Um grupo de trabalhadores rurais do Povoado Remanso, assentamento situado no município de Grajaú, no Maranhão, reivindica, desde o dia 29 de janeiro, que a Prefeitura Municipal encontre outro destino para depositar o lixo da cidade que não seja no território da comunidade. Os assentados e assentadas lutam para defender o último pedaço de terra que o latifúndio ainda não dominou.
(Fonte: CPT Maranhão | Imagem: Divulgação)
O local que há alguns meses vem sendo usado como depósito de lixo urbano é uma área de produção dos trabalhadores, que cultivam por meio de sistema de rotação de culturas, o que garante o período de repouso do solo. A área não fica distante das moradias, o que traz impactos à saúde das pessoas, ao solo e ao lençol freático.
A decisão da Administração Municipal de jogar o lixo nas proximidades do Povoado Remanso, segundo lideranças da comunidade, não levou em consideração a consulta aos assentados, estudos de impacto ambiental e outros procedimentos legais. O lixo passou a ser depositado na área da comunidade Remanso porque a população vizinha ao antigo lixão decidiu não permitir mais o descarte naquela localidade.
Desde o dia 29 de janeiro, trabalhadores do assentamento bloqueiam a estrada que dá acesso ao lixão. Na última sexta-feira, dia 02 de fevereiro, o juiz da Comarca de Grajaú expediu uma liminar a favor do município e contra os assentados. A ordem visava o desbloqueio da estrada e que os moradores do assentamento permitissem o depósito de lixo no local. Entretanto, os manifestantes resolveram não atender a ordem judicial.
Neste contexto, o agente da Comissão Pastoral da Terra no Maranhão (CPT-MA), Isaque de Sousa de Freitas, que reside na comunidade Remanso, e os trabalhadores relataram que receberam intimidações e ameaças de morte, sendo que o caso mais grave ocorreu com Isaque, que sofreu uma tentativa de assassinato na manhã de domingo, dia 04, por volta das 11h30, próximo à entrada da comunidade. Um homem, cujo nome seria Djalmi Rabelo, também morador do Povoado Remanso, e uma extensa ficha de antecedência criminal, tentou atropelar Isaque com uma moto, por razões ainda não esclarecidas. Neste momento, o agente da CPT correu para o acostamento da estrada, e acabou se chocando em uma bicicleta.
Em seguida, Djalmi Rabelo ameaçou Isaque de morte caso ele não parasse com o protesto dos moradores. O agente negou ser o responsável pela manifestação, mas o motociclista insistia em ameaçar Isaque: “tu quer morrer?”. O homem então desceu de sua moto, pegou uma faca, e perguntou novamente se Isaque queria morrer. Em seguida, Djalmi tentou feri-lo várias vezes. E as ameaças continuavam: “tu tem que parar com o movimento, senão tu vai morrer”.
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Em meio a isso, um carro com algumas pessoas parou no local, e um conhecido de Isaque também parou de moto. Essas pessoas presenciaram, por alguns minutos, o agente de pastoral ser ameaçado pelo motociclista. Djalmi então pegou sua moto e saiu em direção ao Povoado. Muito assustado, Isaque se sentou em um meio-fio e pediu a um amigo para levá-lo na delegacia da cidade. Porém, após cerca de 10 minutos, Djalmi Rabelo retornou com uma mochila nas costas e uma espingarda. Ele, novamente, reiterou as ameaças contra o agente. “Mandou que eu olhasse em seus olhos e apontou o dedo para mim dizendo: ‘tu está (sic) avisado né? Tá (sic) sabendo né?’’, relatou Isaque. Após as ameaças, o motociclista seguiu em direção à BR-226.
O agente da CPT, juntamente com uma testemunha, foi até a Delegacia de Grajaú e registrou um Boletim Ocorrência. Também foram até a polícia dois assentados do Remanso que haviam sido ameaçados por Rabelo, que, segundo as vítimas, esteve no local onde os manifestantes estão acampados há seis dias e os ameaçou de morte. O fato também ocorreu no dia 04 de fevereiro. Quantas às ameaças, a polícia informou que marcará uma audiência para ouvir Djalmi e as testemunhas. (Imagem acima mostra agente da CPT e trabalhadores ao realizarem Boletim de Ocorrência).