Nesta semana, entre os dias 07 e 09, uma comitiva composta por seis pessoas da Eslováquia e da Áustria visitou a Diocese de Ruy Barbosa, no estado da Bahia. O grupo passou pelas comunidades de Padre Cícero e Novo Horizonte – Lençóis, Nova Aliança e Rio Utinga – Andaraí e São Sebastião – Wagner. Comunidades que pertencem ao subsistema hídrico do Rio Utinga e que sofrem os impactos do colapso hídrico provocado pelo uso desordenado de água nas monoculturas de banana e mamão no vale do Rio.
(Por Claudio Dourado – Equipe CPT Ruy Barbosa, na Bahia)
A população dessa região sabe da importância desse rio para a sobrevivência e teme prejuízos socioeconômicos e ambientais ainda maiores, já que esse subsistema hídrico carece de um plano de longo prazo, que necessita, segundo a Lei das Águas (nº 9433), de um diagnóstico da situação atual; de uma análise de alternativas de crescimento demográfico, da evolução de atividades produtivas; do balanço entre disponibilidades e demandas em quantidade e qualidade dos recursos hídricos; e das metas de racionalização de uso da água.
Os visitantes ficaram admirados com a relação do povo com o Rio Utinga. As comunidades utilizam suas águas para a produção, mas, além disso, esse bem natural é parte intrínseca da identidade do camponês e da camponesa, uma afinidade que define o modo de vida do povo ribeirinho. Para o Padre Ivan Sulik, da Eslováquia, essa foi uma experiência nova e diferenciada. Os problemas causados nesse rio, conforme ele, indiretamente são problemas de toda a humanidade e a luta para a conservação contribui também para o equilíbrio global.
Uma das entidades parceiras da Diocese de Ruy Barbosa que estava presente é a DKA (Katholische Jungschar), oriunda da Áustria, que contribui com a Campanha de Conservação da Bacia Hidrográfica do Paraguaçu. Para Dom André De Witte, bispo da Diocese de Ruy Barbosa e vice-presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), o excesso de retirada de água para irrigação exige uma posição da Igreja, por isso a importância dessa Campanha promovida pelas Pastorais do Campo e movimentos sociais.
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O colapso hídrico da Bacia Hidrográfica do Rio Paraguaçu e o eminente conflito entre os usuários
Martina Grochalova, integrante da caravana e jornalista, saiu disposta a escrever um artigo sobre a problemática da água na região para dar visibilidade à luta do povo em outras partes do mundo. Ela percebeu ainda o grande desafio que a Campanha tem que enfrentar, mas observou no entusiasmo do povo uma esperança de dias melhores. “Aqui a Igreja vive com e perto do povo, na Eslováquia a vida da Igreja é separada”, disse ela. Para Donica Olexava isso é uma novidade que encoraja.
Mesmo tendo garantido em lei a proteção dos recursos hídricos (Lei das Águas – Artigo 07), há a necessidade de medidas, programas e projetos de recuperação e manutenção, as prioridades para outorga e a necessidade de criação de áreas sujeitas à restrição de uso. Percebe-se, por outro lado, o Estado muito dependente e refém do agronegócio, que utiliza e esgota todos os recursos naturais e migra para outras áreas ainda preservadas, expandindo as fronteiras agrícolas e os conflitos sempre com o aval do Estado – representado pela bancada ruralista –, em detrimento da pequena agricultura, que produz alimentos, protege a natureza e muitas vezes tem que conviver com os estragos e prejuízos socioeconômicos e ambientais.