COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

A oficina aconteceu na tarde da última sexta-feira (30), no primeiro dia do VII Simpósio Internacional de Geografia Agrária (SINGA), que ocorre em Goiânia entre os dias 30 de outubro e 03 de novembro. Dezenas de estudantes, pesquisadores, representantes de movimentos e outros participaram da discussão. Confira:

 

 

O VII Simpósio Internacional de Geografia Agrária (SINGA) ocorre juntamente com o VIII Simpósio Nacional de Geografia Agrária e a Jornada das Águas e Comunidades Tradicionais. O evento tem como tema central “A questão agrária na contemporaneidade: dimensões dos conflitos pela apropriação da terra, da água e do subsolo”. O SINGA é realizado com momentos no Campus I da Universidade Federal de Goiás (UFG) e no Teatro Madre Esperança Garrido, em Goiânia, Goiás.

“É uma ocasião muito especial, ao comemorar esses 40 anos da CPT, estarmos no SINGA”, ressaltou Ruben Siqueira, da coordenação executiva nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT), ao iniciar a oficina organizada pela CPT para o evento. Na tarde do primeiro dia de Singa, aconteceram as oficinas e rodas de conversa.

Mais de 90 pessoas, entre estudantes, representantes de movimentos sociais, professores e pesquisadores, participaram da oficina ministrada pela CPT e por professores geógrafos que colaboram com a entidade. A oficina teve como tema a “Produção e uso de dados de conflitos agrários no Brasil – a experiência da Comissão Pastoral da Terra e de geógrafos agrários”. Contribuíram com esse momento Múria Carrijo Viana, documentalista do Centro de Documentação Dom Tomás Balduino da CPT, Plácido Junior, geógrafo e agente da CPT Nordeste II, Carlos Walter Porto-Gonçalves, da Universidade Federal Fluminense (UFF), Ariovaldo Umbelino de Oliveira, da Universidade de São Paulo (USP), Bernardo Maçano, da Universidade Estadual Paulista (UNESP), e Guiomar Germani, do Núcleo de Geografia dos Assentamentos Rurais – Geografar/ Universidade Federal da Bahia (UFBA). 

Plácido, ao iniciar a oficina, trouxe uma breve memória sobre a conjuntura do nascimento da CPT. “No contexto do regime militar, de sufocamento de muitas lutas camponesas, do avanço do capital sobre o campo e de aumento dos conflitos, a CPT nasce e faz uma escolha de não estar junto ao poder. De não estar no planalto. A CPT faz uma escolha de estar na planície, junto com os povos do campo”, destacou o agente pastoral.

A publicação anual da CPT, Conflitos no Campo Brasil, completa 30 anos em 2015. Plácido Junior explicou aos participantes como começou o registro dos conflitos pela CPT. “É esse jeito de ser da CPT, de ouvir o povo e caminhar junto com ele, que faz com que a CPT tenha essa preocupação em não deixar essa memória ser esquecida – memória da luta e da caminhada do povo. Então parte sobre tudo de se fazer o registro das violências cometidas contra o povo do campo e ao mesmo tempo fazer com que essa história não fique guardada apenas nos livros de história, arquivos e gavetas. A gente pode dizer que a CPT não tinha como horizonte a criação de nenhum banco de dados. Isso foi um processo”, contextualizou Plácido, que ressaltou ainda que a entidade não pode perder a dimensão Pastoral, “que é a maior dimensão desse trabalho. Apenas depois foi criando a dimensão científica”.

“A CPT é encontro”. Essa frase significativa foi dita, durante oficina, pelo professor e colaborador da CPT, há anos, Ariovaldo Umbelino. “Posso dizer que sou um discípulo da CPT. Eu tive o privilégio de ver ela nascer. Tive o privilégio de conhecer Canuto [membro fundador da CPT], lá em Santa Terezinha, no começo dos anos 80, e assistir, pela primeira vez, um padre partilhar o pão de fato. Pegamos o pão, molhamos no vinho e comemos. A CPT é isso, gente. A CPT é encontro”, relembrou Ariovaldo.

Após contar sobre seu encontro com a CPT, Umbelino destacou o termo visibilidade, ao falar sobre o registro dos conflitos no campo e como é necessário mostrar, a partir desses registros, a luta do povo. “Não adianta nada você ter um Centro de Documentação maravilhoso e isso não ser visível. Mas essa é uma contradição insolúvel, porque se por um lado há a dificuldade de se tornar visível, por outro lado o que a CPT e o Centro de Documentação mais fez foi tornar visível a luta pela terra”, afirmou.

“A CPT faz, através do Centro de Documentação, talvez a maior contribuição já feita, certamente no Brasil, da denúncia de violência, da denúncia da barbárie que atravessa o campo. Mas a CPT não é só isso. A CPT denunciando essa barbárie conseguiu avanços significativos, por exemplo, em todo o processo de combate ao trabalho escravo”, finalizou Ariovaldo.

Hoje na Bahia com um núcleo de geografia dos assentamentos rurais, Guiomar Germani, ao longo do evento, voltou ao ano de 1978, quando foi ao Paraná para pesquisar “in loco” sobre os impactos da construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu. Mas essa viagem ao estado mudaria muita coisa em seu trabalho. “Meu primeiro marco foi quando fui fazer o mestrado em planejamento urbano e regional em 1978. Eu comecei a minha pesquisa indo ao escritório da CPT em Curitiba e me debruçando nos arquivos e notícias sobre Itaipu. Foi aí que comecei o trabalho. E isso já muda todo o espirito do trabalho. Começava como o impacto de Itaipu. Depois de eu ler os artigos, eu mudei a base da linha conceitual e metodológica, e aí eu vou trabalhar com a resistência à Itaipu e conclui como os expropriados de Itaipu. Quer dizer, os sujeitos se revelam nessa trajetória”, relembrou a professora.

Ao fim do debate, Antônio Canuto, membro fundador da CPT, respondeu questionamento de Gabriel, da Pastoral da Juventude Rural da Bahia, sobre “a retirada de espaço da CPT pela igreja”. Além de responder a pergunta, Canuto convocou os estudantes de geografia agrária, pesquisadores e demais pessoas para contribuírem com a CPT. Seja mandando informações para a Pastoral sobre conflitos no campo ou histórias de resistência com que se deparam durantes suas pesquisas. “Porque a gente não consegue ter um registro da realidade. A gente registra aquilo que chega ao nosso conhecimento. E existem conflitos e violências que ninguém nunca vai saber. Por isso precisamos também da ajuda de vocês”, disse Canuto aos participantes da oficina.

Para fechar a oficina, Múria convidou todos e todas a cantarem “Quero entoar um canto novo de alegria ao raiar aquele dia de chegada em nosso chão...”

 

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