No último fim de semana, segundo relatos dos moradores do Ramal da Parabrilho, em Cutias do Araguari (AP), a 140 quilômetros da capital Macapá, homens fortemente armados, em dois carros, entraram na área, ameaçaram os agricultores que estavam no local, atearam fogo na casa de um deles, que no momento do ataque estava na Igreja, e mataram o cachorro da família.
(Cristiane Passos* – com informações da CPT, PM e imprensa local / fotos: PM e Comunidade)
Um agricultor relatou que no dia 23 de abril, último domingo, por volta das 14h00, em Vale da Benção, no Ramal Parabrilho, após chegar da igreja, encontrou sua casa queimada e o cachorro da família morto a pauladas. Ele voltou rápido ao local após ter recebido uma ligação de vizinhos relatando o que teria acontecido. Ao chegar na localidade, encontrou a equipe da Comissão Pastoral da Terra (CPT), que fazia visita na região após receber a denúncia desses casos de violência, e os vizinhos.
Um dos moradores o informou que duas caminhonetes com vários ocupantes armados, começaram a ameaçá-lo, e em seguida atearam fogo na casa do agricultor, e mataram o cachorro da família. Ele seguiu para Cutias, para avisar do ocorrido aos policiais militares de plantão do quartel de Cutias, apresentando vídeo com o cachorro morto e relatando o ocorrido.
O Batalhão de Policiamento Rural (BPRU) organizou uma pequena operação ao receber informações de que os suspeitos estariam escondidos na comunidade Corre Água. Foi preciso reunir três equipes policiais, de Cutias, Santa Luzia e São Joaquim do Pacuí, já que os criminosos, conforme denúncia, estariam fortemente armados. De acordo com informações divulgadas pela própria polícia, foram encontrados 2 revólveres calibre 38, com 19 munições intactas e uma já utilizada, um facão, 2 espingardas, uma calibre 12 e outra calibre 28, uma arma de ar comprimido e dois bastões tipo tonfa. Três suspeitos foram levados para Macapá, para o Centro Integrado de Operações em Segurança Pública (Ciosp). Um deles foi liberado e os outros dois foram autuados por porte ilegal de arma de fogo e estão à disposição da justiça. A Polícia Civil do Amapá vai assumir o caso.
De acordo com denúncia da comunidade, ao todo, na última semana, cinco residências foram queimadas por esse grupo armado. Um dos agricultores relatou ter sido abordado pelo grupo quando estava com sua esposa numa moto. De acordo com o relato, ele foi abordado pelo motorista de um dos carros e o carona do banco da frente. Os dois homens estavam armados e o ameaçaram, mostrando as armas e dizendo que estavam a mando dos supostos proprietários da terra, que na verdade são terras da União, e que os ocupantes já solicitaram a destinação destas para reforma agrária. Nessa abordagem, os criminosos teriam dito para o agricultor que saísse da área, pois tinham ordem que caso encontrassem pessoas ocupando as terras da Parabrilho tinham ordem "para matar". Segundo a comunidade, há dois bandos que entram em dias diferentes para ameaçarem as famílias da Parabrilho. Na madrugada de sexta-feira, dia 22, o outro grupo havia entrado na área e queimado quatro casas e espancado um morador.
Em abril de 2016, a CPT no Amapá já havia solicitado à então superintendente do Incra no estado, Maria Assunção, que duas áreas, a Parabrilho e a Queiroz Santos, fossem destinadas à reforma agrária, com a criação de Assentamentos. As famílias vivem há anos na região, produzindo alimentos saudáveis que abastecem as feiras da capital amapaense.
*Setor de Comunicação Secretaria Nacional da CPT.