COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Realizada em dois momentos, virtualmente em abril de 2021 e, desta vez, presencial nos dias 28 de abril a 1 de maio de 2022, a XXVII Assembleia da Comissão Pastoral da Terra Mato Grosso reuniu agentes pastorais para eleger e tomar posse novos e novas conselheiros e conselheiras. Também foram estabelecidas as principais ações do regional em vista das prioridades da missão pastoral no estado.

Leia na íntegra a carta elaborada após o encontro:


Carta da XXVII Assembleia da Comissão Pastoral da Terra de MT – CPT MT

Tema: Cuidar da Vida, Cuidar da Terra.
Lema: “Enviou-me para cuidar dos que estão com o coração quebrantado” - (Is 61, 1-3).

Nossa assembleia aconteceu em dois momentos; O primeiro encontro deu-se no formato virtual nos dias 21 a 23 de abril de 2021, em virtude da pandemia da covid 19.

O segundo encontro aconteceu de forma presencial, em Ribeirão Cascalheira – MT, nos dias 28 de abril a 1 de maio de 2022, na qual foram eleitos e tomaram posse os novos e novas conselheiros e conselheiras do nosso regional. Nosso encontro foi de lavar a alma!

No chão que pisamos, nas paredes do Santuário dos Mártires da Caminhada, na energia que envolvia a todos e todas presentes no encontro, nos saciamos com abundância de abraços, orações, cantos, partilhas, ânimos de fé, de vida e de luta. É muito bom sentir o calor humano com todas suas expressões! É muito bom a sintonia com os/as Mártires da Caminhada! O testemunho deles e delas é força e luz para seguirmos em frente e firmes, com Deus que caminha ao nosso lado, na profecia e na luta. “...lugar onde se é... TEKOHÁ”.

Na dinâmica de partilha da caminhada, foi marcante o diálogo, em especial, com aqueles e aquelas que fazem parte da nossa CPT desde seu nascimento, há 47 anos e com representantes de todos as regiões do estado de Mato Grosso (mais de 50 lideranças de comunidades e grupos, agentes voluntários e liberados); representantes da CPT Nacional; do bispo de São Félix do Araguaia; Conselho Indigenista Missionário - CIMI; Movimento de Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Terra– MST; do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – FDHT; da Rede de Sementes do Xingu; Coletivo de Mulheres Araguaia Xingu; e Centro de Direitos Humanos Dom Pedro Casaldáliga.

Fizemos resgate da história e missão da CPT a partir da experiência vivida na prelazia de São Félix do Araguaia sintetizada na carta Pastoral de Dom Pedro Casaldáliga “Uma Igreja da Amazônia em conflito com o latifúndio e a marginalização social”, na qual ele nos convoca: “Queremos e devemos apoiar o nosso povo, pôr-nos ao seu lado, sofrer com ele e com ele agir. Apelamos à sua dignidade de filho de Deus e ao seu poder de teimosia e de Esperança.”

A seguir, olhamos para a conjuntura vivida pelas comunidades, onde se destaca as violências contra os povos das águas, da terra e da floresta; governo que não prioriza a reforma agrária; modelo de produção que exclui a agricultura camponesa; fragilização e desmonte dos órgãos de apoio aos camponeses e camponesas; aumento vertiginoso de famílias em situação de miséria e sem acesso ao mínimo necessário para sobrevivência.

Constatamos, que mesmo em situações tão difíceis, se multiplicaram ações de solidariedade e resiliência com a produção e distribuição de alimentos pelos camponeses e camponesas. Com manifestações de muitas formas de resistência às situações de opressões e violências que vivenciam nossas comunidades.

Estamos conscientes dos grandes desafios por que passa nosso povo, seja na luta pela terra/território, por dignidade e sustentabilidade econômica, ecológica, social e política. Por se tratar de ano eleitoral, faz-se necessário despertar ainda mais nosso povo quanto as “armadilhas e raposas que querem tomar conta do galinheiro”, ou seja, as mentiras com cara de verdade contadas com o fim de obter votos. Isso é muito ruim, por se tratar de políticas comprovadamente desastrosas e contrárias a vida, em especial, dos camponeses e das camponesas.

A partir disso, ousamos olhar para frente, no sentido de buscar saídas para as nossas comunidades, com a criação de relações de respeito às diversidades de gênero, orientações sexuais, étnico-raciais, sociais, religiosas e políticas. E fortalecendo as relações com a sociedade, organizações parceiras em defesa da luta dos camponeses e camponesas e comunidades urbanas.

Definimos como principais ações em vista das prioridades da nossa ação pastoral no estado:

• Fortalecer o diálogo e agenda de lutas entre as organizações que são pela reforma agrária, pela agroecologia, pela resistência, pelas redes solidárias, buscando políticas públicas estruturais e de Estado em defesa da terra/territórios e da Vida, no espírito da não violência;

• Abraçar o projeto “encantar a política” em defesa da democracia, com o afastamento de quem quer impor um projeto autoritário e antidemocrático, representado pelo atual presidente da república do Brasil e poder fazer juntos e juntas o “fora Bolsonaro”.

• Ampliar o envolvimento das mulheres e das juventudes na vida das comunidades e da sociedade;

• Lutar por políticas públicas para o fortalecimento da agricultura camponesa agroecológica em especial, nos acampamentos e assentamentos.

Mantemos nossa causa e missão de lutas na confiança e firmeza da fé e da Esperança teimosa. Concluímos com nosso grito: chega de violências; de governos corruptos; de aversão à política; de desmonte dos direitos; de venenos; de agrotóxicos; enfim, de mortes matadas!

Viva a esperança!
A luta continua!
Fora Bolsonaro!

Santuário dos Mártires da Caminhada,
Ribeirão Cascalheira, Mato Grosso, 01 de maio de 2022.

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