Mobilização organizada pelas mulheres contou com mais de 10 mil militantes, abrindo a rodada de grandes mobilizações de rua.
Rafael Soriano e foto Cristiane Passos - Equipe de convergência
A Cúpula dos Povos, por Justiça Social e Ambiental e em Defesa dos Bens Comuns, realizada em paralelo à Rio+20, abriu oficialmente o ciclo de manifestações de rua, na manhã desta segunda-feira (18/06), com uma grande marcha das mulheres de diversas organizações e movimentos sociais. Mais de 10 mil pessoas percorreram as ruas do Centro do Rio de Janeiro para dar um recado claro em questionamento às falsas soluções propostas por Estados e grandes corporações, para as questões sociais e ambientais.
“Não é à toa que seja das mulheres o primeiro grande ato da Cúpula dos Povos”, garante Alana Moraes, da Marcha Mundial das Mulheres. E continua: “nós mulheres somos as mais afetadas pelo modelo de sociedade sustentado pela elite e baseado na exploração do trabalho. Não há como o capitalismo se reproduzir de maneira sustentável, pois sempre precisará da nossa carga de trabalho doméstico e está baseado na exploração do trabalho.”.
Para as manifestantes, só é possível alguma transformação da sociedade com justiça social e ambiental. Noeli Taborda, do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC/Via Campesina), denunciou o problema sistêmico. “Mais de 10 mil marchantes estamos denunciando as falsas soluções propostas por chefes de Estado, que não abrem mão de sua economia e pretendem avançar sobre nossos territórios para saquear nossos recursos”.
Explica que este modelo que sempre foi o gerador da violência à mulher, à juventude e às comunidades, pretende agora se reapresentar com a insígnia da “economia verde”. As lideranças discursaram para a multidão de milhares de militantes da Marcha Mundial das Mulheres, mulheres indígenas, movimentos camponeses ligados à Via Campesina no Brasil e no mundo, entidades estudantis nacionais, mulheres organizadas na Central Única dos Trabalhadores e um sem número de organizações.
Mulheres lutam pelo mundo
Marta Emília, da Guatemala, representante da Via Campesina Internacional classificou a marcha como um marco na luta dos povos por direitos. “Aqui, articulamos nossas lutas como mulheres, em diferentes continentes. Em vários pontos do planeta estamos em pé de luta pela defesa do território e da Mãe-Terra”, disparou a líder camponesa neste dia que classificou como “uma data energética para o povo Maia”, em luta.
Para além das pautas específicas das mulheres, contra a violência doméstica e opressões cotidianamente sofridas, foi destacado o papel central das feministas nas diversas lutas dos povos. Gina Vargas, da Articulação Feminista MarcoSur, testemunhou sobre o enfrentamento a grandes projetos ameaçadores, no Peru. “Estamos presentes na luta contra a mineradora Conga, numa aliança feminista com mulheres indígenas e urbanas, o que acumula como aliança de classe para terminar com o machismo, sexismo, patriarcado e, em última instância, com o capitalismo”, declarou.
Ocupação do BNDES
Ao final da marcha, um grupo de quarenta mulheres se somou à mobilização engrossada pelos povos originários, da ocupação do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES). Para as manifestantes, o banco público tem papel no financiamento do que acaba se tornando a exploração das mulheres. “Tanto ao manter a lógica do capital financeiro, como quando o banco financia grandes eventos, que se instalam e reservam os empregos para os homens, enquanto que às mulheres é legado a prostituição”.
Cerca de 5 mil manifestantes partiram nas primeiras horas da manhã desta segunda-feira do Sambódromo, no Centro e percorreram a Avenida Presidente Vargas e Rio Branco, recebendo o reforço de mulheres oriundas de outras partes da cidade em concentração no Museu de Arte Moderna, no Aterro do Flamengo. O ato de encerramento da marcha aconteceu no Largo da Carioca, com a animação cultural e ato político característico dos movimentos feministas e populares.