De 5 a 7 de julho realizou-se a 36ª Romaria da Terra e das Águas ao Bom Jesus da Lapa. A romaria se realiza ininterruptamente há 36 anos, no início de julho. Ela foi iniciada pela CPT Bahia, e atualmente incorpora várias dioceses do interior da Bahia, sobretudo do Centro Oeste, por organizações e movimentos sociais e conta com a presença anual de uma média de 5 a 10 mil pessoas. Eis a mensagem final da Romaria:
Uma fé transformadora
Mensagem da 36ª Romaria da Terra e das Águas ao Bom Jesus da Lapa
5 a 7 de Julho de 2013
Saudações cordiais e solidárias dos 8 mil romeiros e romeiras, da 36ª Romaria da terra e das águas!
Esta Romaria, na beira do rio São Francisco, santuário da natureza, nos encontrou unidos e motivados pelo que acabamos de vivenciar nas ruas e praças do Brasil. Queremos propagar a que um país melhor, que na cidade e no campo, todos queremos só será possível se sua terra, suas águas e sua rica natureza estiverem, a serviço da vida de todos os seus filhos e filhas.
Através desta mensagem queremos denunciar e partilhar aspectos que ecoaram nesta romaria feita prece e indagação, contemplação e compromisso nos vários momentos de sua programação.
Numa só voz, todos concordamos que urgentemente deve ser revolucionada uma realidade em que a apropriação particular da Terra - que declarou encerrada a Reforma Agrária - a Água, o Vento e o Sol não podem mais ser vistos como objeto de lucro selvagem e absoluto de grupos privados.
Uma multidão, voluntariamente deixada na sombra, ainda nos exige para sermos solidários ao seu lado: Os povos indígenas da Bahia e do Brasil, Os Quilombolas, o morador de Fundo e Fecho de pasto, os pequenos agricultores e criadores... estão sendo extinguidos pela atual modelo do Estado e pela prática do Judiciário. Com as honrosas e raras exceções.
Outra grande categoria de povos tradicionais, os pescadores artesanais do Brasil, nos faz um apelo. Já que estão sendo expulsos, para dar lugar aos projetos do capital estrangeiro e nacional (latifúndio das águas depois do latifúndio da terra, do vento e do sol) eles nos convocam para fazer valer seus direitos na Constituição sobre seus territórios pesqueiros.
Com os jovens que se projetam como protagonistas em todo o pais, pastorais da juventude reunidas conosco apesar de reconhecerem avanços como a difusão das cotas e da ampliação de vagas no Ensino superior, ainda precisamos reconhecer que se encontram sujeitos a várias mazelas:
- a migração forçada e o trabalho escravo que só no estado da Bahia já mais de 3.000 trabalhadores(as);
- a precariedade persistente do ensino fundamental e médio, que diminui as condições para o ingresso nos cursos superiores;
- a difusão do consumo de drogas alucinógenas por jovens e adolescentes.
Interligados com as multidões e periferias do Brasil, a Romaria nos encorajou a continuar a construir esperanças. Para os nossas crianças, que vimos alegremente reunidas pela primeira vez em plenarinho e para nossos jovens, derrubando novas e antigas amarras e solidarizando-nos na prática da justiça.
Ecoou como um sinal de esperança em nossa Romaria, a noticia que nos trouxeram os companheiros e companheiras de Cocos, Oeste da BA. Mais de 2000 pessoas, em véspera desta romaria, mobilizadas em audiência pública, impediram a construção, já decretada, de uma barragem fatal à vida do rio Carinhanha e do seu povo.
Não paira dúvidas de que o que acontece na nossa Romaria há 36 anos e o que está acontecendo, de maneira diferenciada, nos diversos recantos do país, é um processo de construção de outra civilização. Aqui ensaiamos a verdadeira espiritualidade que o Bom Jesus da Lapa e do Evangelho nos convoca a seguir. É a fé que se transforma em compaixão solidária com todos caídos à beira do caminho, convivência amorosa com todos os seres e anima nossa indignação profética frente a todos os ídolos da mentira e da morte. Com esta fé, sintam-se todos abraçados.
Os participantes da 36ª Romaria da Terra e das Águas