No dia 9 de dezembro, véspera do 65º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos e o Dia Internacional dos Direitos Humanos;o Movimento Humanos Direitos (MHuD) comemorou 10 anos e festejou em meio à entrega do Prêmio João Canuto a personalidades que lutam em defesa dos direitos humanos, nos mais diversos setores da sociedade brasileira.
(MHuD)
Dirigido por artistas conscientes de sua alta responsabilidade social, que na última década visitaram áreas de conflito onde pessoas estavam ameaçadas de morte; participaram de julgamentos e de atos públicos; produziram campanhas veiculadas em redes sociais e em cadeia nacional de TV; promoveram debates; fizeram pressão no Congresso, junto a ministros e até a presidentes da República; o MHuD é um exemplo de cidadania.
Dira Paes, Camila Pitanga, Priscila Camargo, Bete Mendes, Wagner Moura, Eduardo Tornaghi, Marcos Winter e Padre Ricardo Rezende são alguns dos que estão na linha de frente do MHuD.
Antes da entrega do Prêmio João Canuto, houve um debate, mediado pela atriz Dira Paes, do qual participaram o juiz Jônatas Andrade, que é titular da Vara do Trabalho de Marabá; Gabriel Rocha, da secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República; Lélio Bentes, ministro do TST; Maurício Santoro, da Anistia Internacional; e Roberto Caldas, juiz da Corte Interamericana de Direitos Humanos.
Os homenageados deste ano são o juiz Jônatas dos Santos Andrade, que por sua atuação firme, foi ameaçado de morte e já recebeu no ano passado o Prêmio Direitos Humanos, na categoria Erradicação do Trabalho Escravo; Manoel Conceição Santos, líder camponês, nascido em 1935 no Maranhão; Antônia Melo, do movimento Xingu Vivo para Sempre; Roberto de Figueiredo Caldas, juiz da Corte Interamericana de Direitos Humanos e membro da Comissão de Ética Pública da Presidência da República; Maria Rita Kehl, Doutora em Psicanálise e jornalista; Itamar Silva, jornalista e ativista, um dos coordenadores do Ibase, o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas; Cícero Guedes (in memorian), líder sem-terra assassinado com 12 tiros, no início deste ano; Gloria Perez, na TV Globo desde 1979, fazendo novelas de conteúdo social; Irmã Geraldina Magela da Fonseca, de Minas Gerais, agente da CPT no estado, filha de lavradores, que atuou em São Paulo, na assistência às crianças de rua, trabalho que continua no Vale do Jequitinhonha; Maria da Penha Maia Fernandes, vítima emblemática da violência doméstica; e Frei Henri Burin des Roziers.
Frei Henri nasceu em Paris em 1930, serviu no Exército francês, participou da resistência ao nazismo, e, graduado em Letras pela Sorbonne e em Direito Comparado por Cambridge, Doutor em Direito pela Universidade de Paris, em 2000 foi um dos advogados de acusação no julgamento de Jerônimo Alves do Amorim, fazendeiro que em 1991 mandou matar o sindicalista Expedito Ribeiro de Souza. Figura em lista de marcados para morrer, como ocorreu com a Irmã Dorothy Stang, desde 23 de fevereiro de 2005, está sob proteção policial do Estado do Pará, a pedido da OAB. Frei Henri foi representado, na ocasião da entrega do prêmio, por José Batista Afonso, advogado da CPT em Marabá, pois está na França em tratamento médico.
Em homenagem aos integrantes do MHuD e aos premiados, Caetano Veloso, Gabriella Florenzano e Elba Ramalho cantaram no teatro da Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema, no Rio de Janeiro, local da cerimônia. Acompanhada ao piano pelo maestro Matheus Araújo, ex-regente da Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz, Gabriella cantou músicas do maestro Waldemar Henrique e do maestro Wilson Fonseca, o Isoca, para mostrar a beleza e erudição da música dos compositores parauaras, destacando o trabalho da atriz Dira Paes e o quanto ela eleva o nome do Pará com sua atitude cidadã. A Comissão Justiça e Paz da CNBB Norte II, coordenada pela Irmã Henriqueta Cavalcante, prestigiou o evento, assim como o presidente da Anamatra - Associação Nacional dos Magistrados Trabalhistas, Paulo Luiz Schmidt; o Vice-Presidente do TRT 8, Desembargador Luís Jesus Ribeiro; o Procurador da República Felício Pontes Jr.; e as promotoras de Justiça Ociralva Tabosa e Leane Fiúza de Mello, do MPE-PA.
Sobre o prêmio
O prêmio faz referência ao dirigente sindical João Canuto, assassinado com 18 tiros no dia 18 de dezembro de 1985 no sul do Pará, a mando de um grupo, entre eles Adilson Carvalho Laranjeira, fazendeiro e prefeito de Rio Maria na época, e Vantuir Gonçalves de Paula. O inquérito demorou oito anos e a denúncia foi feita pelo MP só em 1996. Doze anos depois, na iminência de a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA condenar o governo brasileiro pela demora na apuração dos fatos, o andamento do processo foi agilizado. Em 1999, o Brasil foi mesmo condenado pela OEA.
Sob pressão de organizações de direitos humanos, em 2001, os dois acusados foram pronunciados como mandantes do assassinato. Mas a perseguição e violência contra os trabalhadores rurais continuam na região. Cinco anos após a morte de Canuto, três de seus filhos, Orlando, José e Paulo, foram sequestrados e dois deles assassinados. Orlando sobreviveu, mas ficou gravemente ferido. Expedito Ribeiro, sucessor de Canuto na presidência do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, foi assassinado em 2 de fevereiro de 1991. Um mês depois, Carlos Cabral, sucessor de Ribeiro e genro de Canuto, foi ferido num atentado a bala.