NOTA DE REPÚDIO À MORTE DE TRABALHADOR EM QUEIMADA CRIMINOSA NA  USINA SUCROALCOOLEIRA CANABRAVA (RJ)

A Comissão Pastoral da Terra – Regional Espírito Santo/Rio de Janeiro vem a público expressar  seu mais veemente repúdio à morte cruel e inaceitável de um trabalhador rural, Ivanildo da Silva  Felizardo, de 60 anos, queimado vivo em meio a um canavial pertencente à Usina “Nova Cana Brava”, localizada entre os municípios de Campos dos Goytacazes e São Francisco de Itabapoana (RJ), no norte fluminense. 

A tragédia ocorrida não é um acidente, mas sim consequência direta de práticas criminosas e  recorrentes de queimadas, adotadas pelo histórico setor canavieiro a fim reduzir custos de  produção, em total desrespeito à vida humana, à legislação trabalhista e ambiental, e à  dignidade dos trabalhadores e trabalhadoras do campo. 

Esse crime expõe a face mais perversa de um modelo agroindustrial que naturaliza a violência e a morte como parte de sua lógica produtiva. A vida de um trabalhador rural, marcada por  décadas de esforço e resistência na terra, foi tratada como descartável diante da ganância e da negligência de um setor que insiste em manter práticas arcaicas, desumanas e ecocidas. Em 29 de setembro de 2009, o mesmo crime ocorreu, deixando a trabalhadora Cristina Santos carbonizada em meio às práticas de queimada de canaviais. Diante de tanta barbaridade, denunciamos e cobramos ações ao Ministério Público do Trabalho (MPT). 

A CPT denuncia a responsabilidade da Usina Canabrava por mais essa morte e cobra dos órgãos competentes: 

• A imediata investigação e responsabilização criminal, civil e trabalhista da empresa e  seus gestores; 

• A fiscalização rigorosa das condições de trabalho e das práticas ambientais adotadas pela usina; 

• A proibição definitiva das queimadas nos canaviais, com políticas públicas que  garantam transição agroecológica e respeito aos trabalhadores; 

• A assistência às famílias e comunidades impactadas por esse crime. 

A morte de mais um trabalhador é símbolo de um sistema que se sustenta com sangue e fogo. Que o agro pop, tech, não tem nada de “moderno” em suas práticas de exploração da vida humana. Não aceitaremos que mais vidas sejam ceifadas pela lógica da exploração e do lucro acima de tudo. A vida no campo importa. Os trabalhadores rurais têm direito à proteção, ao  reconhecimento e à justiça. Essa luta é do povo do campo, mas também do povo que vive nas  periferias urbanas e nas cidades. 

Nos solidarizamos com a família da vítima e com todos os trabalhadores e trabalhadoras rurais  que, cotidianamente, enfrentam condições precárias e arriscadas em nome da sobrevivência. Reafirmamos, ainda, nosso compromisso com a defesa da vida, da justiça social e da dignidade do povo do campo. 

Campos dos Goytacazes – RJ, 09 de maio de 2025
Comissão Pastoral da Terra – Regional Espírito Santo/Rio de Janeiro

Um comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *