COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

O documento traz dados dos conflitos referentes ao ano de 2021 e 14 textos de análise dos conflitos no campo. Roraima é destaque pela violência aos  povos indígenas da Terra Yanomami.

Texto e fotos: Evilene Paixão

A Comissão Pastoral da Terra (CPT), Regional Roraima, realizou no dia 3 de junho o lançamento da publicação anual "Conflitos no Campo Brasil 2021". Depois de dois anos virtual, o evento aconteceu de forma presencial no auditório do Instituto de Antropologia (INAN) da Universidade Federal de Roraima (UFRR), encerrando as atividades da I Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária (JURA).

A coordenadora do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), Maria Gerlane, deu início ao evento com a acolhida aos participantes interpretando a poesia “Madrugada camponesa”, de Thiago de Mello. A primeira mesa foi formada com a participação da deputada federal Joênia Wapichana (Rede-RR); Padre Lúcio Nicoletto, administrador da Diocese de Roraima; Irmão Danilo Bezerra, coordenador da Pastorais Sociais e Geomar Vilela do MST-RR.

“O Caderno de Conflitos registra histórias, vidas, dignidade ceifada, e junto com elas mostra a violência contra a biodiversidade, que também é detentora de direitos. No Brasil vivemos uma realidade marcada pelo retorno da fome, pela miséria e violência no campo. Estamos diante de um aumento da violência contra as mulheres, mas também de um aumento das resistências, da solidariedade, onde os povos do campo tem sido exemplo de partilha diante da fome, mas também na defesa do meio ambiente. Nesse sentido é oportuno lembrar que a CPT é a única entidade a realizar tão ampla pesquisa em nível nacional, se tornando a grande fonte de pesquisa das instituições de ensino e da imprensa”, destacou padre Lúcio em sua fala.

A publicação traz dados referentes ao ano de 2021 e 14 textos de análise dos conflitos no campo. Roraima é destaque no relatório quando se trata em violência em terras indígenas, principalmente, aos povos Yanomami e Ye’kuana.

“A pessoa que é responsável pelo Brasil é quem flexibiliza e incentiva a invasão em terras indígenas. Não podemos banalizar essa violência e as mortes dos povos indígenas. Precisamos da proteção do estado brasileiro. A terra é sagrada”, disse a deputada que ainda destacou a importância da garantia dos territórios na vida das populações originárias. “É tão importante ter uma terra saudável, porque daí fluem os direitos sociais, alimentação, segurança e a paz que eu digo é justiça. Mas, o que vivemos nos últimos anos, foram tempos desafiadores enquanto sociedade, enquanto povos indígenas”.

O segundo momento do lançamento contou com a participação de Laurindo Lazzaretti, do Conselho Regional da CPT Roraima, que apresentou os dados do caderno de "Conflitos no Campo Brasil" e a historiadora e professora da Universidade Estadual de Roraima (Uerr), Maria José Ribeiro, assessora da articulação da Amazônia Brasileira e membra do Conselho da CPT Regional Roraima.

Lazzaretti destacou que o documento apresenta três dimensões: Denuncia, anuncio e profecia. Ele explicou que  o número de casos de violências levantados pela CPT  foi de 70% a mais em relação a 2020, isso nos casos de violações de direitos e violações contra as pessoas. “Denuncia porque aqui em Roraima se trata da violação contra os povos indígenas, do campo e das aguas que nesses últimos anos têm sofrido diversos ataques, principalmente, contra os Yanomami e Ye’kuana. Anuncio porque ao mesmo tempo que denuncia, anuncia que essas violações têm que acabar. O povo do campo, das águas, da floresta tem todos os direitos de terem uma vida digna. E a profecia é olhar lá na frente a partir das histórias e dos acontecimentos com o horizonte do Bem-Viver, direito a vida com integridade”, explicou.  

A coordenadora da CPT em Roraima, Vanessa Xavier, enfatizou que tem sido muito difícil para a CPT em todo Brasil ver o aumento dos conflitos nestes últimos anos. Para ela, mesmo com a Constituição Brasileira, que garante direitos e que dá prioridades no cumprimento da função social da terra para diminuição das desigualdades sociais, o que vivemos hoje é contraditório e injusto.

“Passamos por momentos tão cruéis na nossa história enquanto sociedade e em pleno século 21, ao invés de avançarmos, estamos retrocedendo em relação a garantia mínima de direitos para a maioria da nossa população. E mesmo com todo esse aumento visível dos conflitos em nossa região [Amazônia], tão cobiçada para exploração de seus recursos naturais, tem conflitos que aconteceram e que nem chegam a se tornar públicos, ou quando chegam já se passou um tempo, e o que ouvimos das comunidades é o medo de denunciar, pois a impunidade parece reinar no campo em nosso país", destacou.

Para ter acesso ao caderno "Conflitos no Campo Brasil" acesse: https://www.cptnacional.org.br/loja-virtual/conflitos-no-campo

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