Na última segunda-feira, 08 de maio, a Campanha Contra a Violência no Campo foi lançada em Mato Grosso do Sul. O evento aconteceu na sede do Armazém do Campo, em Campo Grande/MS e contou com a participação de diversos movimentos sociais e sindicais, autoridades, lideranças indígenas e camponesas, além de professores e pesquisadores universitários.
Com mais de 60 entidades integrantes no Brasil, a Campanha chega ao MS para se configurar como uma ação coletiva de enfrentamento às violências e aos conflitos que sofrem as populações camponesas, com ações e políticas de proteção das comunidades tradicionais, dos povos originários, dos campesinatos, das florestas e das águas.
As ações da plataforma estão em andamento a nível nacional desde agosto de 2022, quando foi lançada em Brasília. Durante este ano de 2023, o objetivo da Campanha é se organizar e estruturar nos estados. É o que explica Carlos Lima, coordenador nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT), durante o evento de lançamento estadual.
“Nós chamamos esse processo de enraizamento, e tem como objetivos, entre outros, denunciar todas as formas de violência contra os povos do campo, reivindicar políticas públicas de proteção e promover uma cultura de paz, com justiça social”, explica o coordenador da CPT.
Na oportunidade, a CPT fez também o lançamento de sua publicação anual Conflitos no Campo Brasil 2022, que trouxe dados alarmantes sobre a escalada da violência no país e no estado, registrados no último ano. Em 2022 foram registrados 75 conflitos em Mato Grosso do Sul, envolvendo 59.152 pessoas, sendo que destas, seis foram assassinadas, todas indígenas dos povos Guarani e Kaiowá. Estes dados colocaram o estado em 3º lugar no ranking nacional da violência no campo.
Um dos momentos fortes do evento foram os depoimentos. Presente na mesa de debate, uma liderança quilombola* relatou a violência provocada pelos latifundiários que envenenam as águas e as plantações com o uso de produtos agroquímicos. Exames na água que as famílias consomem identificaram 12 tipos de agrotóxicos que são usados nas lavouras de soja e milho próximas da comunidade.
Outra liderança* participante do evento, do povo Guarani Nhandeva, relatou as constantes ameaças que sofrem por parte dos fazendeiros com quem disputam seus territórios ancestrais, e por parte da própria polícia, que ao invés de proteger, na maioria das vezes, é quem agride as populações indígenas, colocando em risco a vida das pessoas para defender o lucro e a ganância daqueles privilegiados que enriqueceram às custas do Estado e da exploração dos recursos naturais e da mão de obra escrava.
Para encerrar a noite de lançamentos os participantes puderam assistir a uma emocionante apresentação do coletivo Imaginário Maracangalha e também a apresentação do violeiro e cantor Nicholas Silva.
A ação foi uma iniciativa da Comissão Pastoral da Terra (CPT), do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Terra (MST), da Central Única dos Trabalhadores (CUT), da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (FETAGRI), da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), da Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (FETEMS) e da Coordenação Nacional das Comunidades Quilombolas (CONAQ).
*Os nomes das lideranças que participaram da mesa de debate não foram revelados por questões de segurança
Foto: Equipe CPT MS