A 12ª Romaria da Floresta está sendo realizada de 20 a 23 de julho, em Anapu, Pará.
(Fundo Dema)
Realizada anualmente desde 2005, a Romaria da Floresta chega a sua 12ª Edição. A ação, dinamizada por movimentos sociais do campo e da floresta localizados na região da Transamazônica, no Oeste do Pará, visa chamar a atenção para a questão da violência no campo. Com o início da articulação motivado pela morte da missionária Dorothy Stang ocorrida naquele ano, hoje a caminhada chega a aglutinar cerca de 400 pessoas, considerando que a aproximadamente a metade deste quantitativo é composta por jovens de diversas localidades da região.
Anualmente a Romaria ocorre no fim de julho, com a saída de vários grupos dos movimentos sociais de suas cidades até o Centro de Formação São Rafael, localizado no município de Anapu. Este ano, os participantes saíram no dia 20, quinta-feira, e de lá fazem a caminhada até a área do Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Esperança, lugar onde a missionária foi brutalmente assassinada. Com duração de dois dias, o trajeto solidário é feito entre intervalos de dormida e alimentação.
De acordo com Hugo Sales, representante da Pastoral da Juventude de Brasil Novo, a chegada dos grupos à localidade, que ocorre no sábado, propicia um momento de reflexão e celebração festiva. “Este é um momento de grandeza profética tamanha. [Ter tido] a convivência com a irmã Dorothy já é uma experiência sem igual. É um momento de denúncia do martírio que ela viveu e também um momento de anúncio de um novo tempo”, considera.
Outro jovem que também participa da Romaria, Danyllo Baracho, coordenador da Pastoral da Juventude da Prelazia do Xingu diz que esta é uma ação para além do período em que ocorre a caminhada. Segundo ele, é um trabalho contínuo de denúncia dos conflitos agrários que ainda persistem na região.
“Não é apenas um evento, mas um processo que não se inicia e nem se acaba com a romaria. Durante o ano fazemos mobilizações nas paróquias pautando os conflitos agrários, a doutrina social da igreja e o conhecimento sobre a história de vida, a luta e o martírio dos que lutam por justiça no campo. Nós levaremos cerca de 90 jovens da Pastoral da Juventude. É o momento que essa juventude tem de protagonizar o processo de denúncia”, afirma Danyllo.
Violência no campo
Segundo dados do último relatório de conflitos no campo, publicado este ano pela Comissão Pastoral da Terra, 2016 apresentou um aumento de 26% de casos de violência no campo. Os casos de assassinato tiveram um aumento de 22%, no intervalo entre 2015 e 2016. Neste cenário, o Pará destaca-se como o estado onde ocorreu o maior número de mortes.
A forte presença de ruralistas, inclusive ligados diretamente à atividade parlamentar, o golpe presidencialista e as medidas políticas que vêm sendo tomadas em favor da privatização da terra e exploração dos recursos naturais, fragiliza cada vez mais a proteção às florestas e acirra duramente os conflitos no campo.
Missionária de luta
Pertencente à Congregação das Irmãs de Notre Dame, Dorothy Stang foi assassinada por pistoleiros na manhã de 12 de fevereiro de 2005, no assentamento Esperança, localizado a 40 km do município de Anapu, no Pará. Americana, naturalizada brasileira, a missionária lutava pela democratização do acesso a terra e em defesa dos bens comuns e da vida comunitária no campo e na floresta.