“Resistência e Luta conquistam território no Araguaia Mato-Grossense” é o título da obra apresentada por Antônio Canuto, nesta quarta-feira, 23, durante a abertura do Encontro Nacional de Formação da Comissão Pastoral da Terra (CPT), realizado em Hidrolândia (GO), que tem como tema “Romper cercas… Tecer o Bem Viver”. O primeiro lançamento do livro ocorreu na capital mato-grossense, Cuiabá, no dia 24 de setembro.
Texto / Imagem: Assessoria de Comunicação da CPT Nacional
“São 365 páginas que contam justamente a luta e a resistência na luta pela terra, e que conta os primórdios da criação da CPT. A Pastoral da Terra nasceu como uma sugestão do Pedro [Dom Pedro Casaldáliga] de convocar uma reunião dos prelados da Amazônia para enfrentar toda aquela problemática da terra que existia naquele momento”, contextualiza Canuto, que viveu por 26 anos na região da Prelazia de São Félix do Araguaia, no Mato Grosso.
O autor da publicação chegou ao Araguaia em 1971, como padre, incorporado à equipe pastoral da Prelazia de São Félix, coordenada por Casaldáliga. Eram tempos severos e sangrentos de repressão da ditadura militar. Logo em 1972, Canuto substituiu o padre Francisco Jentel em Santa Terezinha, procurado, processado e condenado por crime contra a Segurança Nacional e, por fim, expulso do Brasil, acusado de ser o responsável pela reação dos posseiros diante da violência da grande empresa Codeara, do grupo BCN – Banco de Crédito Nacional. Em 1997, Canuto se mudou para Goiânia (GO) para contribuir com a Secretaria Nacional da CPT. Atuou como coordenador nacional, secretário da Coordenação Nacional e no Setor de Comunicação.
“Esse livro começou a ser escrito esses dias atrás, em 1972, quando teve o grande conflito em Santa Terezinha com a empresa Codeara, e eu fui lá para ficar uns 4 ou 5 dias para acompanhar o conflito, e acabei ficando por 13 anos. E, diante daquela situação, eu comecei a escrever o que estava ocorrendo ali, rascunhei tudo à mão, pois não tinha computador, não tinha nada disso, e depois datilografei. E isso ficou guardado lá no arquivo da Prelazia de São Félix do Araguaia”, conta Canuto.
“A história da luta pela terra e a conquista dela está entranhada na Prelazia de São Félix do Araguaia” - Antônio Canuto
Ao se aposentar do trabalho diário na Secretaria Nacional da CPT, ele resgatou aqueles escritos que havia feito e juntou com as ricas histórias da seção intitulada ‘Retalhos de Nossa História’, do Jornal Alvorada, da Prelazia de São Félix. “Nesta seção eram publicadas matérias garimpadas, nos espaços mais diversos, que tinham a ver com a história da região, sem a preocupação de se ater a critérios de ordem cronológica ou de concatenação de fatos. Era uma riqueza sem par de informações. Valia a pena publicá-las num livro. Mas para isso era preciso organizar e ordenar o que estava escrito para que o povo da região e, sobretudo, as escolas tivessem um material que informava adequadamente todo o processo de formação e ocupação do território”, contextualiza o membro da CPT.
Ao longo desses anos no Mato Grosso, o membro da CPT conheceu de perto como os grandes empreendimentos chegaram à região, no período da ditadura brasileira, com o discurso de “desenvolver” a Amazônia. Na realidade, porém, o que buscavam eram os recursos abundantes que o governo oferecia. Com imensas áreas sob seu domínio, inclusive núcleos urbanos, e com muito dinheiro, usaram de todos os artifícios imagináveis para expulsar as poucas famílias de posseiros existentes e invadir as Terras Indígenas. Nesse sentido, o livro também aborda como os sertanejos foram chegando no Araguaia e se estabelecendo naquela região. “Toda essa ocupação desse território, por indígenas e não-indígenas, é muito recente, coisa de uns 100 anos apenas”, destaca Canuto.
Adquira a publicação “Resistência e Luta conquistam território no Araguaia Mato-Grossense”
Para Antônio Canuto, pode-se afirmar, com segurança, que a ocupação deste território foi um processo de resistência e luta de indígenas, posseiros e posseiras, pequenos agricultores e agricultoras para defender e conquistar os territórios que ocupavam diante de uma invasão galopante do grande capital, incentivado pelo governo federal através da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e de outros programas governamentais.
Próximos eventos
Após o lançamento para os/as agentes da Comissão Pastoral da Terra, Canuto parte agora para a região que protagoniza esse livro, o Araguaia. Confira as datas e localidades:
25/10 – Santa Terezinha
29/10 – Vila Rica
01º/11 – Confresa
06/11 – Cana Brava
08/11 – Porto Alegre do Norte
09/11 – Santa Cruz do Xingu
16/11 – São Félix do Araguaia
18/11 – Luciara
Após essa temporada de lançamentos no Mato Grosso, Canuto apresenta a publicação em São Paulo capital, no dia 12 de dezembro, e depois, no dia 13, em Campinas.