Num clima de fé e esperança, os/as participantes da Missão Ecumênica pelas Águas do Cerrado da Bahia: “Das nascentes ao São Francisco, águas para a vida! ”, vivenciaram no último sábado, dia 05, um momento especial de mística, solidariedade e espiritualidade.
Fonte: CESE / Imagens: Thomas Bauer - CPT Bahia
Assim como as águas se juntam para se tornarem grandes rios, os missioneiros/as de representações de designações religiosas distintas (católicos/as, protestantes, candomblecistas, lideranças religiosas das populações tradicionais, entre outras confissões de fé) se uniram no Ginásio de Correntina (BA), com o único propósito: “a defesa da vida”.
A iniciativa foi mais uma ação da missão que teve como objetivo unir vozes proféticas, denunciar as situações de violações de direitos, e levar uma mensagem de esperança para as comunidades e povos tradicionais do Cerrado.
Para Ana Gualberto, assessora de Koinonia Presença Ecumênica e representante das religiões de matrizes africanas na missão, o tema da defesa das águas e das vidas dos povos se afina com o valor ambiental, cultural e espiritual do Candomblé: “A água é símbolo de todas as religiões. Eu sou uma mulher de Oxum, que é a dona das águas doces. E minha mãe está muito triste e preocupada com toda essa situação”. E completa: “É de extrema importância que nós estejamos juntos/as, enquanto toda forma de religiosidade e com a sociedade civil, para que possamos nos expressar contra todas as formas de opressão. É impossível pensar nossa vida sem as águas, sem pensar na proteção na vida das pessoas e do meio ambiente”.
Durante a celebração foram apresentadas uma esquete sobre as violações contra a mãe natureza, produzida pelos/as estudantes da Escola Anísia; a Cruz Geraizeira, símbolo das Romarias do Cerrado e da peregrinação dos povos, confeccionada por um grupo da Comunidade de Salto, do município de Correntina (BA); Depoimentos de pessoas das comunidades visitadas (Barreiras, São Desidério, Formosa do Rio Preto, Serra Dourada e Correntina); e estandartes representando a caminhada de pessoas que deixaram suas marcas e tombaram na luta (Eugênio Lyra, Zeca da Rosa, Isaias Cândido, Juvencina Barreto, Pe. André Berenos, Marilene Matos, Chico de Tomé e Maria de Lara).
Entre cânticos, salmos e orações, as autoridades religiosas que estavam em missão deram testemunhos dos clamores ouvidos e relataram os anseios por justiça e paz. Houve partilha de fé e esperança, intercalando passagens bíblicas relacionadas aos mártires do Cerrado e do seu povo – Êxodo 3.7, 9 e 10; Tiago 5, 1-8; e Mt 5, 1-12.
Na sequência, o ofertório das potencialidades do Cerrado foi distribuído ao público. Os/as participantes puderam apreciar não só as bandeiras de lutas dos movimentos e organizações presentes, mas também os alimentos da agricultura camponesa como beiju, rapadura e melaço.
“Umas das formas de resistências dos povos do Cerrado é a sua riqueza na produção de alimentos, orientada por uma agricultura com garantia de autonomia e comida saudável para toda população. Além disso, ofertamos também nossas bandeiras de lutas, nossas forças e nossas condutas”, pontuou Albetânia Santos, da Comissão Pastoral da Terra (CPT).
Cumprindo como prática de apresentar um documento oficial ao final de cada Missão Ecumênica, a celebração foi encerrada com a leitura da carta de compromisso das igrejas e dos organismos ecumênicos com as comunidades e povos originários da habitam a região oeste da Bahia.
Após a celebração, os/as participantes seguiram em caminhada pelas ruas de Correntina. Segurando faixas, cartazes e potes barro com água, os/as manifestantes chamavam atenção para o modelo de produção do agronegócio que grila territórios, seca rios, mata o Cerrado e expropria populações.
Esse ato é fruto de várias ações que as comunidades locais têm realizado nos últimos anos no município em defesa do bioma e pelos rios da região do Corrente. “Estamos ocupando as ruas também para agradecer por tudo que nós temos no Cerrado, que é a nossa sobrevivência. Sem o nosso Cerrado, nós não temos condições de lutar”, afirmou uma das guardiães do bioma.
Ao final da mobilização, movimentos sociais, organizações populares, comunidades e povos tradicionais, estudante e moradores/as abraçaram o Rio Corrente em um gesto de respeito e gratidão. “São Francisco Vive! Terra, Água, Rio e Povo”.
Missão Ecumênica – Oeste baiano
Com realização do Fórum Ecumênico ACT Brasil e sob coordenação da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), a Missão Ecumênica pelas Águas dos Cerrados da Bahia no oeste do estado contou com as seguintes parcerias: Comissão Pastoral da Terra - CPT; Instituto Padre André; Coletivo dos Fundos e Fechos de Pasto do Oeste da Bahia; Associação de Advogados/as de Trabalhadores/as Rurais – AATR; Pastoral da Juventude do Meio Popular – PJMP; Pastoral do Meio Ambiente – PMA; Agência 10envolvimento; Movimento de Atingidos por Barragem - MAB; Escola Família Agrícola Pe. André – EFAPA; Movimento de Mulheres Unidas na Caminhada - MMUC; Conselho Indigenista Missionário – CIMI; Campanha Nacional em Defesa do Cerrado: Sem Cerrado, Sem Água, Sem Vida; koinonia – Presença Ecumênica; Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil – CONIC; Fundação de Desenvolvimento Integrado do São Francisco - FUNDIFRAN; Associação Ambientalista Corrente Verde; Processo de Articulação e Diálogo - PAD; ACEFARCA, Articulação no Semiárido Brasileiro – ASA, Cáritas Regional Nordeste 3 e Ministério Público da Bahia.
A ação foi apoiada pelas agências internacionais HEKS/EPER; Christian Aid; Brot für die Welt e Misereor.