de um novo estilo de vida que seja sinal da conversão e da mudança que a história nos pede. Por isso, partiremos daqui tendo assumido juntos algumas tarefas que estão ao nosso alcance realizar:
– Formar pequenos bosques – com as plantas e sementes levadas desta Romaria – em áreas de preservação permanente nas margens dos rios, ou em áreas verdes nos loteamentos urbanos, ou junto às nascentes de água, como símbolo de nosso compromisso de cuidado com a Casa Comum – (Projeto Adote um Rio).
– Promover um caminho educativo – nos diferentes ambientes e através de todos os meios – que ensine a cuidar da natureza, a reverenciar a vida, a consumir com sobriedade, a cultivar de forma sustentável e a alimentar-se bem – (Projeto Setembro Verde).
– Assumir uma Espiritualidade Ecológica que leve a viver de forma integrada e harmoniosa com todos os seres, através do cuidado e do respeito da Casa Comum, reconhecendo Deus Trindade como fonte originária de onde tudo provém.
– Assumir um novo modo de vida que diga não ao consumismo desenfreado, que evite tudo o que agride e polui o meio ambiente, que dê um destino apropriado ao lixo, que evite o desperdício de água e de energia elétrica.
– Agir politicamente, exigindo do poder público a execução do plano de saneamento básico (água tratada para todos, coleta e tratamento do esgoto sanitário, coleta e destino correto dos resíduos sólidos…), a despoluição dos rios e lagos e a recuperação das áreas de terras degradadas.
No Ano Nacional Mariano, que celebra os 300 anos da devoção a Nossa Senhora Aparecida, recorremos a ela, Maria, mulher educadora, Mãe que cuidou de Jesus e que chorou a dor da sua morte; que também agora se compadece do sofrimento dos pobres crucificados e das criaturas deste mundo exterminadas pela ação humana. Com sua intercessão e exemplo, ajude-nos a contemplar o mundo com um novo olhar e a adotar práticas que façam a vida florir. Jesus, o Divino Jardineiro, continue “visitando e regando nossa terra, enchendo-a com suas riquezas” (cf. Sl 65,10a).
Participantes da 24ª Romaria da Terra e das Águas
Município de Pescaria Brava,
Diocese de Tubarão, 10 de setembro de 2017.