Em menos de quinze dias, o estado de Rondônia, através de sua Polícia, efetivou atos de violência por duas vezes contra as mesmas famílias, nos dias 14 e 25 de novembro de 2017.
(Fonte: CPT Rondônia | Imagem: Blog do Caldeira/Reprodução)
Os trabalhadores e trabalhadoras, vítimas da violência, pertencem ao Acampamento Boa Sorte – local onde sofreram uma reintegração de posse no dia 14 de novembro –, área destinada à reforma agrária. Após o despejo, as famílias foram colocadas no Ginásio de Esportes da cidade de Candeias do Jamari.
As famílias ficaram por dez dias no ginásio, depois conseguiram um comodato com um agricultor do Assentamento Flor do Amazonas, numa região próxima ao antigo acampamento. Como se não bastasse o despejo, enquanto montavam o novo acampamento no sábado, dia 25 de novembro, as famílias foram surpreendidas, primeiramente pela Polícia Ambiental e em seguida pela Polícia Militar. Dez pessoas foram detidas e outras foram agredidas pelos policiais, que utilizaram cassetetes e balas de borracha, ferindo diversas pessoas.
Segundo testemunhas, primeiro uma equipe da Polícia Militar Ambiental formada por três agentes, sendo dois homens e uma mulher, entrou no local e prendeu motosserras, facões, foices, enxadões e outras ferramentas usadas para construção dos barracos, e até mesmo as facas da cozinha comunitária do acampamento. Os agentes tentaram deter duas pessoas, o que deixou os acampados e acampadas revoltados/as, e foram impedidos pelas mulheres do acampamento. Os trabalhadores afirmam que os policiais gritavam com os acampados com palavras ofensivas, no intuito de descobrir quem eram os líderes, mas a resposta obtida era sempre: "O povo é líder!", o que irritava ainda mais os agentes.
Não satisfeitos com a resposta dos acampados, os policiais prometeram voltar, o que fizeram em pouco mais de uma hora e meia, com cinco viaturas e cerca de 20 agentes. Segundo os relatos, os policiais chegaram gritando e exigindo que os acampados se retirassem da área, sem ter apresentado nenhum documento legal. Diziam que um fazendeiro havia denunciado "invasão de mais uma área por um bando de ‘vagabundos”’.
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Ainda conforme os membros do acampamento, um policial atingiu uma mulher com um soco no rosto, quando ela exigiu respeito e disse aos policiais que eles não eram vagabundos. Então foram jogadas bombas de efeito moral, assustando ainda mais as crianças e mulheres grávidas. Houve muita correria, já que os policiais queriam destruir os barracos, e conseguiram ainda rasgar a lona de alguns. Muitos acampados, homens, mulheres e, inclusive, crianças, foram agredidos com cassetetes e feridos com balas de borracha. Os policiais somente se retiraram quando apareceu o dono da área, que apresentou o documento da terra e confirmou ter autorizado o grupo acampar em seu lote. Uma pessoa com problemas cardíacos passou mal e teve dificuldade para ser atendida. O dono do lote que autorizou a instalação do acampamento tem recebido ameaças.
Dez pessoas foram detidas, a maioria com diversas agressões e feridas, que foram levadas para delegacia, onde foram atendidas por advogados populares, sem que fosse lavrada nenhuma acusação de flagrante. Segundo os acampados, foram examinados e realizado corpo de delito, por causa das lesões recebidas da polícia. Conforme relatos dos detidos, já soltos, os policiais, no trajeto de mais de 59 quilômetros, entre os municípios de Candeias do Jamari e Porto Velho, conduziam em alta velocidade e aceleravam nos quebra-molas.
No dia 15 de outubro, camponeses que estavam a caminho do Rio Preto para pescar foram atacados por um grupo armado – foram muitos disparos de pistola e armas de grosso calibre -, denunciaram os acampados. Além destes fatos, os acampados também afirmam que seis policiais militares, três de Candeias e três de Porto Velho, fazem parte das milícias de pistoleiros que realizam vigilância privada clandestina na fazenda, e teriam informações que recebem R$ 150,00 por dia e outra quantidade por noite de vigilância.