A 27ª Romaria da Terra e das Águas de Alagoas, com o tema da Rebeldia Cabana à Resistência Camponesa, reuniu fiéis, de todas as idades, da cidade e do campo, para uma caminhada de fé, alegria e esperança, na noite do último sábado até o amanhecer de domingo, dias 8 e 9 de novembro.
“Também sou teu povo, Senhor. Estou nessa estrada”
Em um percurso de mais de 11 km, de Canafístula ao Assentamento Boa Vista, em Jacuípe (AL), os romeiros e romeiras cantaram e rezaram sem desanimar. Ao todo foram 5 horas de caminhada por uma pequena estrada de barro, cercada de latifúndios. Iluminados pelo Espírito Santo, pela lua cheia, por candeeiros e velas, o caminho se fez breve.
A Romaria da Terra e das Águas é realizada anualmente pela Comissão Pastoral da Terra, pelas Comunidades Eclesiais de Base e pela Arquidiocese de Maceió (AL). Este ano, contou também com a Paróquia São Caetano de Thiene, do Município de Jacuípe, que sediou o evento.
A santa missa
A concentração da Romaria aconteceu em torno da pequena e charmosa Igreja de Nossa Senhora da Graça, em Canafístula. À sua frente, em cima do trio elétrico, grupo Alfa e Ômega, da paróquia de São Caetano, acolheu os presentes com as músicas da caminhada.
Antes da partida, a celebração da Santa Missa foi realizada com a presença do pároco da cidade, padre José Jeronimo, com o padre Roniel, de Porto Calvo, e presidida pelo padre Alex Cauchi, que por muitos anos foi membro da CPT de Alagoas e, atualmente, atua na Arquidiocese de João Pessoa. No altar, uma miniatura de uma cabana, para lembrar a luta do Povo Cabano.
O Ato penitencial iniciou com as recentes palavras do papa Francisco, que foram lembradas e repetidas pelo povo presente: “nenhum camponês sem terra, nenhuma família sem teto e nenhum trabalhador sem direitos”. Em seguida foram queimados cartazes com palavras que simbolizam o sofrimento do povo imposto pelo capital no campo: cerca, Agrotóxico, latifúndio e monocultivo.
Percurso
Após o banquete da vida, alimentados pelo corpo e o sangue de Cristo, os romeiros e romeiras acenderam suas velas e partiram em caminhada. À frente a “cruz sem males” guiava a romaria.
Um trajeto cheio de pedras lembrava as dificuldades que o povo Hebreu teve ao fugir da opressão no Egito em direção à terra prometida. A animação que vinha do trio elétrico dava o tom de uma caminhada alegre e cheia de esperança.
Aconteceram duas paradas. A primeira, conduzida pela juventude camponesa, refletiu a Rebeldia Cabana, seguida da reflexão feita por Lucilene, do Movimento de Mulheres Camponesas, que através de um cordel lembrou a resistência camponesa. Na segunda parada, o monge João Batista falou sobre a importância da caminhada, da romaria, e que é necessário ter uma direção. “A caminhada pode até cansar, mas é fundamental seguir em frente para alcançar nossos objetivos”, disse o monge aos Romeiros.
Reflexão
A Romaria da Terra e das Águas é a atividade mais importante do ano organizada pela CPT. Essa é uma caminhada de fé e reflexão.
“Caminhamos 11 km, fazendo memória do povo hebreu, escravizado e humilhado no Egito. Seu sofrimento foi sentido pelo Deus da vida, que desceu e os conduziu pelas estradas da liberdade. Lembramos a luta dos Cabanos (índios, negros e brancos) que no século XIX lutaram, na região de Jacuípe, contra a escravidão e pela posse das terras. São essas memórias que nos fortalecem na construção de vida digna no campo e na cidade”, afirmou Carlos Lima, coordenador Regional da CPT.