Cerca de 250 pessoas, entre estudantes, professores e militantes de movimentos e organizações sociais, saíram às ruas de Marabá, no Pará, no dia 25 de maio, ao final da tarde, para denunciar e protestar contra as autoridades policiais responsáveis pelo Massacre de Pau D’arco, a 350 km dali, que vitimou 10 camponeses sem terra no dia 24.
(Por Ruben Siqueira - Coordenação Nacional da CPT | Imagens: CPT Pará)
Ao saberem que cinco das vítimas estavam no Centro de Perícias Científicas, em Marabá, interromperam um seminário sobre recursos hídricos e desenvolvimento da Amazônia, que se realizava no campus da Universidade Federal, e para lá se dirigiram, também para exigir que o Estado cuidasse de levar os corpos em condições de serem velados e sepultados dignamente por seus familiares.
No início do ato, jovens encenaram uma matança de camponeses que trabalhavam a terra, simulando sua ressurreição pela luta de suas organizações representativas e de todos: “Mataram mais 10 irmãos, mas eles ressuscitarão, ressuscitarão... e o povo não esquecerá...”. Depois, seguiram pelas avenidas, interrompendo o tráfego sem ajuda da polícia, portando cruzes negras, flores amarelas, velas brancas, fotos dos mortos no massacre e estandartes dos mártires da luta pela terra, da qual a região paraense é a trágica campeã histórica.
Cerca de dois quilômetros após, à frente do Centro de Perícia, o sol já se pondo, os manifestantes em círculo, os objetos foram postos na calçada e as velas acesas com muita emoção. Foi declamado o poema de Pedro Tierra, “Pedagogia dos aços”, feito à vista do Massacre de Eldorado dos Carajás, de 19 sem-terra, em 1996, há 21 anos: “O sonho vale uma vida? Não sei. Mas aprendi da escassa vida que gastei: a morte não sonha. (...) Se calarem, as pedras gritarão”.
Soube-se que os corpos tinham sido levados para Redenção meia hora antes. Seguiram-se falas indignadas contra a violência de sempre no campo, mas em crescimento assustador nos últimos meses, reflexo dos golpes, desmandos políticos e retrocessos sociais que vive o país. Com estes 10, já foram 37 pessoas assassinadas no campo nestes primeiros cinco meses do ano. Além disso, há ainda mais seis casos de mortes sendo investigados, o que triplicaria – em relação a igual período do ano passado – o número de camponeses, quilombolas e indígenas matados em busca ou na defesa de suas terras e bases de vida.
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Foram lembrados os massacrados de Colniza, Mato Grosso, em 20 de abril, o ataque ao Povo Gamela, no Maranhão, em 30 de abril – um massacre de camponeses por mês. E que o de Pau d’Arco é o maior desde o de Eldorado, em 1996, não muito longe dali. À proclamação dos nomes dos 10 assassinados, todos gritavam “presente, presente, presente”. E a lista histórica e infindável de matados na luta do campo, foi sendo recordada, eles e elas de novo e sempre presentes.
Antes de o ato ser encerrado com oração do Pai-Nosso rezada de mãos dadas, foram rememoradas as razões de alguns mártires: “Melhor morrer na luta que morrer de fome“ (Margarida Maria Alves, PB, 1983), “Onde nóis derrama o suor, nóis derrama o sangue” (Zacarias José dos Santos, BA, 1985) e “Nem o medo me detém. É hora de assumir. Morro por uma causa justa” (Pe. Josimo de Moraes Tavares, TO, 1986). Serviram de alento, encorajamento e esperança. “Nenhum minuto de silêncio, uma vida toda de luta!” Com este compromisso, voltaram-se todos para suas lidas e lutas, o seminário sendo retomado na universidade.