Na última sexta-feira, dia 20 de setembro, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) no Mato grosso realizou, em parceria com a Escola Estadual José de Lima Barros, o Festival de Combate ao Trabalho Escravo, na zona rural do município de Nossa Senhora do Livramento, na Baixada Cuiabana, a cerca de 40 quilômetros da capital Cuiabá.
Fonte: Assessoria de Comunicação da CPT com informações da CPT Mato Grosso
Imagem: CPT Mato Grosso
O festival marcou o encerramento das atividades nesta escola da Campanha “De Olho Aberto para Não Virar Escravo”. As ações da Campanha já são desenvolvidas pela CPT no Mato Grosso há mais de 15 anos.
Durante o evento na Escola Estadual, o presidente da Comissão Estadual de Erradicação ao Trabalho Escravo (COETRAE), Inácio Werner, e o Auditor-Fiscal do Trabalho, Amarildo Borges, fizeram a composição da mesa de jurados, que julgaram as melhores apresentações que envolveram a temática do trabalho escravo.
Dentre as apresentações de trabalhos se destacaram as turmas do 1º ao 3º ano do ensino médio, que apresentaram o teatro com o ciclo do trabalho escravo, descrevendo o enredo da “sanfoninha”, material formativo usado historicamente pela CPT para denunciar a prática criminosa do trabalho escravo no Brasil.
Ao todo, o projeto envolveu cerca de 150 pessoas, entre alunos e alunas, pais e mães, professores/as e funcionários da escola. "A construção do festival, ao longo de três meses de formação, só foi possível através de um trabalho conjunto, com a participação da comunidade escolar e de parceiros, como o Ministério Público do Trabalho, o MPT. Isso nos proporcionou levar um pouco mais de informações para as comunidades rurais, historicamente oprimidas pelo fantasma da escravidão", explica Welligton Douglas, agente da CPT no Mato Grosso.
“De olho aberto para não virar escravo”
A revelação da persistência do trabalho escravo no Brasil moderno passa pela Pastoral da Terra. A primeira denúncia pública foi feita por Dom Pedro Casaldáliga, hoje bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia, no Mato Grosso, e um dos fundadores da CPT, em 1971.
Por mais de 20 anos, o Estado negou a realidade assim denunciada, até que, por força das pressões internacionais impulsionadas pela CPT (na OEA, na OIT, na ONU), fosse criado um Grupo Móvel de Fiscalização, em 1995, e construída uma política nacional de erradicação do trabalho escravo, de 2003 em diante.
Libertar milhares de escravos não basta para erradicar o trabalho escravo: é um sistema que tem raízes profundas, econômicas, sociais, culturais. Tratar alguém como se fosse uma coisa não data de hoje num país que, ao longo de quatro séculos, importou à força mais de cinco milhões de africanos.
A “sanfoninha” é um material formativo usado historicamente pela Pastoral da Terra para tratar da prática criminosa do trabalho escravo no Brasil
Crédito: CPT Nacional
Hoje existem rotas contemporâneas do trabalho escravo. E se a escravização persiste no Brasil de hoje, é porque se mantêm as raízes que estão na base do ciclo vicioso da escravidão: miséria, ganância e impunidade. Só extirpando estas raízes é que poderemos eliminar o trabalho escravo.
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