A XIII Romaria da Terra e da Água Padre Josimo foi realizada no último fim de semana em Esperantina. Lembrando a vida e as lutas de padre Josimo, ela reuniu centenas de pessoas no marco dos 27 anos do martírio do padre.
(Texto Tonny e fotos Douglas Mansur)
Na região do Bico do Papagaio, marcada pelo martírio do Pe. Josimo Morais Tavares aconteceu a XIII Romaria da Terra e da Água Padre Josimo – Esperantina, TO, 10-11 de maio 2013.
De diversos lugares da região, de outras cidades e estados, uma multidão de romeiros e romeiras se reuniram em Esperantina, TO para celebrar os 27 anos do martírio do Pe. Josimo Morais Tavares, assassinado em Imperatriz (MA) no dia 10 de Maio de 1986, a mando de latifundiários da região do Bico do Papagaio (TO).
Mulheres, homens, idosos/as e crianças proclamavam numa só voz: “Firmes na Terra, semeando vida”.
Fomos acolhidos pela equipe de coordenação da romaria, junto com o Bispo de Tocantinópolis, Dom Giovane Pereira de Melo.
Estava presente a mãe do Pe. Josimo, Dona Olinda, bem como amigos/as e companheiros/os que trabalharam com ele, Indígenas Apinajé e Krahô. Destacamos a presença da Mada e Bia, agentes de pastoral que muito contribuíram para conquistas e lutas de povo junto com Josimo.
Dom Heriberto Hermes, bispo emérito de Cristalândia e Dom Felipe Dickman, bispo de Miracema do Norte, se fizeram presente na Romaria.
Após a acolhida e oração, lembrando os escritos espirituais do Josimo, bem como os compromissos que ele assumiu, a multidão se dirigiu para as oficinas temáticas:
1° Território e povos tradicionais
2° Hidroelétrica nos rios Tocantins e Araguaia, impactos sociais, culturais e ambientais.
3° Agroecologia e reflorestamento.
4° Juventude fazendo história.
5° Organizações sociais, conquistas e lutas dos trabalhadores do Bico do Papagaio.
6° estado para quê? Estado para quem?
7° Não ao trabalho escravo.
8° Ciranda das crianças.
Após o jantar, os romeiros e romeiras assistiram a um filme sobre os males dos agrotóxicos. Em seguida se deu início a noite cultural, vários artista do povo apresentaram seus cantos e sua arte. As mulheres indígenas fizeram uma dança ritual.
Na manhã do domingo, às 5h da manhã, as atividades tiveram início com a alvorada, fogos, cantos, café e festa, convocando o povo para a grande caminhada martirial. O povo foi acolhido com o canto: “Firmes na terra, semeando vida! Como a vida d’Ele: o Mártir Josimo”.
Josimo, Margarida Alves, Dom Oscar Romero, Ir. Dorothy, entre outros mártires, foram lembrados e tiveram sua memória resgatada durante a Romaria. O povo clamava: “Presente em nossa caminhada!”
A caminhada seguiu pelas ruas de Esperantina. Foi proclamado o texto de Apocalipse, 21,1-7 – “Eu vi, então, um novo céu e nova terra”. Na primeira parada bradamos: “Ouvi o clamor do meu povo”. Foi proclamado o texto de Ex, 31-10. Após o canto: “Vidas pela Vida...”, foram lembrados os clamores de um posseiro de Goiatins, pressionado para deixar suas terras, os clamores de uma mulher de Xambioá, temendo por seus filhos diante da crescente violência na cidade, o clamor de uma mulher Apinajé, preocupada por mais uma barragem anunciada, que irá atingir a terra de seu povo, o clamor de um boia-fria de Ananás, explorado pelo monocultivo do eucalipto e seus venenos, o clamor de um jovem de Araguaína, preso nas armadilhas da droga.
Na segunda parada: “Quero ver brotar o direito como água e a justiça como riacho que não seca.”, (Amós 5,24). Lembraram que somos todos e todas, filhos da terra e das águas, pescadores, ribeirinhos, e todos respondiam: “Somos da Terra, somos da Água, somos da Vida”.
Na terceira parada, “Missionários do Reino da Vida”. Foi proclamado o texto Atos 14,19-28, depois escutamos Luiza Canuto, Dona Oneide e Palmeira, três ‘sobreviventes’ que, cada um à sua maneira, afirmam: “Meu compromisso é com o Reino da Vida”.
Depois das três paradas, Dom Giovane fez esta bela oração:
“Deus da Vida, Pai de Jesus e nosso Pai, em clima de romaria celebramos a Páscoa de Jesus na páscoa dos mártires da caminhada. Nós Te bendizemos pelo amor que neles venceu o medo e o ódio. Com Maria proclamamos que és forte e derrubas dos tronos os soberbos e os poderosos, que és justo e levantam humilhados e famintos, garantindo-lhes o direito e a justiça. Que és fiel e nunca se esqueces de tua promessa. Porque és o Deus dos pobres e oprimidos. Pedimos que derrame em nós a força de Teu espirito como fez em nossos pais e mães da fé: na terna firmeza de Dorothy, na alegria determinada de Josimo, na força de Gringo, na fé indomável de Expedito, na profética coragem de Romero, na total entrega de João Bosco, na santa teimosia de Margarida, na vida invencível e sempre ressuscitada de tantas irmãs e irmãos que semearam suas vidas por causa do povo, para o Reino da vida. Que Teu Espírito nos faça testemunhas desta fidelidade: fidelidade a Ti, Deus dos pobres. Fidelidade aos pobres da terra. Fidelidade ao projeto de uma terra sem males, novos céus e nova terra, pachamama e adamáh, abia iala, terra e mata livres, de todos e todas nós. Amém, Axé, Awere, Aleluia!
Chegando nas tendas, se deu continuidade à celebração, presidida por Dom Giovane, concelebrada por Dom Felipe e Dom Heriberto, e padres da diocese de Tocantinópolis.
A final da eucaristia, os romeiros e romeiras foram enviados a continuar suas missões, sendo vidas Pela Vida, Testemunhas do Reino.
A multidão foi aspergida pelas freiras Bia e Mada, com água perfumada. Todos os romeiros e romeiras foram para os locais que estava servindo o almoço, depois retornaram para suas cidades.