Ano novo, porém de conflitos agrários que têm atravessado os anos. Famílias de posseiros no sul do Amazonas convivem, desde dezembro do ano passado, com incertezas em relação ao lugar onde moram. No final de 2016, a juíza Joana dos Santos Meirelles assinou cinco mandados de reintegração/manutenção de posse referentes ao município de Boca do Acre, no Amazonas. Os conflitos agrários na região, contudo, se intensificaram.
(Fonte/Imagem: CPT Acre)
Nestas terras há de tudo: áreas particulares, da União, áreas não identificadas e por aí segue. As famílias também são diversas. Existem famílias de posseiros que moram há bastante tempo nas áreas, outras que ocupam as terras há cinco anos, e algumas que chegaram ao lugar recentemente. Cinco reintegrações de posse em uma semana em Boca do Acre. Percebe-se que o estado está realmente priorizando a retirada das famílias, através de megaoperações.
A primeira reintegração de posse aconteceu em parte do Seringal Novo Axioma – Fazenda Rio Negro, Ramal do 104 -, a segunda foi em área da fazenda Palotina, Seringal Novo Natal, e a terceira na área de Arnaldo Barbosa, posteriormente na área de Ezequiel Antônio de Souza. Por último foram despejadas famílias de terras do pretenso proprietário Francisco Telles Neto.
Após várias denúncias, a Polícia Militar promoveu uma reunião para discutir e planejar as reintegrações. Uma equipe muito bem montada e aparelhada está realizando a retirada das famílias. Mesmo debaixo de fortes chuvas a operação está acontecendo.
Para aumentar o clima conflitivo, na mesa da juíza estão ainda mais oito processos para serem assinados.
O presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas (TJ-AM), desembargador Ari Moutinho, afirmou que vai coibir qualquer invasão de terras em fazendas produtivas no interior do estado. A afirmação é contraditória. As áreas realmente são produtivas, pois quem está produzindo é quem está vivendo na terra, que são os posseiros.
Em entrevista aos veículos locais de comunicação, o deputado estadual Adjuto Afonso (PDT) afirmou que a ocupação é irregular, e que vem causando intranquilidade e insegurança jurídica aos produtores rurais e pecuaristas da região do Purus. “Não podemos permitir que essas áreas sejam invadidas, muitas vezes, por pessoas de outros estados, acreditando que vão conseguir se estabelecer naquela região”, disse.
A Comissão Pastoral da Terra (CPT) constantemente tem denunciando e tentado mediar a situação de conflitos na região, para que não haja ainda mais violência. São famílias que estão sendo criminalizadas, presas, e ameaçadas.
Nos últimos tempos, em Boca do Acre, o que tem acontecido é a negação de direitos e de vida digna dos povos e comunidades das águas, do campo e das florestas.