A segunda edição do Seminário Matopiba é resultado da parceria entre movimentos e organizações populares do campo piauiense com a Universidade Federal do Piauí (UFPI).
(Por Elvis Marques - Assessoria de Comunicação da CPT Nacional | Imagem: Thomas Bauer - CPT Bahia)
Após quatro anos da primeira edição, começa amanhã, dia 14, o II Seminário Matopiba “Perspectivas Populares”, que será realizado até o dia 16 de fevereiro no Campus Professora Cinobelina Elvas da UFPI, no município de Bom Jesus, distante 635 quilômetros da capital Teresina.
Organizado pela Comissão Pastoral da Terra no Piauí (CPT-PI), Rede Social de Justiça e Direitos Humanos, e Núcleo de Agroecologia do Vale do Gurguéia (NAGU) da UFPI, o encontro espera reunir cerca de 250 pessoas vindas das comunidades piauienses, estudantes e membros da instituição federal de ensino, assim como integrantes de movimentos e organizações do campo. Também participam do Seminário representantes da Defensoria Pública da União, o juiz da Vara Agrária do Estado, e membros do Governo do Estado.
“Esperamos que o evento seja um espaço de partilha dos povos e comunidades tradicionais do Piauí, e também de denuncia das violações que estas pessoas estão sofrendo no Matopiba”, pontua Franzé Rocha, agente da CPT, que acrescenta ainda: “A nossa ideia é discutir o projeto do Matopiba a partir da visão das comunidades, como foi no primeiro evento”.
Na programação, além dos estudos sobre o Matopiba, ocorrerá apresentações culturais, partilha de experiências do povo que vive no campo e uma feira.
Esse evento é apoiado pela Cáritas Piauí, Federação dos Agricultores Familiares do Estado do Piauí (FAF-PI), FIAN Internacional, Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Estado do Piauí (FETAG-PI), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), Obra Kolping, Cooperativa de Produção e Serviços de Técnicos Agrícolas do Piauí (Cootapi) e Associados, Coletivo Antônia Flor, Movimento Indígena do Piauí, e Coletivo dos Povos e Comunidades do Cerrado do Piauí.
O que é o Matopiba?
O Plano de Desenvolvimento Agropecuário (PDA) do Matopiba foi criado oficialmente em 6 maio de 2015 pela ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) e pela ex-ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Kátia Abreu, com o objetivo de “promover e coordenar políticas públicas voltadas ao desenvolvimento econômico sustentável fundado nas atividades agrícolas e pecuárias que resultem na melhoria da qualidade de vida da população”, justificava o texto do decreto presidencial 8.447.
O PDA envolve todo o estado do Tocantins, e parte dos estados do Maranhão, Piauí, e Bahia – a sigla Matopiba vem das iniciais dessas quatro unidades da federação brasileira. Cerca de 90% da área delimitada para esse projeto faz parte do bioma Cerrado.
SAIBA MAIS: Relatório Matopiba: quais os custos ambientais e sociais do negócio de terras?
Nota Pública: No Cerrado piauiense, comunidades sofrem violências e perdem seus territórios
Missão investiga o envolvimento do dinheiro europeu na apropriação de terras no MATOPIBA
Terra, regularização fundiária, e mercado financeiro norteiam formação de agentes da CPT
No segundo semestre de 2018, quase quatro anos após a criação do PDA, um estudo apoiado pelo Greenpeace mostrou, em números, o que diversas organizações, pastorais, movimentos sociais e as próprias comunidades do campo estavam cansadas de denunciar: 58% dos municípios presentes no Matopiba continuam pobres, com produção e qualidade de vida piores do que a média de seus estados.
Conforme o relatório Segure a Linha: A Expansão do Agronegócio e a Disputa pelo Cerrado, somente em 45 dos 337 municípios do Matopiba os indicadores de produção e de bem estar superam a média dos respectivos estados. A grande maioria está na situação oposta: 196 municípios continuam pobres, com produção e qualidade de vida piores do que a média estadual.
Para o site do Greenpeace, o autor da análise, o sociólogo e doutor em Ciência Ambiental, professor Arilson Favareto, da Universidade Federal do ABC, disse que “o estudo mostra que há muito mais pobreza e desigualdade do que riqueza e bem estar nesta região que é apresentada como modelo de sucesso pelo agronegócio”.
Confira o documentário sobre o Matopiba produzido pela Goose Audiovisual e Comissão Pastoral da Terra (CPT) Regional Araguaia-Tocantins: