Em reunião no assentamento de Campo Alegre, comunidade Santa Luzia, município de Queimados (RJ), a Comissão Pastoral da Terra Regional Espírito Santo e Rio de Janeiro (CPT-ES/RJ) realizou assembleia entre os dias 1º e 3 de abril. Na ocasião, foram definidas prioridades coletivas após reflexão e reafirmação da missão pastoral.
Leia a carta produzida durante a assembleia:
CARTA DA 23ª ASSEMBLEIA REGIONAL DA PASTORAL DA TERRA DO REGIONAL ESPÍRITO SANTO E RIO DE JANEIRO
Nós, agentes da Comissão Pastoral da Terra do Regional Espírito Santo e Rio de Janeiro, comunidades acompanhas, pequenos agricultores e agricultoras, quilombolas, acampados e acampadas, assentados e assentadas da reforma agrária do Norte e Sul Capixaba, do Norte e da Baixada Fluminense, nos reunimos na XXIII Assembleia Regional da CPT ES/RJ entre os dias 01, 02, 03 de abril de 2022 no assentamento de Campo Alegre, na comunidade Santa Luzia, no município de Queimados RJ. Este momento foi de suma importância para reflexão e reafirmação de nossa missão pastoral, imanadas/os com a força de nossas/os ancestrais. Nós cantamos com a Mãe Terra e debatemos sobre nossas estratégias de presença e de luta para os próximos anos, junto aos povos e comunidades tradicionais e camponesas, tendo em vista os desafios de hoje.
Definimos coletivamente como prioridades: 1) dentro da estrutura organizativa da CPT, fortalecer setores e funções imprescindíveis e garantir sua sustentabilidade, tais como, a comunicação, administração e jurídico, além da formação contínua de agentes e novos; 2) apoiar a luta por terra e defesa dos corpos e territórios livres dos povos e comunidades tradicionais e camponesas e seus modos de vida, considerando indispensáveis estratégicas, resistências e articulações das mulheres, juventudes, LGBTQIA+, antirracismos e a agroecologia integral como princípio para o cuidado com a Casa Comum e por uma sociedade do Bem-Viver.
Existem forças do capital que nos impõem uma agenda de morte, essas forças querem retirar dos territórios os modos de ser, pensar e sentir na realização do espaço comum. Seja por meio direto, como assassinatos e políticas de remoção, seja por meio indireto, como o apagamento da ancestralidade e destituição de atividades produtivas tradicionais.
O capital universalizante, em seu projeto devastador, ameaça a humanidade por todo planeta, caracterizado pela destruição de todas as formas de vida que lhe opõem e alienação completa. Por meio da necropolítica e do racismo, da racionalização das técnicas, da racionalidade dos modos de vida e da idealização da violência, se ganha dinheiro explorando a sociedade e a natureza, transformando-as em mercadorias. Nós, que vivemos nesse sistema-mundo hostil a partir do seu lado periférico-dependente historicamente, experimentamos tal condição de forma ainda mais dramática, não só por razões histórico-estruturais, mas também conjunturais: pelo modo como os governos e em especial o atual governo brasileiro tem se comportado diante da pandemia de Covid-19.
A lógica primário-exportadora do agrohidronegócio superou a área cultivada suprimindo os itens básico da mesa das/os brasileiras/os como, o arroz, o feijão e a mandioca – principais alimentos da população. O aumento espetacular da produção predatória de commodities agrícolas e minerais são as principais responsáveis pela destruição dos bens comuns e dos ecossistemas. Desta maneira, vivemos uma situação de (in)segurança alimentar, pois a alimentação saudável e com preço justo não é prioridade, visto que o Estado ignora o financiamento das práticas – racializando-as – da agricultura familiar camponesa.
Com a teimosia e a rebeldia que vem dos povos do campo, das águas e das florestas avancemos na defesa da terra, dos territórios, saberes e corpos livres. Assim, reafirmamos a nossa solidariedade com as comunidades e defendemos a governança e autodeterminação dos povos e seus territórios.
“Somos gente nova vivendo a união, somos povo semente de uma nova nação ê, ê,
somos gente nova vivendo o amor, somos comunidade” (Zé Vicente)
Queimados, 3 de abril de 2021.