Era madrugada e dois jornalistas conversavam sobre mídia num aeroporto do Nordeste. Um era estrangeiro e outro brasileiro, ambos de um grande jornal internacional com extensão no Brasil.
(Por Roberto Malvezzi, Gogó* | Imagem: Reprodução UFJF)
O brasileiro – pela conversa era fotógrafo – pergunta ao estrangeiro como está a imagem do Brasil no país dele depois do golpe. O estrangeiro repete que está pior do que era antes. Mas, ressalta que notícias sobre o Brasil pouco aparecem no seu país de origem. Porém, continua dizendo que o Brasil, surpreendentemente, é o segundo mercado no mundo do jornal que ele representa. Esperavam que esse lugar fosse ocupado pela Argentina ou México, mas, aconteceu aqui, com uma equipe reduzida que ele começa a comentar com o fotógrafo.
A conversa prossegue e o brasileiro pergunta qual seria a razão dessa expansão justamente no Brasil. O estrangeiro, sem titubear, diz que a mídia tradicional brasileira é muito parcial, particularmente depois de apoiar o golpe, e o público procura por um jornalismo decente.
O brasileiro retruca que também há muita parcialidade no que os blogueiros de esquerda publicam. A conclusão de ambos é que não há jornalismo isento no Brasil.
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Na verdade, nenhum jornalismo é totalmente isento. Depende da posição fundamental do jornal. Entretanto, a mídia corporativa no Brasil anda insuportável e o jornalismo chapa branca de esquerda também não contribui. Mesmo tendo posição clara diante da situação brasileira, é possível um jornalismo pelo menos mais ético. Há exceções para jornalistas de todos os meios e algumas mídias alternativas.
Então, em outras palavras, o estrangeiro disse essa frase: “nossa estratégia é continuar crescendo no vazio ético da mídia brasileira, simplesmente fazendo jornalismo”.
* Atua na Comissão Pastoral da Terra (CPT) e no Conselho Pastoral dos Pescadores na região do São Francisco. Articulista do Portal EcoDebate, e possui formação em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais.