O rufar dos tambores da CPT ecoam longe

Rumo aos 50 anos, CPT recorda a origem do Centro de Documentação

Por Antônio Canuto (in memoriam

A mesma lógica de ocupação do território e sujeição das pessoas e povos adotada pelos portugueses ao chegarem em 1500  foi replicada em todas as etapas de ocupação do território nacional.

No contexto da corrida colonialista para ocupar a Amazônia deflagrada pelos governos militares, os povos indígenas e as comunidades camponesas foram consideradas empecilho ao desenvolvimento e progresso e passaram a ser combatidos e os trabalhadores braçais foram submetidos a condições análogas ao trabalho escravo.

A CPT surgiu ouvindo os gritos das comunidades camponesas que viviam submergidas em conflitos para garantir seu direito de viver e trabalhar e as lamentações dos trabalhadores escravizados.

O Boletim Pastoral da Terra, que nasceu no final de 1975, era o espaço que acolhia estes gritos.

O número dos conflitos e violência, porém, era tamanho que era preciso que a sociedade brasileira tomasse consciência do que acontecia. A CPT decidiu reunir  o que lhe chegava de todos os cantos do Brasil num livro  publicado  em 1983 com o título “CPT Pastoral e Compromisso”. Logo,  se concluiu ser imprescindível divulgar, a cada ano, os gritos que lhe chegavam, para a sociedade ter ciência da realidade de quem vivia no campo. 

Foi criada, então, na Secretaria Nacional, um setor de documentação que recebia, analisava, registrava e divulgava as diversas formas de violência a que as comunidades eram submetidas.  Em 1985,  foi  publicado o relatório Conflitos no Campo Brasil, que se tornou, desde então, uma   publicação anual.

Era o único registro do que acontecia nas comunidades do campo: a exploração que trabalhadores e trabalhadoras sofriam, a violência que se abatia sobre suas comunidades, a barbárie sobre a qual o latifúndio e o agronegócio tinham seus alicerces.

A partir de então, este relatório pode ser comparado ao rufar dos tambores que, percutidos pelo setor de documentação, passaram a ecoar em novas paragens. Seu som se tornou ensurdecedor de tal forma que ultrapassou paredes de igrejas, invadiu  redações de jornais, estúdios da televisão e foi sentido com muita intensidade. Os sons dos tambores da Pastoral, potencializados por igrejas, imprensa e universidades, acabaram  invadindo gabinetes de ministérios, o que obrigou o Governo Federal a reconhecer, por exemplo, a existência do trabalho escravo e a criar  instrumentos para combater esta barbárie.

Os sons destes tambores, porém, não foram ainda suficientes para se colocar limites à  propriedade privada, fonte e raiz de todos os conflitos e violência, pois é considerada um direito absoluto, ilimitado ao qual ninguém pode contestar. Colocar limites civilizados à propriedade abriria espaço para todos e todas que quisessem viver do trabalho na terra. Apesar disso, a CPT  não se cansa de fazer ecoar com maestria seus tambores, esperando que um dia sejam tão fortes que obriguem a mudanças profundas na estrutura agrária nacional.

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