COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Foto: Amanda Costa

Neste mês de novembro, agentes, coordenadores e coordenadoras da CPT estiveram reunidos em Formação Nacional, realizada no Centro Pastoral Dom Fernando, em Goiânia (GO). Em seguida, reuniram-se também no Conselho Nacional, instância de decisão sobre os próximos passos na caminhada junto aos povos do campo.

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Para marcar os dois momentos, ao final uma carta foi elaborada, com uma síntese do que foi discutido e compromissos definidos. Leia:

NÃO SE AMOLDEM ÀS ESTRUTURAS DESTE MUNDO, mas transformem-se pela renovação da mente, a fim de distinguir qual a vontade de Deus: o que é bom, o que é belo, o que é perfeito” (Romanos 12,2)

 Aos agentes da CPT, às igrejas, aos companheiros e companheiras e toda a sociedade,

Dos dias 04 a 11 de novembro, nós da Comissão Pastoral da Terra reunimos agentes, em formação e no Conselho Nacional, para refletir sobre ações estratégicas para o próximo período e pensar o nosso papel na construção do projeto popular para o Brasil.

“Convocados pela memória subversiva do Evangelho da vida e da esperança”, como reza a nossa missão, analisamos a conjuntura nacional neste momento de alívio após um processo eleitoral tão tenso e inquietante, de expectativa de transição de governos, com a ameaça de continuidade deste governo neofascista vencida. Ouvimos representantes de organizações, movimentos sociais e pastorais, e aprofundamos o debate sobre uma proposta de projeto popular para o Brasil a partir dos desafios e resistências populares, com base nas experiências dos camponeses e camponesas, dos povos e comunidades tradicionais e originários.

Interpelamo-nos ainda, de maneira mais exigente, o compromisso com a Ecologia Integral, desmascarada da falsa ideia de sustentabilidade, essa pautada na dominação patriarcal e racista do “desenvolvimento” capitalista ultraliberal, que oprime, mais que outros, as mulheres e os não-brancos, concentra os meios de produção e reprodução da vida - em particular a terra, e o poder político, perpetuando as desigualdades sociais e a degradação do planeta.

Nestes quase quatro anos, o governo de Jair Bolsonaro materializou o projeto neofascista de desmonte das instituições públicas, cruelmente demonstrado no atraso de medidas e redução de recursos para o enfrentamento da pandemia da Covid-19. O mesmo acontece na política de reforma agrária e de demarcação e regularização territorial dos povos originários e comunidades tradicionais, como também no monitoramento e prevenção dos crimes ambientais. Assistimos a volta da fome e do desemprego e a queda do acesso da população mais pobre à saúde, à educação, à previdência social e à demais direitos sociais garantidos pela Constituição Federal de 1988.

O Estado, por omissão, indução e/ou conivência, tem exposto a sociedade brasileira a uma situação de miséria, violência e barbárie. É o que evidencia o aumento dos assassinatos no campo e na cidade, em especial de mulheres, jovens, indígenas e negros, no geral impunes. 

O grave momento exige de nós mudanças para avançar na construção de um projeto popular abrangente e inclusivo, que proteja a nossa “Casa Comum” e instaure outro modelo econômico, a exemplo da Economia de Francisco e Clara, proposta pelo Papa Francisco, que reconheça a natureza como detentora de direitos e toda a vida defendida numa Ecologia Integral.

Reclamamos a democracia real que pressupõe a participação popular da sociedade organizada na construção e efetivação de políticas públicas pautadas pelo Bem Viver. 

Rechaçamos a falsa democracia a serviço do capital. E cultivamos a vigilante esperança no próximo governo, com ampla participação da sociedade e garantia dos instrumentos que assegurem a desconcentração da terra, a demarcação dos territórios das comunidades originárias, a titulação dos territórios de povos quilombolas e tradicionais, bem como a recuperação e ampliação de uma política de produção de alimentos com base na agroecologia, como forma de eliminação da fome.

Com base nas lutas de enfrentamento concreto ao sistema, a CPT renova seu compromisso com o fortalecimento da autonomia das comunidades e com a visibilização de seus saberes e fazeres contrapostos ao sistema. Compromete-se a continuar contribuindo na formação, articulação e mobilização das organizações e movimentos populares do campo, para que os camponeses, camponesas, povos e comunidades tradicionais e originárias sejam os/as protagonistas das transformações necessárias para uma sociedade efetivamente democrática, onde a vida, nas suas mais diversas formas, seja respeitada e valorizada.

Sentimo-nos convocados/as a derrubar as várias cercas que persistem em inferiorizar a natureza não humana, as mulheres, os/as negros, as juventudes, os povos e comunidades tradicionais, os/as empobrecidas do campo. Inspira-nos o Papa Francisco:

"Sois chamados a tornar-vos artífices e construtores da casa comum, uma casa comum que “está em ruínas”. Digamo-lo: é assim! Uma nova economia, inspirada em Francisco de Assis, pode e deve ser hoje uma economia amiga da terra, uma economia de paz.... Viver bem é aquela mística que os povos aborígenes nos ensinam a ter em relação à terra."  (Discurso do papa Francisco na visita a Assis por ocasião do evento “Economy Of Francesco”)

Goiânia, Goiás
11 de novembro de 2022.

 

 

 

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