Entre 15 e 18 de outubro, ocorreu em João Monlevade, em Minas Gerais, um encontro de formação para agentes de pastoral que atuam junto às comunidades impactadas pela mineração no estado. Uma iniciativa da Rede Igrejas e Mineração, recém-criada em Minas, em vista dos crescentes conflitos causados por essa histórica atividade. Confira, também, a Carta Final do Encontro:
Texto por Gilscilene Mendes, com colaboração de Leleco Pimentel e Ruben Siqueira - CPT
Imagem: Rede Igrejas e Mineração
Participaram do evento aproximadamente 40 agentes de oito dioceses – da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Cáritas, Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), Comissão para o Meio Ambiente / Mariana e colaboradores do Movimento pelas Serras e Águas de Minas, Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) e da assessoria do deputado Federal Padre João (PT).
A abertura do encontro contou com o testemunho de Dom Vicente Ferreira, bispo auxiliar de Belo Horizonte, que passou a residir em Brumadinho depois do crime socioambiental da empresa Vale. Ele abordou a importância da recém-criada Comissão Episcopal da Ecologia Integral, pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). “A partir dos dramas ecológicos e socioambientais, devemos animar os movimentos da sociedade para salvar a humanidade e a Casa Comum”, afirmou. Ele destacou também a importância do Sínodo da Amazônia para despertar a Igreja para um novo olhar para uma Ecologia Integral e a coragem do Papa Francisco em desafiar a Igreja em saída em defesa da vida.
O objetivo do encontro foi construir caminhos para o comprometimento da Igreja através das pastorais contra os projetos de morte da natureza e de vidas humanas, e fortalecer a luta em defesa da Criação.
Além da conjuntura geral, buscou-se compreender a específica, sobre mineração no país e no estado, bem como a da Igreja. A rica troca de experiências dos/as participantes foi o ponto alto do evento. Além de ser um espaço de aprendizado, foram pensados encaminhamentos de ações para a Rede Igrejas e Mineração, por ser uma parceira forte das comunidades atingidas pela mineração sem freios em Minas.
Carta Aberta da Rede Igrejas e Mineração – Minas Gerais
Nós, agentes de pastoral, participantes do Curso de Formação da Rede Igrejas e Mineração – Minas Gerais, reunidos de 15 a 18 de outubro de 2019, refletimos sobre a situação das comunidades atingidas pelo setor minerário e seus impactos sobre a Casa Comum. Em comunhão com o Sínodo da Amazônia nos inspira, a partir da Ecologia Integral, a lançar um olhar sócio-ecológico e teológico sobre a realidade dos territórios.
Muito nos espantou a agressividade das empresas, alicerçadas nos Governos, para controlar os territórios de vida, transformando-os em lucro e morte. São claros os sinais de que o atual modelo minerário está em profunda crise. Os exemplos dos crimes em Mariana e Brumadinho mostram isso. Mas além dos rompimentos de barragens, a mineração viola os direitos das comunidades, contamina e destrói águas e causa vários outros impactos que inviabilizam a vida e as possibilidades de alternativas econômicas nos territórios.
A cobiça das empresas não cessa. Não recua. Essas não reconhecem a catástrofe vivida pela sociedade. Insistem em avançar com este modelo. Está em curso um plano articulado entre empresas minerárias e os Governos Estadual e Federal, visando a liberação de diversas licenças ambientais (como da VALE/SAMARCO em Mariana), inclusive em áreas de extrema vulnerabilidade social e de escassez de água. Vimos, de forma bastante clara, que o setor minerário aprofunda uma economia neocolonial-extrativista degradadora, o que significa a intensificação de crimes e tragédias socioambientais. Como exemplo, citamos o abastecimento de água da Região Metropolitana de Belo Horizonte que está por um fio; o projeto de mineroduto da Chinesa SAM, na região semiárida, no Norte de Minas e Jequitinhonha. Essas são tragédias anunciadas.
Muito nos alegraram os sinais vindos das comunidades, as quais resistem, enfrentando as mineradoras. A vida pulsa nos territórios de resistência, de defesa da vida, do bem comum e do bem-viver, que apontam um novo e necessário caminho.
Reforçamos nosso compromisso com a defesa da vida e com o enfrentamento dos problemas vivenciados pelas comunidades atingidas e ameaçadas. Colocamo-nos como missionários de uma “Igreja em Saída”, assumindo-nos como guardiões e guardiãs da Casa Comum, em comunhão com a Encíclica Laudato Si e com o Sínodo da Amazônia.
João Monlevade, 18 de outubro de 2019.
CÁRITAS MG – CPT – CIMI – CPP – GT ECOLOGIA INTEGRAL E MINERAÇÃO DO REGIONAL LESTE II