Durante missa de sétimo dia de Edvaldo Pereira Rocha, assassinado em 29 de abril, Dom José Valdeci lembrou a luta por terra e por território das comunidades tradicionais e cobrou empenho para que tenhamos justiça e dignidade
Mário Manzi - Assessoria de Comunicação CPT Nacional/Com informações
das Pastorais Sociais Nordeste 5
Foto: Reprodução
O ano de 2022 já soma 18 assassinatos no campo, destes, dois foram de quilombolas, no Estado do Maranhão. Do ano de 2020 para cá, já são sete quilombolas assassinados, apenas no estado. Edvaldo Pereira Rocha é uma destas vítimas. Presidente da Associação de Quilombolas do povoado Jacarezinho, ele foi morto a tiros, no dia 29 de abril.
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Em razão da violência contra os povos do campo, e como forma de lembrar a vida e a luta de Edvaldo, foi realizado ato público, no dia 05 de maio, na comunidade quilombola Jacarezinho, na cidade de São João do Soter, localizada a 420 km da capital, São Luís (MA).
A celebração solene, que teve a participação das Pastorais Sociais do Campo, foi iniciada às 10 horas de quinta-feira, na comunidade, e envolveu a realização da missa de sétimo dia da liderança.
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O ato litúrgico foi celebrado por Dom José Valdeci Santos Mendes, bispo de Brejo (MA), e trouxe reflexões sobre a violência dos conflitos, bem como a negligência de estruturas do governo perante as mortes no Maranhão. Em sua fala, Dom Valdeci também lembrou a morte do quilombola José Francisco Lopes Rodrigues, assassinado no dia 8 de janeiro deste ano, na comunidade Cedro, em Arari (MA).
Maranhão
Em 2021, foram registradas 43 ocorrências de conflitos contra quilombolas apenas no estado, conforme a publicação Conflitos no Campo Brasil 2021, divulgada em abril último. Dos 35 assassinatos registrados no último ano, pelo Centro de Documentação Dom Tomás Balduino (Cedoc-CPT), e conforme consta na publicação, 9 ocorreram no Maranhão, tendo sido o segundo estado com maior índice de mortes no campo, logo atrás de Rondônia.
Leia abaixo trecho da homilia de Dom José Valdeci Santos Mendes, bispo de Brejo (MA):
"Colocar em primeiro lugar, toda a riqueza, esquecer a dignidade da pessoa. Nosso Deus é o Deus da vida. O Evangelho diz: nós todos somos discípulos de Deus. E fazer a vontade de Deus é lutar pela vida, é lutar pela dignidade, é lutar pela justiça, é lutar para que tenhamos um mundo mais digno. E isto requer o nosso empenho, o nosso testemunho.
Então, celebrar esse dia de hoje, eu diria. Mataram, tiraram a vida do nosso irmão Edivaldo. Mas o seu testemunho, a sua clareza, a sua luta pela justiça, devem estar presentes no coração de cada um e de cada uma.
Para que de fato se tenha a terra, para que de fato se tenha um território para que de fato se possa viver com dignidade. Então, ao celebrarmos esse dia de hoje, sétimo dia do nosso irmão que brutalmente foi assassinado, que possamos nos engajar por essa luta.
É importante que as autoridades do Estado venham a comunidade não simplesmente para fazer foto. O Iterma tem o seu papel, que é importante. Quantas coisas nesse nesse Maranhão acontecem exatamente pela omissão, e às vezes penso que é mais que omissão, é conivência. Quantas coisas acontecem exatamente porque o Incra, não assume a sua responsabilidade diante das comunidades, diante dos pobres? Quantas coisas acontecem porque a SEMA dá uma licença sem olhar a vida das comunidades tradicionais, dos povos indígenas? Quantas vezes acontece as coisas exatamente porque no momento passa, há uma correria, todo mundo se faz presente - e isso acontece também em Arari?"
São João do Soter, 05 de maio de 2022.