COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Apesar de significar um avanço, o texto do regramento deixa de fora outros ecossistemas, como os do Cerrado, ao discorrer sobre a proteção apenas de áreas definidas como "floresta"

Por Campanha Nacional em Defesa do Cerrado
Foto: Thomas Bauer/CPT-H3000 
 
O Parlamento Europeu votou ontem, 13 de setembro, a proposta de Regramento sobre a Importação de Produtos Livres de Desmatamento. A recomendação foi apresentada em novembro de 2021 pela Comissão Europeia, e pretende regular a exportação e entrada no mercado da União Europeia (UE) de determinados produtos básicos e produtos associados ao desmatamento e degradação florestal.
 
Por 453 votos a favor, 57 contra e 123 abstenções, o Parlamento Europeu aprovou a proposta, que é uma reivindicação histórica da sociedade civil organizada, e também uma demanda da população europeia. Segundo pesquisa online realizada com nove mil pessoas em nove países da UE, 81% dos entrevistados são contra a venda de produtos que prejudicam as florestas.
 
A UE é atualmente responsável por 16% do desmatamento tropical ligado ao comércio internacional de produtos básicos como soja ou óleo de palma. Nesse sentido, aproximadamente 20% das exportações de soja e pelo menos 17% das exportações de carne bovina do Brasil para a UE podem estar ligadas ao desmatamento ilegal. A proposta tenta conter o efeito que o consumo de determinados produtos produz no desmatamento global e, para tanto, impõe requisitos à importação, exportação, produção e comercialização desses produtos na UE.
 
A articulação Ecologistas em Ação, formada por mais de 300 grupos ecologistas ao redor da Espanha, publicou um texto comentando os avanços e desafios da votação de hoje. Entre os avanços, destacam a inclusão da carne suína, ovina e caprina, aves, milho, borracha, carvão vegetal, couro e produtos de papel impresso no escopo do Regramento. Outro destaque é a obrigatoriedade de que as instituições financeiras estejam sujeitas a requisitos adicionais para garantir que suas atividades não contribuam para o desmatamento. Também foi classificado como avanço pela articulação o reforço, no texto, da dimensão dos direitos humanos e direitos específicos dos povos indígenas, exigindo o cumprimento das normas internacionais dos direitos humanos, e não apenas das leis estatais sobre os direitos da terra.
 
Em sua coluna no site UOL, o jornalista Jamil Chade, que acompanha a política internacional, classificou a votação de hoje como um sinal verde inédito da Europa a sanções ambientais, e também como uma derrota diplomática do governo Bolsonaro, que encabeçou uma ofensiva para evitar que a Europa aplique medidas protecionistas.
 
Desafios
 
Como desafio evidenciado na votação, a articulação Ecologistas em Ação apontou que a posição adotada pelo Parlamento Europeu, de proteger apenas áreas e regiões definidas como "floresta", deixa de fora a proteção de outros ecossistemas naturais, como zonas úmidas, alagadas, pastagens ou savanas - estas últimas seriam o caso do Cerrado, que teria 74% de sua área desprotegida com o atual texto do Regramento. A inclusão dessas áreas e regiões, diz a articulação, teria melhorado significativamente o regramento, e precisarão ser incluídas o mais rápido possível.
 
Também foi destacado como desafio o fato de que a proposta aprovada hoje não preveja - por enquanto - um mecanismo de responsabilidade civil ou a possibilidade de reparação e compensação por parte das empresas.
 
Após a votação de hoje terão início as negociações do texto final entre a Comissão, Conselho e Parlamento europeu. "Tais negociações podem ser difíceis, pois a posição do Conselho é muito conservadora e, de acordo com as atas confidenciais de julho às quais essas organizações [da articulação] tiveram acesso, ele não parece estar disposto a melhorar sua posição", diz o texto dos Ecologistas em Ação.
 
Carta ao Parlamento Europeu
 
Com o objetivo de incidir sobre a votação de hoje, a Campanha Nacional em Defesa do Cerrado enviou uma carta ao Parlamento Europeu ressaltando que a proposta em pauta tem sérias limitações que afetam diretamente o Cerrado e seus povos. Na carta, a Campanha lembrou ao Parlamento que durante o julgamento realizado pelo Tribunal Permanente dos Povos (TPP) em Defesa dos Territórios do Cerrado em julho deste ano, a União Europeia (UE) foi uma condenadas pelo júri, pois suas compras massivas de produtos agrícolas, especialmente a soja, contribuem para promover o Ecocídio do Cerrado e o genocídio de seus povos.
 
 
 
 
 

Save
Cookies user preferences
We use cookies to ensure you to get the best experience on our website. If you decline the use of cookies, this website may not function as expected.
Accept all
Decline all
Read more
Analytics
Tools used to analyze the data to measure the effectiveness of a website and to understand how it works.
Google Analytics
Accept
Decline
Unknown
Unknown
Accept
Decline