Dom Vicente de Paula Ferreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, recebeu a ameaça no sábado (12), após celebração da Missa do Crisma, em Moeda (MG)
Com informações da CPT-MT
O bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte (MG) e Secretário Geral da Comissão de Ecologia Integral e Mineração da CNBB[1], Dom Vicente de Paula Ferreira, foi ameaçado de morte por um homem armado, em Moeda, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, após a celebração de uma missa na Paróquia São Caetano, no sábado, dia 12 de novembro.
Segundo a Arquidiocese, o homem foi visto do lado de fora da igreja com arma na mão, e teria dito que aguardava pelo religioso, que, ao fim da missa, foi abordado. O suspeito ainda não foi identificado.
Suspeita-se que a motivação das ameaças seja em razão de sua atuação pastoral frente a denúncias de injustiças e violências causadas pela mineradora Vale S/A e outras, que vêm perpetrando em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, nas bacias dos rios Paraopeba e Doce, em Minas Gerais e em vários outros estados do Brasil.
Dom Vicente também tem sido um firme defensor da democracia no Brasil, se posicionando contra as violências do atual governo ao povo brasileiro e ao meio ambiente.
Em nota divulgada neste domingo (13), o arcebispo da Arquidiocese de Belo Horizonte e presidente da CNBB, dom Walmor Oliveira de Azevedo, repudiou as ameaças, reafirmou que está ao lado de dom Vicente e apoia todas as denúncias que ele vem fazendo e informou que providências judiciais estão sendo tomadas. A Nota ainda afirma que “em uma sociedade livre, democrática, a divergência de opiniões não pode justificar atitudes beligerantes, descompromissadas com a fraternidade”.
A Comissão de Ecologia Integral e Mineração da CNBB também divulgou Nota Pública repudiando e execrando as ameaças a dom Vicente Ferreira. Diz a Nota: “Esse fato está atrelado à realidade nacional que vivenciamos em nossa sociedade onde o ódio e a intolerância política, têm se tornado cada dia mais “aceitáveis”. Em uma sociedade democrática isso não pode ser permitido. A atuação singular na defesa de povos e comunidades que estão em conflito com a mineração, principalmente na defesa dos atingidos do rompimento da Barragem da Vale em Brumadinho, também fazem parte do contexto no qual o Bispo Dom Vicente Ferreira vem sofrendo ameaças”. A Comissão solicita, ainda, que os órgãos do Estado cumpram com o dever de proteção e investigação.
A Comissão Pastoral da Terra (CPT/MG) se soma à Arquidiocese de Belo Horizonte, à Comissão de Ecologia Integral e Mineração da CNBB, ao CIMI[2] e às outras organizações de direitos humanos que repudiam com veemência mais esta ameaça gravíssima a dom Vicente Ferreira. Exige, também, do Ministério Público e dos Comandos das Polícias Militar e Civil em Minas Gerais, uma apuração rigorosa e célere, e que o Poder Judiciário julgue com celeridade os ameaçadores e os possíveis mandantes.
O Estado de Minas Gerais tem sido nos últimos anos estado campeão em trabalho análogo à situação de escravidão. Em Minas Gerais, mais de 50 lideranças camponesas já foram mortas nos últimos 50 anos na luta pela reforma agrária e na luta pelo resgate dos territórios dos povos indígenas. Foi no estado que aconteceu o massacre dos fiscais do Ministério do Trabalho – Nélson José da Silva, João Batista Soares Lage e Eratóstenes de Almeida Gonçalves, e o motorista Aílton Pereira de Oliveira – em Unaí, dia 28 de janeiro de 2004, porque apuravam a existência de trabalho escravo no município de Unaí, no noroeste de MG, em fazendas do agronegócio. Os quatro empresários mandantes do crime – Antero Mânica, Norberto Mânica, Hugo Alves Pimenta e José Alberto de Castro –, mesmo condenados a mais de 60 anos de prisão, continuam soltos e impunes.
Leia na íntegra a Nota Pública do Arcebispo dom Walmor de Oliveira, da Arquidiocese de Belo Horizonte e presidente da CNBB:
“É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida” (Lc 21,19). O arcebispo dom Walmor Oliveira de Azevedo se solidariza e permanece unido a dom Vicente de Paula Ferreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, vítima da intolerância, da falta de um senso mínimo para a convivialidade, do desrespeito covarde, colocando vidas, dom sagrado, em risco, sintomas graves de uma sociedade adoecida.
Providências judiciais já estão sendo adotadas para que as hostilidades destinadas a um servidor do Evangelho, no exercício de sua missão, não permaneçam impunes.
Em uma sociedade livre, democrática, a divergência de opiniões não pode justificar atitudes beligerantes, descompromissadas com a fraternidade. O Evangelho ensina que todos, independentemente de suas convicções, somos irmãos uns dos outros, filhos e filhas de Deus.”
Belo Horizonte, MG, 14 de novembro de 2022
Assina esta nota pública:
Comissão Pastoral da Terra – CPT/MG
[1] Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – www.cnbb.org.br
[2] Conselho Indigenista Missionário – www.cimi.org.br