Por: CPT Araguaia Tocantins
Fotografia: Antônio Filho, Camilla Holanda, Ludimila Carvalho e Marcio Freitas
“Cada árvore, cada palmo de chão, e todos nós: com a bonita lembrança do teu sorriso,
de tua voz mansa e firme. Tua luta será nossa luta. Tua coragem: nossa força.
Teu sonho: nosso sonho. Vida doada pela vida!”
Na manhã do último domingo (15), aconteceu o ato público e a celebração ecumênica em memória do companheiro Cícero Rodrigues de Lima, representante da Articulação Camponesa e liderança comunitária brutalmente assassinada em junho deste ano. A programação reuniu as centenas de camponeses, organizações, movimentos e pastorais sociais participantes do XIII Encontro de Camponeses e Camponesas em uma praça pública e no local do assassinato, em Nova Olinda-TO.
No ato público, na praça da cidade, fizemos ecoar um forte clamor por justiça, lembrando da significativa contribuição de Cícero para a luta pela terra e pelos direitos dos camponeses no norte do Tocantins. Os momentos foram marcados por discursos potentes e emocionados, cantos, preces e poesias, que celebraram a vida e o legado de Cícero. A crescente violência contra as lideranças e comunidades camponesas no Tocantins, foi denunciada pelas dezenas de territórios ali representadas, pela Articulação Camponesa, Comissão Pastoral da Terra (CPT), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Alternativa para a Pequena Agricultura no Tocantins (APA-TO), Universidade Federal do Norte do Tocantins (UFNT) e outros.
Todos e todas expressaram indignação com a impunidade dos crimes cometidos no campo e enfatizaram que o assassinato de Cícero não é um caso isolado, mas parte de uma escalada de atentados à vida e segurança dos líderes, famílias e comunidades que resistem à grilagem, aos grandes projetos, aos retrocessos e ao desmonte das políticas públicas que ameaçam seus modos de vida. A mobilização aconteceu com o objetivo de pedir que as autoridades acelerem as investigações e adotem medidas concretas para garantir que a justiça seja feita, e assim combater a impunidade e a violência no campo.
Na celebração ecumênica em memória a Cícero Rodrigues de Lima, no local onde uma bala assassina ceifou sua vida, no coração do Cerrado, as comunidades, líderes religiosos evangélicos e católicos, inclusive o bispo da Diocese de Araguaína, honraram a memória do companheiro Cícero, que dedicou sua existência à sua família e às famílias em luta por uma vida digna numa terra partilhada, defendendo o direito e a justiça, sem medo de enfrentar oposições, divergências, invejas, sem medo dos poderosos.
Juntos, bendizemos a Deus e entoamos cânticos: “Teu sol não se apagará, tua lua não será minguante, porque o Senhor será tua luz, ó povo que Deus conduz”. Ao serem proclamadas as Bem-aventuranças ditadas pelo próprio Jesus (Mateus 5, 3-12), vimos a memória de Cícero ecoar no Evangelho, como um grito por dignidade, pelo acesso e permanência na terra, um chamado para que o sangue derramado se transforme em sementes de justiça, liberdade e paz.
Ali mesmo, onde cruelmente a vida do companheiro foi interrompida por uma bala assassina, fincamos um marco memorial e plantamos um cajueiro, símbolos da “bonita canção, cantada de novo. No olhar da gente a certeza do irmão: reinado do povo.”, refletida pelo projeto de vida digna “A esperança que vem do cajueiro” coordenado por Cícero, no P.A Remansão.
Por fim, nos abençoamos uns aos outros dizendo: “Cuidai agora na vossa casa do nosso companheiro Cícero, esse grande lutador pela defesa dos direitos da vida, repleto de sonhos bonitos, amante da justiça e da paz. Que sua semente permaneça viva em nossas vidas e nossas comunidades, para sempre. Amém! Enfim, ó Deus, mandai sempre a luz da tua graça sobre nós, faça que possamos ser homens e mulheres sempre atentos aos clamores do teu povo, e aos gritos da natureza. Que nunca nos faltem a coragem e a esperança de continuar nossas lutas pela defesa da vida. Amém!”
Cícero: Presente! Presente! Presente!