Apesar do acordo pífio oriundo da COP 16, em Cancún, camponeses (as) e militantes de várias partes do mundo vão continuar na resistência. Bolívia, um dos únicos países a levantar a voz contra os acertos da Conferência, vai pedir a anulação de tais acordos na corte de Haia.
No dia 28 de novembro, organizações sociais do mundo todo iniciaram uma intensa jornada de luta no marco da Cúpula sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (COP 16). Desse dia até o dia 9 de dezembro, foram realizadas marchas, assembleias, oficinas, fóruns e ações globais para inserir diversos povos e nações na luta pelo resgate de um pensamento voltado para a proteção da Mãe Terra.
Durante vários dias, a intenção principal de todas as manifestações foi denunciar o desrespeito à natureza, a devastação ambiental que ameaça a humanidade e a comercialização de bens essenciais para a vida em benefício das transnacionais.
Na última sexta-feira (10), a Cúpula sobre o clima chega ao fim, mas o mesmo não deve acontecer com as ações articuladas pelas organizações sociais e ambientais. Enquanto campesinos/as, povos indígenas, agricultores e demais afetados pelas decisões em torno do clima não forem inseridos no debate, a luta não deve cessar.
Fazendo ecoar a voz de uma parcela desses povos, a Via Campesina tornou pública na quinta-feira (9) a ‘Declaração de Cancun’. O documento reafirma a necessidade de justiça ambiental e respeito à Mãe Terra e demonstra quais medidas podem, de fato, esfriar o planeta, e reverter problemas como a insegurança alimentar, que estão estreitamente ligados às mudanças climáticas. É também mais um meio para denunciar os atuais modelos de consumo, produção e comércio, causadores da destruição ambiental.
Apesar do intenso debate em torno de temas que envolvem o clima mundial, a Via Campesina denuncia que os governos estão indiferentes ao aquecimento do planeta e por isso, as discussões são voltadas não para estratégias de resfriamento, mas para negócios financeiros especulativos, para a nova economia verde e a privatização de bens comuns.
Também é grave ver a disseminação e implantação de soluções falsas e perigosas, como a ação de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD+), o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDSL) e a geoengenharia, considerados como ‘comercialização dos bens naturais e compra de permissão para contaminar os créditos de carbono’.
A energia nuclear, a agricultura industrial, os produtos transgênicos, os tratados de livre comércio que beneficiam apenas os países do Norte e da Europa, e a atuação do Banco Mundial, do Fundo Monetário Internacional e da Organização Mundial de Comércio, entidades que facilitam a ingerência de grandes transnacionais; são apenas algumas das iniciativas insensatas denunciadas.
O que se espera é a participação popular nas tomadas de decisões por meio de uma consulta mundial, a valorização da agricultura familiar, atividade que ajuda a esfriar o planeta e garante a segurança alimentar; incentivos à mudança de estilo de vida e consumo; e políticas de proteção à biodiversidade.
Tudo isso precisa ser concretizado levando-se em consideração os princípios dos acordos feitos durante a Conferência Mundial dos Povos sobre Mudança Climática, realizada em Cochabamba, na Bolívia. Na ocasião, os povos afetados pelas mudanças climáticas protagonizaram o cenário de debates e decisões e criam propostas efetivas para reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa e gerar a justiça social e ambiental.
"Não mais dano à Mãe Terra? Não mais destruição ao planeta! Não mais despejos de nossos territórios! Não mais morte aos filhos e filhas da Mãe Terra! Não mais criminalização de nossas lutas!"