Sertão Serrado, curta de 30 minutos, abriu a Mostra de Lançamento Nacional da 18º edição do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA), que ocorre anualmente na Cidade de Goiás, antiga capital do estado de Goiás. "Junto à Campanha em Defesa do Cerrado, esse documentário é mais um método de conscientização", destaca Dagmar Talga, diretora da produção.
(Por Elvis Marques, CPT e Coletivo de Comunicação do Cerrado)
O filme é uma produção da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e da Essá Filmes, com apoio da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE) e do Gwatá - Núcleo de Agroecologia e Educação no Campo da Universidade Estadual de Goiás (UEG).
Mas a Campanha que Dagmar se refere foi lançada, também durante o festival, no último dia 17, e tem como tema "Cerrado, berço das águas: Sem Cerrado, Sem Água, Sem Vida". O documentário, iniciado em 2015, integra a Campanha.
(Em breve o documentário estará disponível nos meios de comunicação da CPT e da Campanha do Cerrado).
Participaram da mesa de debates, após o lançamento da produção, o indígena Antônio Apinajé, o ator Eduardo Tornaghi e Isolete Wichinieski, da CPT - uma das organizações que compõe a Campanha em Defesa do Cerrado, são 36 até o momento.
"Eu acabei de ver o filme e estou impactado com as cenas e os discursos", disse, no início do debate, Eduardo Tornaghi, que contribuiu com a narração do documentário. "É a minha praia", brincou ele, que é um dos artistas do Movimento Humanos Direitos (MHuD). "Cada ser humano tem de se colocar dentro disso [na luta pela vida e meio ambiente], não só porque é nossa vida que está em jogo. É a nossa alma", afirmou.
Certamente não foi apenas Tornaghi que ficou indignado ao ver as cenas de conflitos e de destruição do Cerrado. No vídeo há fortes depoimentos de gente que vive no Cerrado, assim como imagens marcantes - tratores, em dado momento, usam fortes correntes para derrubar as árvores do Cerrado.
Pedro, indígena Guarani Kaiowá, denuncia os ataques promovidos por fazendeiros e pistoleiros contra o seu povo, além da matança de índios. Ele mesmo carrega as marcas de bala no corpo. Ivanilde, assentada em Goiás, destaca como seu assentamento tem sofrido com as pulverizações aéreas de agrotóxico. "Muitas pessoas estão com câncer, inclusive eu", conta. "Mas o que podemos fazer? Se ficar o bicho pega e se correr o bicho come", desabafa.
Para Dagmar, esse vídeo é uma importante ferramenta de informação e denuncia. "O documentário trata da destruição do bioma, da dizimação dos povos tradicionais, que são as pessoas que protegem o meio ambiente e que precisam da floresta para sobreviver. Ele [o documentário] tem um papel de informação, que a grande mídia não faz hoje", avalia.
SAIBA MAIS: Campanha em Defesa do Cerrado é lançada na Cidade de Goiás durante o FICA
"Eu, aqui na Cidade de Goiás, quero lembrar Dom Tomás Balduino e falar de esperança. Um dia ele falou 'A esperança não é a última que morre. A esperança é a única que nunca morre'', lembrou, durante debate, Antônio Apinajé. "Mas eu quero denunciar hoje que os indígenas e as comunidades tradicionais estão sob um fogo pesado dos poderosos. Isso vem do Congresso Nacional, do agronegócio, dos políticos, empresários", denuncia. Ao fim Antônio questiona: "Eu tenho minha família, meus filhos, meus netos, e fico pensando que futuro eles terão diante de toda essa destruição".
Informações técnicas
País: Brasil
Duração: 30 minutos
Sinopse: O filme integra a Campanha Nacional em Defesa do Cerrado "Cerrado, berço das águas: Sem Cerrado, Sem Água, Sem Vida", retratando o Cerrado brasileiro e a resistência dos povos tradicionais e originários, além dos conflitos agrários, o avanço da monocultura intensiva de grãos, a pecuária extensiva e os grandes empreendimentos hidrográficos e minerais. Diante do intenso processo de degradação dos bens naturais do Cerrado, o filme indica também, a partir dos conhecimentos científicos e populares, caminhos para a conservação deste bioma, especialmente da água, e para a construção de uma nova relação do povo que o habita.