Oficina favorece transmissão de saberes entre jovens e anciãs na terra Xavante de Marãiwatsédé, no Mato Grosso. O tsadaré é um bolo feito em cerimônias rituais e possui grande importância nas relações de troca-reciprocidade, geralmente consumido pelos anciãos da aldeia. Na experiência da oficina, os anciãos elogiaram a iniciativa e ficaram satisfeitos com o retorno do alimento.
(Andreia Fanzeres/OPAN e Imagens: Danilo Guimarães/OPAN)
São Félix do Araguaia, MT – Um grupo de mulheres da Terra Indígena Marãiwatsédé voltou a produzir a receita tradicional do bolo de milho xavante feito na brasa (tsadaré). Elas participaram de uma oficina apoiada pela escola indígena e pela OPAN (Operação Amazônia Nativa) no mês de abril, e transmitiram seus saberes culinários às moças mais jovens. Muitas disseram que até aquele momento nunca tinham cozinhado o tsadaré do jeito como as anciãs ensinaram.
Os Xavante escolheram uma receita com o milho xavante (nodzö), aproveitando sua sazonalidade, já que muitos indígenas haviam feito a colheita semanas antes. A professora e liderança xavante Carolina Rewaptu foi uma das responsáveis por conduzir o processo de ensino-aprendizagem, junto com 25 jovens (de 12 a 20 anos), quatro mulheres adultas e cinco anciãs.
Elas cozinharam três bolos de milho e assaram mandiocas com casca na brasa, de forma tradicional. O tsadaré é um bolo feito em cerimônias rituais e possui grande importância nas relações de troca-reciprocidade, geralmente consumido pelos anciãos da aldeia. Na experiência da oficina, os anciãos elogiaram a iniciativa e ficaram satisfeitos com o retorno do alimento. Enquanto as mulheres fazem o tsadaré, os homens empenham-se em atividades de caça para que a carne complete a refeição. A caça é uma atividade de altíssimo valor cultural para os Xavante, e, mesmo utilizando cada vez mais a carne de animais domésticos no cotidiano, ela não substitui seu status para os indígenas.
Em função da situação generalizada de desmatamento e degradação do território de Marãiwatsédé, fruto de duas décadas de invasões, a realização de expedições de caça é um desafio. Do mesmo modo, a escassez de milho tradicional tem feito com que as mulheres adicionem farinha de trigo e açúcar à receita, afastando-se do modo tradicional e sem aproveitar as propriedades do nodzö.
Além do tsadaré, as mulheres assaram também outros bolos de milho menores, de cozimento mais rápido no borralho, isto é, diretamente nas cinzas sem a proteção de folhas de bananeira-brava. Esta é uma técnica de armazenamento do alimento, para que dure em tempos de escassez.
Receita do bolo de milho tradicional xavante tsadaré
Ingredientes:
Milho xavante debulhado
Água
Folha de bananeira-brava
Terra de cupinzeiro
Modo de fazer:
Primeiramente, o milho foi pilado e peneirado, transformando-se em uma farinha. As indígenas adicionaram água e fizeram uma massa, colocando-a nas folhas de bananeira-brava em formato circular. Durante a montagem do bolo, as anciãs quebraram os cupinzeiros e jogando-os em cima do fogo com madeira. A terra de cupinzeiro tem propriedades que permitem a absorção de uma grande quantidade de calor, sem carbonizar o alimento. Após a montagem do bolo nas folhas de bananeira, eles foram colocados sobre o fogo e a terra dos cupinzeiros. Deste modo, cozinhou por aproximadamente três horas.